Narcotráfico vira tema de debate em eleições argentinas
Oposição acusa governo de permitir controle de parte do país por traficantes; Cristina não aborda o assunto
Recente apreensão de cocaína mostra ação de cartel mexicano Los Zetas, um dos mais violentos do mundo
LUCAS FERRAZ/SYLVIA COLOMBO - FSP
Um dos temas mais incômodos na corrida eleitoral argentina, principalmente para a presidente Cristina Kirchner, é o expressivo aumento do narcotráfico, que se desenvolve inclusive com a presença do cartel mexicano Los Zetas, um dos mais violentos do mundo.
Antes rota do tráfico internacional, a Argentina se transformou também num polo de processamento de cocaína, facilitado pela demanda de seu mercado interno e pela grande quantidade de laboratórios e produtos químicos em circulação no país.
Há duas semanas, surpreendeu o anúncio feito pelo governo da província de Buenos Aires de que um integrante dos Zetas havia sido detido em La Plata com 50 kg de cocaína.
Esse foi apenas mais um registro entre dezenas de apreensões de drogas e detenções de traficantes. Em janeiro, três argentinos foram presos quando tentavam entrar na Espanha com quase uma tonelada de cocaína num jatinho. O voo tinha partido do aeroporto de Ezeiza.
Com os recentes episódios no meio da campanha eleitoral, o assunto entrou no debate político. Francisco de Narváez, candidato à província de Buenos Aires, atacou o governo local e nacional por, segundo ele, deixar o entorno da capital sob o controle do narcotráfico.
Favorita para ser reeleita no primeiro turno, daqui a duas semanas, Cristina não aborda o tema. "Na verdade toda a classe política precisa se desculpar, pois nós todos subestimamos esse assunto", disse à Folha o deputado socialista Fábian Peralta, presidente da Comissão de Combate ao Narcotráfico da Câmara dos Deputados.
Para ele, a Argentina oferece pouco risco para os traficantes e é o segundo país que mais consome cocaína na América Latina, perdendo apenas para o Brasil, conforme dados da ONU. "E o pior é que o governo não sabe como lidar com a questão."
Parte do problema está na desavença dentro da Casa Rosada sobre os produtos químicos controlados pelo governo -são 60 atualmente, mas uma ala do governo diz que a lista está defasada.
Outro problema, não muito diferente do Brasil, é a falta de controle nas fronteiras. O governo Kirchner ainda não implementou, como havia prometido, um sistema de vigilância aérea em toda sua faixa de fronteira.
A falta de controle leva ao crescimento dos cartéis e das pistas clandestinas, que, segundo a Associação Antidrogas da Argentina, chegam a mais de 1.500, principalmente no norte do país.
Cartéis comandam área metropolitana de Buenos Aires
Traficantes de países latinos dividem regiões de atuação na capital; a negociação é feita nos bares e nos salões fechados
O 'paco', semelhante ao crack, é a droga mais disseminada entre crianças e adolescentes na periferia portenha
DE BUENOS AIRES
Claudio Izaguirre tem 51 anos e está "limpo" há 35. Ex-viciado em drogas, hoje lidera a Associação Antidrogas da Argentina, com a qual se dedica a mapear a produção e a exportação de drogas e a ajudar viciados.
Segundo sua organização, existem cartéis internacionais atuando em diversos pontos do país. Em Buenos Aires, operariam os dominicanos (nos bairros de Monserrat e Constituición), os peruanos (em Flores), os paraguaios (em Villa Soldati) e os bolivianos (em Liniers).
Na região metropolitana da capital, atuariam os mexicanos, enquanto os colombianos estão nas províncias de Santa Fé e Chaco.
Izaguirre vive a poucas quadras do centro de operações de um dos cartéis de drogas em Buenos Aires, o dos traficantes de origem dominicana, localizado entre as avenidas de Belgrano, Entre Ríos e San Juan, na região dos bairros portenhos de Constitución e Monserrat.
Ele acompanhou a Folha em visita a essa zona numa noite durante a semana, mostrando os principais pontos de venda de droga.
A atividade está quase sempre associada a casas de prostituição.
Nas ruas mal iluminadas, não é fácil perceber que, detrás de cortinas de cabeleireiros ou de bares que parecem fechados e tem os vidros escuros, há uma movimentação.
Homens sozinhos caminham e espiam dentro das casas. Às vezes decidem entrar, noutras, seguem andando em busca do próximo ponto. Mulheres em grupo fumam na porta de alguns estabelecimentos.
Tudo é muito discreto e um desavisado poderia andar por ali sem perceber muita coisa. Izaguirre vai apontando sinais de como a região fica violenta com frequência. Marcas de bala na entrada de um prédio são vestígios de um tiroteio recente.
Contrário à despenalização das drogas, ele diz que o principal investimento que precisa ser feito na Argentina hoje é em prevenção.
NOVA DROGA
O médico toxicologista Carlos Damin diz que o "paco", mistura do alcaloide base da cocaína com bicarbonato de sódio e cafeína, similar ao crack, vem se disseminando entre crianças e adolescentes nas periferias da grande Buenos Aires.
"O efeito destrutivo do 'paco' é imenso. Deteriora o cérebro, os pulmões e o aparelho digestivo de forma aguda em questão de meses", diz Damin, que trabalha no hospital Fernandez, na capital, um dos únicos que possui uma equipe multidisciplinar para tratar o tema.
Como a Argentina não tem estatísticas confiáveis sobre narcotráfico e o consumo de drogas -as do governo são incompletas e antigas-, o controle e a repressão não são eficazes.
LUCAS FERRAZ E SYLVIA COLOMBO
Do Blog:
Os maconheiros brasileiros devem preparar uma marcha da maconha urgente! Afinal, o Brasil não tem problema algum! Não tem corrupção, violência, e todas essas imundíces que infestam a televisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário