As campeãs nacionais da corrupção
Vinicius Torres Freire - FSP
Os irmãos Batista e sua JBS foram uma grande novidade no mundo das
maiores empresas brasileiras deste século, um time em que mudam mais as
camisas do que os jogadores. Apesar do histórico muito mais longo e
notório, a Odebrecht também fez carreira rápida.
Cresceram de modo acelerado porque eram corruptas ou eram corruptas
porque cresceram de modo acelerado? Difícil responder, mas há elementos
para especulações razoáveis.
No começo do século, a JBS/Friboi chegava ao grupo das 400 maiores. Em
meados da década de 2000, subia para a primeira divisão, o grupo das 50
maiores.
Em 2014, superou a Vale, tornando-se a segunda maior companhia, em
receita líquida. A Odebrecht passou da rabeira da primeira divisão para o
sétimo lugar em cerca de uma década.
Embora não seja fácil imaginar crimes que superem os feitos de JBS e
Odebrecht, quantas empresas da primeira divisão teriam restos a pagar
nos tribunais?
Algumas outras grandes foram apanhadas em operações diversas da Polícia
Federal desde 2014, mas a bandalheira sabida até agora não foi tão
longe. Oito têm a ficha suja.
Neste século, não mudou muito a composição do grupo das 50 maiores, se consideradas fusões e aquisições.
Em um período que se pode chamar de "meia geração", os 16 anos de 2001 a
2016, apenas uma meia dúzia de empresas caiu de divisão (contas feitas
com base nos rankings "Valor 1000", algo adaptados por este jornalista).
Um tanto curioso, nesse período pouco mudou o tamanho relativo das 500
maiores (em relação ao tamanho da economia; umas em relação às outras).
Houve troca de lugares no grupo de elite. Empresas de petróleo,
alimentos e varejo subiram, empurrando para baixo fabricantes de
veículos, indústrias e elétricas, pincelada do que foi a história
econômica do período.
A Marfrig, por exemplo, teve ascensão quase tão fulgurante quanto sua companheira de ramo.
Difícil dizer que Odebrecht e JBS fossem incompetentes (em operações
mais estritamente empresariais), nem era isso o que diziam seus pares de
mercado e analistas, ao menos antes das evidências escandalosas ou
definitivas de gangsterismo.
Como também é notório, JBS e Odebrecht subiram pelas tabelas com a
contribuição milionária de todos os erros e mutretas dos governos
petistas, por meio de negócios com dinheiro público, embora várias
outras empresas tenham recebido grossos subsídios, em particular depois
de 2008.
Algumas empresas da elite até escaparam da morte na crise de 2008 com
ajuda do governo, que financiou fusões e aquisições a fim de evitar a
falência de firmas metidas em especulação financeira de incompetência
criminosa (caso de frigoríficos, de empresas de papel e celulose e
bancos).
A maioria da tropa de elite, uns 80%, parece ter um comportamento mais
discreto (Petrobras, a número um, e Eletrobras, entre as dez mais, são
casos à parte).
A maioria dessas empresas está no topo pelo menos desde o início do
século; as mais novatas surgiram há mais de 30 anos, em geral muito
mais. Um terço é multinacional com controle estrangeiro.
Com exceção da também notória Oi, nenhuma delas teve negócios tão íntimos com o Estado quanto Odebrecht e JBS.
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