quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Com o avanço da direita, era inevitável o surgimento dos oportunistas e picaretas 
Rodrigo  Constantino
Estou nessa luta há décadas, desde os tempos de Orkut, debatendo em comunidades com esquerdistas, atacando o PT, mostrando a alternativa liberal. Já criticava Lula quando isso não era moda nem fácil, uma vez que o homem contava com amplo poder e um exército de vagabundos pagos na imprensa e nas redes sociais para defendê-lo. Dizíamos, então, que os liberais enchiam uma Kombi, e nada mais.
Os tempos mudaram. O liberalismo em particular e a direita em geral cresceram muito, conquistaram espaços. Há partidos novos com viés mais liberal, inúmeros institutos foram criados (o Instituto Liberal, do qual sou presidente do Conselho, foi fundado nos anos 1980), e diversos blogs surgiram. São os tais ventos de mudança, que alimentam minha esperança no Brasil melhor.
Mas claro que com tanto avanço seria inevitável o surgimento dos oportunistas e picaretas, interessados apenas em surfar a onda. Esses são perigosos para o movimento liberal, pois mancham sua reputação. Daí o perigo de focar mais em pessoas do que nos valores e princípios. Corre-se o risco do personalismo, e com ele da decepção, sem falar do tribalismo depois (proteger quem não merece proteção, só porque “é um dos nossos”).
Trago um exemplo concreto com pesar, para deixar claro o meu ponto. Meu xará Rodrigo Simonsen, que me acompanha desde os tempos de Orkut, resolveu criar uma editora nova para aproveitar esse crescimento da direita. Para ajudá-lo, resolvi publicar meu primeiro livro de ficção, Panaceia, por sua editora, com o aval da Record. É o livro do conhecido personagem Otávio de Ramalho.
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Não foi só isso. Levei para sua editora, também, meu amigo João Cesar de Melo, artista plástico e articulista do Instituto Liberal. Ele escreveu um excelente livro de ficção, uma distopia com incrível semelhança ao Brasil lulista, chamado Comunidade Progresso. Fui o autor do prefácio, e Simonsen concordou em abraçar o projeto.
Um esforço de crowdfunding foi feito, no qual João conseguiu levantar mais de R$ 10 mil, entregues ao editor. Pois bem: meu xará simplesmente sumiu, desapareceu, escafedeu-se! Após realizar um evento de TEDx em Espírito Santo – talvez com os recursos do livro de João? – nunca mais deu as caras, nem prestou contas. Foi o mesmo com meu livro, com a diferença de que não coloquei dinheiro. Mas jamais recebi uma só prestação de contas. Cheguei a mandar essa mensagem em junho para ele:
Rodrigo, te mandei mensagem ontem por Facebook e nada. Estou bastante incomodado com a postura da editora. Não tenho feedback algum, não tive uma única prestação de contas, nem sei quantos livros foram vendidos, nada! E soube, agora, que a situação com João Cesar de Melo, que eu apresentei à editora, é ainda pior! Ele levantou recursos, mas nada de publicar o livro, e tampouco responder suas mensagens. Cara, o que está acontecendo? Isso não é postura profissional ou ética! Da esquerda esperamos isso, mas não de liberais! Gostaria de um retorno imediato, e também pretendo lançar meu livro independente direto pela Amazon, se for o caso, pois não ganhei um tostão com ele ainda…
A falta de respostas, a indiferença, o descaso, isso é muito pior do que qualquer crise ou dificuldade. Estou considerando colocar a boca no trombone, para que meus leitores fiquem alertas. Uma pena a forma como vc lidou com tudo isso.
Depois de muitas tentativas infrutíferas, e finalmente a ameaça de um processo legal, eis que Rodrigo resolveu dar as caras, por meio de um longo email onde banca a vítima do começo ao fim (uma postura, convenhamos, um tanto esquerdista). Diz que sua vida virou de ponta à cabeça desde o relacionamento relâmpago com Patricia Lélis, outra que posou de direitista apenas para denunciar vários conservadores, bancar a vítima e se tornar feminista companheira de Maria do Rosário.

Patricia Lélis e Marco Feliciano. Fonte: Metrópoles
Não sei o que é verdade e o que é mentira em sua mensagem, mas sei que para tudo há limite: inclusive para a minha paciência budista. Posso entender as várias dificuldades pelas quais o editor está passando, mas não posso entender o descaso, a completa falta de transparência, o novo sumiço depois de tudo (seu email já tem mais de dois meses). Afinal, temos os nossos próprios problemas, e acima de tudo: nossos leitores, que merecem uma explicação.
No caso de João, há mais em jogo: sua reputação, pois leitores colocaram dinheiro apostando no livro, que nunca saiu da intenção. Diante disso, João resolveu partir para a única alternativa que lhe restava: a via legal. Simonsen deve, no mínimo, uma retratação pública, não particular, e uma explicação de por que o livro não foi publicado ainda, e onde foi parar a grana dos colaboradores.
Acho tudo isso muito triste, repito. É bom que tenha mais editora interessada em autores liberais. É uma pena que Rodrigo, que parecia tão casado com a causa liberal e uma pessoa séria, tenha agido dessa forma, mostrando-se pouco ou nada confiável. Mas não dá para ficar calado e deixar o público no escuro por conta da “amizade”, ou da afinidade ideológica. Liberais prezam o império das leis, o contrato entre as partes, a transparência.
Não pretendo entrar na Justiça contra Simonsen também. Mas quero lançar de forma independente ou por outra editora o meu Panaceia, pois o que foi feito pela editora do Rodrigo não é sério, não é coisa que se faça com quem estava tentando ajudar. Quem me conhece sabe que estou sempre pronto a ajudar liberais. Já divulguei muita gente ou marca de graça, escrevi diversos prefácios, citei inúmeras pessoas em textos e palestrei para dezenas de eventos sem cobrar.
De vez em quando um desses tiros sairá pela culatra, vai acabar ajudando quem não merecia ser ajudado, e sujando um pouco a minha própria reputação. Não há como acertar sempre, como prever a honestidade ou competência de todos. Mas fica o alerta: não é porque se diz liberal que não será um oportunista ou um picareta, ou mesmo uma pessoa muito complicada e meio maluca.
Era preciso fazer esse desabafo. E que o livro do João possa ser finalmente lançado por alguma editora ou de forma independente, pois é um livro muito divertido, e que transmite a mensagem liberal de forma bastante didática, para leigos. Uma munição e tanto contra o esquerdismo, que está inacessível por culpa única e exclusiva de um editor enrolado, para dizer o mínimo.

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