Temer quer que Fachin devolva segunda denúncia para PGR
Defesa alega que Janot relatou fatos sem relação com o mandato do presidente
André de Souza - O Globo
A defesa do presidente Michel Temer pediu que o ministro Edson
Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), devolva à Procuradoria-Geral
da República (PGR) a segunda denúncia feita contra ele. Temer foi
acusado dos crimes de obstrução de justiça e organização criminosa pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Antônio Mariz, advogado de Temer, alega que a denúncia relata
supostos crimes cometidos antes de Temer assumir a presidência. E a
Constituição diz que o presidente só pode ser investigado por atos
ocorridos durante o exercício do cargo. Fatos estranhos ao mandato só
podem ser apurados depois que ele deixar o posto.
Assim, Mariz pediu que a PGR "adeque a exordial no que tange ao Sr.
Michel Temer, retirando do texto acusatório os supostos fatos delituosos
estranhos ao exercício das suas funções presidenciais, nos precisos
termos do artigo 86, § 4º, da Constituição Federal".
A
denúncia foi apresentada na última quinta-feira. Janot fica no cargo
somente até domingo. Na segunda-feira, assume a nova procuradora-geral,
Raquel Dodge. Assim, é possível que a eventual devolução da denúncia
para a PGR ocorra já na nova gestão.
Na
quinta-feira, a defesa de Temer já tinha pedido que Fachin suspendesse o
envio da segunda denúncia para a Câmara dos Deputados. Mariz quer que o
STF conclua um julgamento iniciado na última quarta-feira, que discute
se Janot poderia apresentar denúncia enquanto não é concluída uma
investigação sobre um áudio de delatores da JBS. Isso porque a gravação
pôs em dúvida a validade das provas trazidas pelos colaboradores.
Fachin concordou com o pedido e decidiu que vai esperar o término do
julgamento, previsto para ser retomado na próxima quarta-feira, para
enviar a denúncia para Câmara. Como o julgamento não acabou, não houve
decisão e, assim, também não houve impedimento para que Janot
apresentasse denúncia já na última quinta-feira.
Janot denunciou o presidente por organização criminosa e obstrução de
justiça. Ele foi acusado de liderar um grupo de políticos do PMDB que
desviou dinheiro dos cofres públicos e de também ter tentado barrar a
delação premiada de Lúcio Funaro, apontado como operador do
partido.Outras seis pessoas - os ministros Eliseu Padilha e Moreira
Franco, os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Alves, o
ex-ministro Geddel Vieira Lima e o ex-deputado Rocha Loures - também
foram denunciadas por quadrilha. Os executivos Joesley Batista e Ricardo
Saud, da JBS, foram denunciados por obstrução de justiça.
A primeira denúncia contra Temer, apresentada em junho deste ano por
Janot, está paralisada porque a Câmara não autorizou sua continuidade.
Para uma denúncia ter prosseguimento contra o presidente, é preciso de
aval de dois terços dos deputados, ou seja, 342 de 513. Nesse caso,
Janot acusou Temer por corrupção.
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