Inquérito mira emendas feitas desde 2007
Ministério Público decide analisar todas as indicações feitas por deputados estaduais nos últimos cinco anos
Deputados, empresas e ONGs estarão no foco da Procuradoria, que deve ouvir ainda o delator do caso, Roque Barbiere
FLÁVIO FERREIRA - FSP
O Ministério Público de São Paulo irá ampliar o raio de investigação sobre a Assembleia de São Paulo e vai rastrear todas as emendas patrocinadas pelos deputados estaduais de 2007 a 2011.
Até agora, o governo do Estado havia tornado público apenas a liberação de verbas de 2011 para as obras indicadas pelos parlamentares.
A Folha apurou que a Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social considera já ter elementos suficientes para requisitar os documentos dos últimos quatro anos, independentemente do conteúdo do depoimento que o deputado Roque Barbiere (PTB) deverá prestar nos próximos dias.
O deputado, que afirma haver um comércio de emendas no Legislativo paulista, não revelou os nomes dos envolvidos no suposto esquema. Em entrevista, declarou ainda que sua colaboração com o Ministério Público dependerá do "tratamento" que receberá do órgão.
A Promotoria, porém, entende que os próximos passos das apurações se justificam devido a reportagens da imprensa apontando possíveis irregularidades e às afirmações de Barbiere confirmando suas acusações.
No foco das apurações estarão, a princípio, deputados, empresas e ONGs, segundo a avaliação da Promotoria.
Para o Ministério Público, a análise das emendas do último mandato dos deputados (2007-2010) é primordial para que sejam identificadas as supostas engrenagens do esquema, e não apenas casos isolados.
O Ministério Público aguarda que Barbiere faça agendamento de data para ser ouvido. O deputado havia prometido entrar em contato com o órgão, mas até as 18h30 de ontem não tinha feito isso.
PSDB fala em CPI, mas líderes tentam encerrar caso
FSP
O líder do PSDB na Assembleia Legislativa de São Paulo, Orlando Morando, defendeu que seu bancada apoie a criação de uma CPI caso o deputado Roque Barbiere (PTB) não aponte os políticos envolvidos no suposto esquema de venda de emendas na Casa.
Oficialmente, o discurso das lideranças dos partidos é que o depoimento enviado por Barbiere ao Conselho de Ética é insuficiente para apagar o incêndio criado por sua declarações de que cada deputado "tem seu preço".
Nos bastidores, porém, deputados de várias siglas, como a bancada evangélica e o grupo aliado a Campos Machado, líder do PTB, tentam enterrar o caso de imediato.
"Acho difícil encerrar o caso. A posição da bancada é que ele tem que apontar os nomes. Do contrário, difamou a Assembleia toda", disse ontem o tucano Orlando Morando: "Na ausência de resposta por parte dele um caminho pode ser uma CPI".
Com 22 membros, o PSDB seria decisivo para a instauração de uma CPI, que precisa de apoio de, no mínimo, 32 dos 94 deputados da Casa. Apesar da resistência em criar a CPI por medo que ela respingue em secretários de Estado, há insatisfação no PSDB por Barbiere insistir que alertou o governo do caso.
Uma das saídas cogitadas pelos líderes seria punir Barbiere com uma advertência ou suspensão. Mas isso esbarra no temor das bancadas de que ele resolva citar nomes.
O PT diz ter obtido 28 assinaturas e vê na CPI um meio de atingir o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente), pré-candidato à prefeitura paulistana. "Tentar abafar o caso é uma tragédia, seria afundar a Assembleia", diz Enio Tatto, do PT.
SILVIO NAVARRO
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