Editorial: As faraônicas miragens do caça Rafale
Le Monde
Dois anos atrás, nesta coluna, o presidente da Dassault Aviation, Charles Edelstenne, não escondia sua satisfação: “Agora podemos falar no Rafale sem associar-lhe o eterno epíteto: o avião que nunca foi exportado”. Na época, é verdade, o Brasil havia se comprometido a comprar 36 exemplares do avião de caça francês, para desgosto dos concorrentes americanos.
Desde então, infelizmente, para o carro-chefe da aviação francesa, o compromisso brasileiro se dissipou, como se fosse uma miragem. Da mesma forma que acabou de se perder a esperança em ver a Suíça escolhendo o Rafale para substituir seus velhos aviões de combate F5 Tiger. Berna informou no dia 30 de novembro que, sobretudo por razões orçamentárias, o exército suíço optou por 22 Gripen suecos.
Assim como o Concorde no domínio da aviação civil, em outros tempos, o Rafale continua sendo o avião “que nunca foi exportado”. E que, ao que tudo indica, nunca será. Não é por falta de qualidades inegáveis, como acaba de ser demonstrado no campo de batalha líbio.
Mas isso não basta: nem a construtora francesa, nem o governo se dotaram de meios – políticos e comerciais – para enfrentar com sucesso a concorrência do F18 americano da Boeing e dos dois aviões de combate europeus (o Gripen sueco da Saab e o Eurofighter anglo-germano-ítalo-espanhol). A desunião europeia mais uma vez fez a felicidade dos americanos.
Desde o lançamento do programa Rafale no fim dos anos 1980, e depois sua ativação no exército francês em 2006, a Dassault só conheceu, de fato, decepções no mercado internacional. Após as rejeições da Holanda em 2001, da Coreia do Sul em 2002, de Cingapura em 2005, após a humilhação marroquina em 2007, após as ilusões brasileiras de 2009, após o amargo revés registrado, em novembro, nos Emirados Árabes Unidos, a decisão suíça praticamente anuncia o fim do voluntarismo demonstrado na questão pelo chefe do Estado. Só o mercado indiano alimenta uma vaga esperança de evitar o desastre anunciado do Rafale no mercado mundial.
No entanto, a Dassault vive bem. E com razão: a construtora privada tem um cliente de ouro, fiel e duradouro, que no caso é o exército francês e suas encomendas públicas que comodamente dispensam licitações. A França pretende equipar seus exércitos com 180 Rafales até 2021 e futuramente aumentar esse número para 286. Melhor ainda: como parte da lei de programação militar de 2009-2014, a Dassault obteve dos poderes públicos a garantia de produzir, independentemente do que aconteça na exportação, um avião por mês, a fim de garantir suas instalações industriais, seus empregos e seus preços.
É difícil de encontrar um contrato melhor do que esse: 40,6 bilhões de euros (a 142 milhões por aparelho), três quartos deles financiados por verba pública. Mas num momento em que o governo vem buscando, um a um, os milhões de euros para economizar, é no mínimo estranho que o contribuinte francês continue a financiar uma construtora de aviões, ainda por cima privada.
Tradução: Lana Lim
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