domingo, 30 de junho de 2013

ONG resgata cem cães caçados em ilha de Marajó
Animais foram resgatados de barco após passarem 15 dias sem comida
Investigação do Ministério Público revelou que prefeitura pagava R$5 por cachorro que 'sumisse' da cidade
JONES SANTOS - FSP
Depois de serem caçados, abandonados e enfrentarem quase duas semanas de fome no arquipélago do Marajó, no Pará, um grupo de 104 cães foi resgatado há cerca de 15 dias e levado às pressas a um abrigo de animais em Belém.
Os cães sobreviveram a uma caçada patrocinada pela Prefeitura de Santa Cruz do Arari, segundo investigação do Ministério Público. O objetivo da medida seria contribuir com a limpeza da cidade.
A prefeitura daria uma recompensa de R$ 5 a cada cachorro que "sumisse". O prêmio por cadelas era R$ 10.
Imagens de dezenas de animais capturados, amarrados e levados à zona rural da cidade ganharam destaque na imprensa local e nacional. O prefeito foi afastado do cargo, a pedido dos promotores.
Dezenas de cães, segundo os moradores, morreram afogados ou de fome. Os 104 sobreviventes, porém, conseguiram refúgio numa área de população ribeirinha e mata cerrada, a 6 km da área urbana.
O resgate chegou duas semanas depois. Com a ajuda de um barco alugado, integrantes de uma ONG encontraram um cenário desolador de cães magricelos e com sinais de maus-tratos.
Na ilha, os animais ganharam um punhado emergencial de ração antes da viagem de 15 horas até a capital, onde foram vacinados, examinados e medicados.
"Os ribeirinhos são pobres e não tinham como alimentá-los. Eles iam todos morrer de fome", diz Raquel Viana, dona do abrigo em Belém.
Dos cães resgatados, um morreu e outros quatro seguem internados em clínicas veterinárias.
Entre os acolhidos, "Vovô" é quem mais precisa de cuidados. Quase cego e sem os dentes, precisa ser alimentado com líquidos diretamente na boca.
"Ele é um vovô, mas, quando pego ele pra dar comida, é o meu bebê", diz a engenheira civil Marilete Sampaio, que há seis anos largou a profissão para dedicar-se ao trabalho com animais.
Antes mantido exclusivamente com recursos próprios, o abrigo tem recebido doações após a repercussão do caso. Uma fabricante doou duas toneladas de ração.
O abrigo também recebeu medicamentos, produtos de limpeza e até jornais velhos, para forrar o local em que os animais estão abrigados.
PORQUINHO
Além dos cães a ONG também resgatou um porco, apelidado de "Ozzy" --referência ao roqueiro Ozzy Osbourne. O suíno também trazia ferimentos nas patas.
"Eu nunca imaginei como seria criar um porquinho, mas ele é tão fofo. É carinhoso, gosta de carinho na barriga. Não tem como não se apaixonar por ele", afirma Raquel, a dona do abrigo.
Ela ainda não sabe se "Ozzy" é macho ou fêmea nem como ele se juntou aos cães resgatados e embarcou.
A Prefeitura de Santa Cruz do Arari confirmou ter estimulado a população a levar os cachorros da zona urbana para a zona rural, mas informou que não pediu para que os animais fossem agredidos ou exterminados.

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