O tombo do Firefox
Em um ano, de navegador favoritos do entendidos em internet a terceiro colocado ameaçado
Pedro Doria - O Globo
Foi um ano ruim para o Firefox. Há apenas dois anos, era o navegador favorito de quem entendia de internet. Entrou 2011 sólido na segunda colocação do ranking. (O Internet Explorer, da Microsoft, é líder absoluto com algo entre 35% e 50%, dependendo de quem conta.) Na primeira semana de dezembro, segundo a StatCounter, o Chrome do Google o ultrapassou. Não bastasse, paira uma ameaça de que a fundação responsável pelo Firefox perca antes de o ano terminar sua principal fonte de financiamento.
Segundo os números da StatCounter, consolidando novembro, o Explorer tem 40,68%, Chrome 25,49% e Firefox 25,25%. O Safari, da Apple, é o distante quarto com 5,92%. Para dar uma ideia da queda: em novembro de 2010, Firefox tinha 31,17% e, o Chrome, 13,35%.
A queda não vem à toa. Quem se aventura pela internet com cautela costuma usar o programa que já vem pré-instalado no Windows. A onipresença do Explorer sai daí. Durante muito tempo, o Explorer era também uma opção com pouca funcionalidade e um quê insegura. Neste vácuo, cresceu o Firefox. Mudou. Navegação por abas, que permite abrir várias janelas de fácil acesso simultaneamente, um dia foi exclusivo do Firefox. Não mais. E um estudo publicado este mês, da empresa de segurança Accuvant Labs, põe o Chrome como o browser mais seguro, seguido de perto pelo Explorer. O Firefox é um distante terceiro.
É justo fazer uma salvaguarda. Quem encomendou o estudo à Accuvant foi o Google. E sua conclusão é de que o browser mais seguro é o do próprio Google. Ainda assim, nenhum especialista em segurança protestou. E a turma do Firefox resmungou, porém não negou nenhuma das falhas ressaltadas. Para o usuário pacato, há problemas mais evidentes. Com o tempo, o Firefox foi ficando mais gordo e lento. O contraste com Explorer e, principalmente, Chrome, é evidente. A velocidade é seu calcanhar de Aquiles.
Firefox nasceu das cinzas de um período difícil no início da internet comercial, a Guerra dos Browsers. A Microsoft não percebeu que a internet ia estourar. Quase nenhuma das empresas tradicionais do Vale do Silício percebeu. Enquanto isso, a jovem Netscape explodiu, simbolizando no imaginário o que aquela nova tecnologia de comunicação proporcionava. O Netscape, em seu tempo, foi o browser que todo mundo usava, dos entendidos aos iniciantes.
A Microsoft lutou duro para impor seu Explorer. De forma desleal, até, fazendo com que o Netscape rodasse mal no Windows. Não bastasse esta dificuldade, a turma do Netscape foi arrogante. Considerou-se indestrutível. O Netscape implodiu e a Microsoft terminou envolvida num processo por más práticas e abuso de monopólio. A Netscape acabou e seu código foi reaproveitado no que se tornaria o Firefox. Distraída pelo processo, a Microsoft tirou o foco da inovação. Está tentando se recuperar até hoje. No vácuo deixado pelas duas naqueles anos da virada do século, o Google achou espaço para crescer.
O Firefox não é um produto comercial. Por trás dele há uma fundação sem fins lucrativos que deve boa parte de seu financiamento ao Google. Em números: US$ 123 milhões, ou 84% do dinheiro que arrecadou em 2010. Trata-se de um contrato. Em troca, o Firefox ostenta no cabeçalho uma barra com a caixa de buscas do Google. O contrato foi assinado em setembro de 2008. O Chrome ainda não havia sido lançado. Contrato que venceu em novembro.
Hoje, o Google não precisa da caixa no Firefox para aumentar sua audiência. Tampouco precisa de uma alternativa ao Explorer para manter distância da Microsoft. Afinal, ele próprio é dono da estrela ascendente. E, no entanto, embora ninguém tenha assinado um novo contrato, há negociações secretas em rumo. Ambos dizem que estão conversando mas não dão nenhum detalhe.
O ano foi ruim para o Firefox mas ele não é cachorro morto. Um quarto dos usuários da internet no mundo navegam com ele. E a Microsoft tem um site de buscas, o Bing, que deseja crescer. Se o Google não financiar seu inimigo, a empresa de Bill Gates quer aquele espaço no cabeçalho do concorrente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário