Continuamos a ter visão ufanista errada do desenvolvimento
Samuel Pessôa - FSP
República de bananas, para mim, sempre representou países com péssima
institucionalidade. Dia sim e dia também, algum general -em geral de
direita, mas às vezes de esquerda, com um bigodão, às vezes uma barba
bem cultivada- tomava o poder em meio a um golpe militar.
A república de bananas se caracteriza pelas instituições frágeis.
Para boa parcela dos economistas brasileiros, o que caracteriza as
repúblicas de bananas são as bananas, ou melhor, a exportação de
matérias-primas.
Por esse critério, Chile, Canadá, Nova Zelândia e Austrália são repúblicas de banana.
Como em geral há relação entre desenvolvimento econômico e sofisticação
tecnológica da pauta exportadora de um país -mas o que, como vimos, nem
sempre é verdade-, muitos economistas brasileiros pensam que
desenvolvimento econômico depende do que um país produz.
Não conhecem o trabalho espetacular do historiador Gavin Wright ("The
Origins of American Industrial Success, 1879-1940", "The American
Economic Review", 1990), que documentou que a pauta exportadora da
economia americana até os anos 1920 era essencialmente de commodities.
Ou seja, a economia americana era uma economia de bananas.
Ademais, inflam os números dos gastos do governo americano com a
política de compras de produtos nacionais e com P&D. Se folheassem o
"Cambridge Economic History of The United States", descobririam que a
política industrial teve papel muito subsidiário no desenvolvimento
americano.
Também verificariam que o grau de fechamento da economia americana da
segunda metade do século 19 à segunda metade do século 20 foi elevado,
mas não maior do que o grau de fechamento das economias
latino-americanas, que, no Brasil, perdura até hoje.
Mas é sempre melhor ficar apegado a preconceitos do passado, que passam
por cima de fatos como o de que a taxa de analfabetismo na Nova
Inglaterra em 1750 era equivalente à brasileira de 1950.
A história econômica mostra que não há diferença na trajetória de
crescimento da economia americana em comparação aos casos canadense ou
australiano.
O maior desenvolvimento da indústria nos EUA é essencialmente
consequência da maior escala da economia. População grande gera mercado,
que naturalmente estimula o desenvolvimento da indústria. É por esse
motivo que a economia americana tem mais indústria do que a australiana.
Enquanto lutamos contra as bananas, jogamos R$ 400 bilhões no lixo de
incentivos do BNDES, política que os estudos mostram contribuiu para
elevar os lucros de algumas grandes empresas, mas não elevou o
investimento, outros tantos com uma política desastrada de conteúdo
nacional, que lembra a lei "do similar nacional" do
nacional-desenvolvimentismo, e tantas outras oportunidades perdidas.
A lista é longa.
Olhando ao passado, só enxergamos a "perda dos termos de intercâmbio",
"os lucros, juros e dividendos distribuídos pelas multinacionais", "a
lógica do investimento das multinacionais que não obedece aos interesses
nacionais", "os juros da dívida externa" e "os juros pagos ao
rentismo".
Liderados seja pela esquerda, seja pelos militares, continuamos a ter
uma visão ufanista equivocada do desenvolvimento econômico.
O desperdício sem fim produzido pela ideologia conspiratória do
nacional-desenvolvimentismo segue firme: desaguou na crise dos anos 1980
e na crise atual.
Enquanto isso, nossas crianças continuam a não saber ler e escrever.
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