Partidos alemães se dividem quanto à ideia de proibir o partido de extrema direita NPD
Frédéric Lemaître - Le Monde
Em Berlim
A polícia tenta estabelecer ligações entre o NPD e crimes cometidos por neonazistas
Mais de um mês depois de ter sido descoberto que três neonazistas, ao longo de mais de dez anos, mataram em total impunidade pelo menos dez pessoas e saqueado cerca de quinze bancos, os partidos políticos se dividem quanto à atitude a se adotar perante o Partido Nacional-Democrata (NPD), o partido de extrema direita. Diversos políticos – e cerca de 75% dos alemães – se declaram a favor de uma proibição do NPD, representado em duas Assembleias Regionais (Saxônia e Mecklemburgo-Pomerânia) e que, a esse pretexto, recebe um milhão de euros por ano em subvenções públicas.
Em compensação, o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich (CSU, cristão-democrata), e a ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger (FDP, liberais), estão mais hesitantes. Em 2003, uma primeira tentativa havia sido rejeitada pelo Tribunal Constitucional de Karlsruhe, sobretudo em razão da presença de inúmeros policiais e informantes da polícia dentro da própria organização.
Mas a edição do dia 12 de dezembro da publicação semanal “Der Spiegel” revela que haveria atualmente ainda mais de 130 informantes dos serviços de inteligência entre os militantes e nas instâncias dirigentes do NPD. Na sexta-feira (9), os ministros do Interior de diferentes Estados-regiões e do Estado federal se deram até maio de 2012 para tomar uma decisão.
Esse prazo também se destina a dar tempo para os investigadores estabelecerem prováveis ligações entre a facção “Clandestinidade Nacional-Socialista”, fundada pelo trio – dos quais dois membros se suicidaram – e o NPD. Quanto mais fortes forem essas ligações, mais juridicamente fundamentada será a proibição do partido.
Ao longo da investigação, foi confirmado que, longe de ser isolado, o trio dispunha de uma rede de apoiadores, inclusive no oeste da Alemanha. Atualmente, segundo o “Der Spiegel”, sete pessoas já foram indiciadas por cumplicidade.
Arquivo central
A proibição do NPD não é o único tema de debate. A ministra da Justiça e o ministro do Interior divergem quanto à criação de um arquivo central sobre os neonazistas. Friedrich quer centralizar todos os dados dos quais a polícia e os serviços de inteligência dispõem, enquanto sua colega é mais reservada. Além disso, o presidente da República, Christian Wulff, e o presidente do Bundestag [Parlamento], Norbert Lammert, têm brigado pelo privilégio de prestar homenagem às famílias das vítimas, em fevereiro de 2012.
Na sexta-feira, a associação Human Rights Watch publicou um relatório no qual estima que a Alemanha ainda tem progressos a cumprir no combate aos crimes racistas ou homofóbicos. Essa ONG afirma que “segundo o governo federal, a polícia registrou 467 crimes violentos e de ódio em 2010. No entanto, os números revelados pelas associações de ajuda às vítimas sugerem que o número verdadeiro é mais elevado. Em Berlim e nos ex-Estados-regiões do Leste ele chegaria a 704, e a falta de estruturas de ajuda às vítimas nas antigas regiões do Oeste pode mascarar ali a dimensão do problema.”
Tradução: Lana Lim
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