segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VÍTIMAS DA GUERRA

Jovens veteranos têm dificuldades em encontrar empregos na volta para os EUA
Shaila Dewan - NYT
No Afeganistão, o soldado Clayton Rhoden ganhava cerca de US$ 2.500 por mês pulando em helicópteros para procurar dispositivos explosivos improvisados ou checar supostas fábricas de bombas. Agora ele vive com seus pais, vende o plasma do sangue por US$ 80 por semana e trabalha o quanto pode para a unidade de Reserva dos Fuzileiros Navais.
Rhoden, que tem 25 anos, é desajeitado e educado, e tem uma paixão por ser soldado, é um entre as legiões de veteranos que serviram em combate, mas enfrentam uma dificuldade ainda maior em encontrar trabalho do que outras pessoas de sua idade, uma situação que os oficiais dizem que vai piorar à medida que os Estados Unidos concluírem a retirada do Iraque e que, segundo uma estimativa da Casa Branca, um milhão de novos veteranos entrarem no mercado de trabalho nos próximos cinco anos.
O desemprego dos veteranos está concentrado entre os jovens e aqueles que ainda estão servindo a Guarda Nacional ou na Reserva. A taxa de desemprego para veteranos de 20 a 24 anos chegou a uma média de 30% este ano, mais do que o dobro da taxa para pessoas da mesma idade, embora a taxa para veteranos mais velhos esteja próxima da dos civis. Reservistas como Rhoden não têm um futuro encorajador.
Em julho de 2010, sua taxa de desemprego estava em 21%, comparada a 12% para outros veteranos.
"Houve um aumento no número de jovens que entram no exército e não ficam para uma carreira de 20 anos", diz Jane Oates, secretária-assistente de emprego e treinamento do Departamento de Trabalho, que trabalhou para melhorar o programa de transição de três dias para soldados e alistou companhias como o Facebook para ajudá-los. "Acho que a transição tem sido difícil, com poucos empregos e uma falta de clareza sobre o que o empregador quer."
A falta de emprego não pode ser explicada por um simples fator como a falta de diploma universitário – apesar de sua disciplina e treinamento, os jovens veteranos vão pior no mercado de trabalho do que seus colegas sem diplomas.
Os empregadores e os veteranos parecem ver uns aos outros como espécies alienígenas. Os gerentes, poucos dos quais passaram pelo exército, podem temer os efeitos do combate ou perder os reservistas para outra missão. Eles podem ter dificuldade em entender como as conquistas militares se traduzem no mundo civil.
Jovens veteranos, cujo histórico de trabalho pode consistir inteiramente do serviço militar, normalmente precisam aprender coisas básicas como o que usar numa entrevista de emprego. Mais do que isso, muitos dizem que ficam perdidos com a transição da vida de combate para a vida civil.
"É um choque para muitos deles, sair de um estilo de vida tão estruturado para outro que tem tantas variáveis", diz Danil Hutchison, 29, que usa seu próprio benefício por invalidez para financiar um grupo de assistência para a transição, os Veteranos de Combate de Ohio. "Eles estão lidando com todos os problemas emocionais que tiveram, e sentem que estão sozinhos."
O governo Obama louvou a maturidade, as habilidades de gerenciamento e até a prontidão dos veteranos. Os empregadores entraram na onda, e grandes companhias como o JPMorgan Chase e Verizon assinaram uma promessa de contratar um total de 100 mil veteranos até 2020. Mais de 220 mil veteranos do Iraque e Afeganistão estão fora do trabalho.
Em mais de uma década de guerra, a exigência de que as companhias recoloquem os reservistas em seus antigos empregos representou um grande fardo para as empresas, diz Ted Daywalt, que coordena o VetJobs.com na Geórgia. "Quase 65 a 70% dos empregadores não contratarão da Guarda Nacional e da Reserva", disse ele.
"Elas não podem tocar seu negócio com alguém que é levado para longe por 12 meses.” Embora os empregadores normalmente perguntem sobre o serviço militar nas entrevistas de emprego, é ilegal discriminar candidatos com base nessa informação.
Rhoden disse que seus deveres de reservista interferiram com um emprego até o ponto em que ele se demitiu. "Eu tentei restaurantes, companhias de entrega, construção, retirada de neve, paisagismo – praticamente tudo o que não demanda um diploma universitário", diz ele.
Os veteranos estão sendo treinados para escrever currículos que enfatizam as habilidades de liderança em vez da "morte e captura de 350 associados da Al Qaida", o que gera um certo ceticismo.
"Não estou necessariamente convencido de que eles têm habilidades para o mercado", diz Rachel Feldstein, diretora associada da New Directions, que fornece serviços de reabilitação para viciados em drogas, treinamento para emprego e outros para veteranos em San Diego. "Se você treina alguém para ser um atirador, essas habilidades não são necessariamente aproveitadas no mercado."
Jovens veteranos enfrentam uma competição dura pelos empregos em que melhor se encaixam, como o policiamento. Em Columbus, Dustin Szarell, 30, diz que foi rejeitado pelo Departamento de Bombeiros de Akron e como oficial de correção juvenil em favor de candidatos que tinham experiência nessas áreas.
O governo Obama aumentou o número de contratações de veteranos, acrescentando mais de 85 mil à folha de pagamento do governo desde o ano fiscal de 2008. Em seu discurso semanal no sábado, o presidnete Barack Obama elogiou os veteranos que estão voltando e disse: "está na hora de alistar nossos veteranos e todas as pessoas no trabalho de reconstruir os Estados Unidos". Funcionários do governo estão tentando moldar um serviço militar "pronto para a carreira" cujos médicos e eletricistas podem conseguir mais facilmente as licenças de que necessitam para trabalhar como civis. Em outubro, o GI Bill que é usado para pagar a universidade também pode ser usado para treinamento vocacional.
Mas muitos jovens veteranos ainda estão trabalhando com as consequências do combate.
Em entrevistas, alguns veteranos disseram que os empregadores superestimam esses problemas. "Eles têm essa ideia equivocada de que todos nós sofremos de estresse pós-traumático da forma mais severa, que todos vamos enlouquecer de raiva", disse o sargento Kobby Nyen, 25, reservista da Marinha e estudante. "Até um fuzileiro com estresse pós-traumático tem disciplina."
Mas outros reconhecem que lidar com isso é um problema. "Eu não sei quem em sã consciência gostaria de me contratar quanto eu voltei do Afeganistão, porque eu estava um desastre", diz Jeff Mancino, 24, que agora está estudando psicologia. "Eu tinha 22 anos e tive que ir para a reabilitação – que tipo de pessoa com essa idade faz isso?"
Com frequência, os veteranos aconselhados por Hutchinson dos Veteranos de Combate de Ohio precisam de muito mais do que um emprego. Recentemente, ele viajou 50 milhas para Logan, Ohio, par encontrar Ethan Tomblin-Brooks, 24, que mora num trailer na garagem de seus pais e pega bicos na construção cerca de uma vez por semana.
Tomblin-Brooks, que foi ferido no Iraque, disse que se registrou no departamento de Assuntos de Veteranos mas não teve notícias. Psicólogos do exército primeiro o diagnosticaram com estresse pós-traumático, depois transtorno bipolar, mas Tomblin-Brooks disse que não tem dinheiro para médicos ou remédios, e não tem transporte. Ele não gosta de multidões.
Hutchinson disse que o ajudaria a conseguir os benefícios médicos, então tentou gentilmente explicar como não há muito trabalho na construção civil. Tomblin-Brooks, que tem diploma de segundo grau, não sabia que outra coisa sugerir. Se ele pudesse, disse que voltaria para o Exército.
"Eu gosto que me digam o que fazer", diz ele."É um pouco mais fácil do que pensar nas coisas por conta própria."
Tradução: Eloise De Vylder

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