Parecer de comissão desagrada Planalto
Recomendação para exonerar Lupi surpreende governo e expõe incômodo com a atuação do órgão desde o caso Palocci
Decisão do colegiado aumentou pressão para que Dilma demita ministro; grupo pode sofrer reformulação
NATUZA NERY/BRENO COSTA/FLÁVIA FOREQUE - FSP
O parecer da Comissão de Ética da Presidência da República que recomendou a exoneração do ministro Carlos Lupi (Trabalho) gerou desconforto no Planalto e contrariou a presidente Dilma.
A indicação surpreendeu o governo tanto pela decisão quanto pela velocidade com que o órgão analisou o caso.
Além de reavivar as pressões para que Dilma demita seu sexto ministro suspeito de corrupção, o ato ocorreu quando a presidente já havia decidido só trocar o comando da pasta em janeiro, na reforma ministerial.
O mal-estar chegou a tal ponto que interlocutores palacianos apostam numa reformulação na comissão a partir de junho.
Em 2012, 3 dos 6 conselheiros podem ter seus mandatos renovados, desde que a presidente aprove.
Outros dois integrantes terão de deixar o posto. O único com mandato garantido até 2013 é Sepúlveda Pertence, presidente do colegiado.
A equipe de Dilma viu excessos na condução do caso Lupi. Após a reunião que recomendou a exoneração dele, a presidente foi informada de que o grupo teria feito piada sobre o ministro durante o encontro.
O desgaste atingiu a relatora do processo, Marília Muricy, um dos alvos mais prováveis na potencial reforma da Comissão de Ética. O Planalto considerou "subjetivas" algumas das razões apontadas por ela para justificar o pedido de demissão.
No relatório, Muricy afirma que foi "inequívoca a falta de zelo na conduta do denunciado", e citou declarações irônicas dadas pelo ministro durante a crise. Segundo ela, houve "certa dose de arrogância" de Lupi.
"[As atitudes] misturam aparente indiferença quanto à gravidade das acusações", escreveu Marília Muricy.
O incômodo com a atuação do órgão não é novo. O episódio envolvendo Lupi apenas expôs uma tensão acumulada desde o escândalo que culminou com a queda de Antonio Palocci, quando a comissão emitiu opiniões que ajudaram a enfraquecer o então chefe da Casa Civil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário