terça-feira, 13 de dezembro de 2011

SARKOZY E A SUA (FALTA DE) POLÍTICA DE EMPREGOS

Por que Sarkozy não defende os empregos de seu país?
Sylvia Zappi - Le Monde
Em Beine-Nauroy (Marne)
A fábrica fica na entrada do vilarejo de Beine-Nauroy, em Marne, logo antes das primeiras casas. O grande prédio amarelo-claro da fábrica da Bosal se avizinha a um silo de beterrabas. Em frente, os funcionários colocaram um caixão preto com uma cruz vermelho-sangue pintada, cercado por 93 cruzes de madeira fincadas no chão. Esse é o número de empregos que a Bosal, um grupo holandês do setor automobilístico, anunciou ter cortado, em meados de novembro.
"É o trabalho que estão mudando de lugar. Nosso cantão está virando um deserto de terrenos baldios industriais", observa o prefeito (sem partido), Francis Floquet. A empresa quer "recentralizar" suas atividades em suas outras instalações, na Alemanha e na Hungria, onde o transporte e a mão de obra são mais baratos. Na fábrica de Marne só restarão 53 de 144 empregos.
Há mais de 25 anos a fábrica Bosal Le Rapide fabrica engates para reboques e racks para o setor automobilístico, basicamente para a Peugeot. Com seus 250 funcionários, cinco anos atrás, ela se tornou uma das raras instalações industriais nessa planície agrícola. Ela chegou a crescer com a ajuda financeira das administrações locais: cerca de 500 mil euros haviam sido desembolsados para acomodar a fábrica. Era o único empregador, junto com o lixão. "A Bosal havia ameaçado ir embora para Aisne, se não a ajudássemos", lembra Alphonse Schwein, conselheiro-geral do cantão pelo partido UMP.
Hoje, Beine-Nauroy, seus 1.100 habitantes, sua pequena e charmosa prefeitura, sua padaria e seu café estão na expectativa. Aqui, todos aguardam pelo plano de cortes detalhado para saber os critérios e, por trás disso, os nomes dos demitidos. A direção o anunciou para o dia 15 de janeiro. O comitê de funcionários cancelou o Natal das crianças na prefeitura, pois não há clima para festa.
Ninguém viu o golpe chegando. A empresa está sadia e repleta de encomendas. A direção chegou a pedir para os operários fazerem horas extras. O único sinal premonitório foi a chegada de um novo diretor, consultor instalado desde o início de outubro com um contrato temporário de cinco meses, apelidado de "liquidante" pelo prefeito.
Os políticos locais, ainda grogues, admitem estar impotentes. Tanto que o cantão teve um plano de 120 demissões na Reims Aerospace seis meses atrás.
A prefeitura já antecipou o que deixará de ganhar com os impostos locais e se prepara para aumentar seu orçamento social. “Queremos dizer aos operários que estamos aqui”, explica Catherine Renard, representante municipal e ex-enfermeira da fábrica, demitida há dois anos.
Cada um faz o que pode para salvar a fábrica. O conselheiro-geral Alphonse Schwein, representante do governador da região, tem tentado encontrar novas atividades para as instalações. “Queremos que a Bosal se comprometa a diversificar sua produção e criar empregos”, diz. A empresa se recusa. “São os empregos de nossos vilarejos. De que adianta fazer projetos locais de urbanismo se não tivermos mais fábricas?”, ele lamenta.
O presidente do conselho regional, Jean-Paul Bachy (esquerda), também veio dar seu apoio aos operários. “Existe trabalho, instalações modernas, diversas encomendas e eles se mudam depois de usarem dinheiro público. Não podemos aceitar esse tipo de operação!”, se revolta o representante regional. Ele quer tentar pressionar a empresa através dos clientes dela.
Mas os operários não se iludem: após essa primeira leva de demissões, eles não apostam muito nas últimas oficinas. As filiais húngara e alemã já estariam aprendendo a fabricar os racks franceses.
“Nosso objetivo é adiar o momento em que deveremos ir embora. É tudo que nos resta”, admite Laurent Gerardin, representante do sindicato. “Aqui, nem todos trabalham com champanhe, e o corte de empregos na indústria continua”, observa Sébastien Lienard, secretário-geral do CFDT [Confederação francesa democrática do trabalho] de Marne.
Todos os representantes municipais sonham em impedir a saída total da empresa, mas não sabem como fazer isso. “Não temos peso o suficiente”, admite Alphonse Schwein. “Não temos como segurar a empresa”, diz o prefeito. Fazemos o possível e mostramos para os cidadãos, que não entendem essa impotência. Laurent Gerardin enumera os apoios, mas sem esperança. Alguns raros “nacionais”, como o soberanista Nicolas Dupont-Aignan ou Philippe Poutou (NPA), foram apoiar os operários. O secretário de Estado para a moradia, Benoist Apparu, cuja circunscrição agora engloba o cantão, não apareceu. “Ele tem acompanhado a situação de perto”, garante o conselheiro-geral da UMP.
“Os políticos dizem que nos apoiam, mas que não podem fazer nada. Para quê eles servem?”, se irrita o sindicalista. “Por que Sarkozy não defende os empregos de seu país?”, se revolta Valérie Setera, balconista na fábrica. Aos 44 anos, essa mãe de família passou doze anos na empresa, e seu marido, chefe de linha de produção, quinze. “Ele poderia intervir pelo menos uma vez dizendo ‘daqui essa fábrica não sai’”, ela diz.
Tradução: Lana Lim

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