Vodca com Red Bull, o coquetel que tem se mostrado explosivo
Pascale Santi - Le Monde
Em 2001, já havia vários alertas em relação à inocuidade dessas bebidas
Dançar sem parar, intensamente, até amanhecer. Jean-Christophe consumiu durante anos Red Bull misturado com vodca, cinco ou seis vezes por noite. Esse jovem consultor de informática, que prefere se manter anônimo, respondeu à chamada de depoimentos lançada no site do “Le Monde”. Ele se descreve como um grande consumidor de Red Bull desde os 18 anos de idade. Hoje ele tem 28, e bebe pelo menos uma latinha todas as noites, “para conseguir fazer 16 horas diárias de programação diante do monitor”. Em combinação com a maconha, “isso cria uma espécie de transe”. Assim, ele aguenta até as 5h ou 6h.
Eric, ex-gerente comercial, dirigia entre 2.000 e 3.000 quilômetros na estrada por semana. Enjoado de café, ele acabou experimentando uma lata de energético. Depois passou a consumir entre uma e quatro delas, de quarta a sexta-feira. “Isso me ajudava a manter o ritmo e aumentar meus limites”. Mas, um dia, ele se sentiu mal: sentia fraqueza nas pernas e batimento cardíaco irregular. Isso foi três anos atrás, quando ele tinha 27 anos. Seu médico atribuiu esses problemas à fadiga e ao estresse. Alguns meses mais tarde, teve o mesmo mal-estar. “Dessa vez, pensei sobre meu estilo de vida e levantei a hipótese de que meu consumo regular dessas bebidas poderia ter algo a ver. Então parei com elas, e não tive mais arritmia cardíaca”, conta Eric.
No dia 6 de junho, a Agência Nacional de Segurança Sanitária da Alimentação (Anses) relatou seis aumentos de reações adversas graves (epilepsia, coma, tremores, angústia) desde 2009, incluindo duas mortes por parada cardíaca, para as quais a ligação com o consumo de energéticos está sendo avaliada. O alerta pareceu funcionar, pois “nós recebemos seis outras descrições, que estão sendo examinadas”, explica a professora Irène Margaritis, chefe da unidade de avaliação dos riscos associados à nutrição na Anses.
A vodca com Red Bull é “o” coquetel da moda nas casas noturnas, e seu consumo só aumenta entre os jovens. O Red Bull, mas também o Monster, o Dark Dog, o Burn, o Frelon Detox... todos ao alcance, nas prateleiras de supermercados, nas academias... e não seduzem somente os “baladeiros”, mas também os adeptos do fitness, trabalhadores noturnos, viciados em videogames... “Meu Monster é minha segunda vida”, diz Emmanuel, de 21 anos, que estuda e trabalha.
Mas, assim como Eric, são muitos os que relatam reações adversas. Pontadas no coração no caso desse estudante de Londres, ligeiras vertigens, calafrios, o coração que “batia tão forte que tive dificuldade em me recuperar” no caso de Karim, estudante de Marselha. Outros relatam depressões passageiras e inabituais, “baixas” após o consumo.
No dia seguinte a uma noitada em que ela bebeu quatro ou cinco latas de Red Bull, sem álcool, Sophie estava em plena forma, apesar de somente três horas de sono. Como seus pais – seu pai é médico – acharam que ela estava agitada, ficaram preocupados. Mas, para ela, “essa bebida permite aguentar. No fim de semana, a gente tem vontade de se soltar. Com uma ou duas latinhas antes de entrar na pista, sinto nitidamente a diferença”.
A França foi um dos últimos países a aceitar a comercialização dessas bebidas energéticas. Em 2001, a Anses – Afssa, na época – havia dado vários alertas nos quais relatava dúvidas em relação à inocuidade dessas bebidas. O Red Bull e as bebidas semelhantes por fim entraram no mercado em maio de 2008, graças à autorização do Ministério da Economia, e apesar da oposição do Ministério da Saúde “em nome do princípio de precaução”.
“Quantos acidentes serão necessários para se tomar decisões?”, se pergunta o Dr. Laurent Chevallier, nutricionista, membro da Rede Ambiental Saúde. “Não são produtos indispensáveis. É de se espantar que a Europa não tenha tomado medidas”. “Nosso objetivo é estabelecer cientificamente uma relação de causa e efeito”, afirma a professora Margaritis. “Um estudo deverá ser realizado no outono de 2012 para identificar os perfis, os modos de consumo, as quantidades”.
É principalmente o uso combinado com o álcool que preocupa. Esse coquetel explosivo corresponde ao “binge drinking” (consumo pesado de álcool em breve período de tempo), muito em voga entre os jovens. “Os adolescentes usam esses energéticos para beber ainda mais e por mais tempo”, explica o psiquiatra Xavier Pommereau, chefe do polo do adolescente no Centro Hospitalar Universitário de Bordeaux. Como essas bebidas diminuem a percepção dos efeitos do álcool, os médicos desaconselham veementemente a mistura. “Os cientistas têm levantando atualmente a questão da toxicidade da taurina quando associada ao álcool”, diz o Dr. Pommereau. Além da taurina, essas bebidas contêm ingredientes “estimulantes”: cafeína, guaraná, ginseng, vitaminas, D-glucoronolactona (substância que pode ser tóxica) etc.
Mas, para a maioria dos jovens, “é menos tóxico que anfetaminas ou ecstasy”, diz sorrindo um funcionário público da cidade de Nantes, para quem “essa polêmica em torno de alguns casos polêmicos é uma tremenda bobagem”. Algumas pessoas, jovens e não tão jovens, a consomem “para se manter acordadas” e “não veem problemas”. Para outras, tudo isso é um falso debate. “O verdadeiro perigo para os jovens é o consumo muito precoce de grandes quantidades de álcool pesado”, resume Paul, um parisiense de trinta e poucos anos.
“Desde o início dos anos 2000, têm se observado dois fenômenos novos: a idade cada vez menor em que se bebe álcool e a alcoolização em massa, sobretudo entre garotas. Vi meninas de 14 anos com garrafas de vodca na bolsa”, conta o Dr. Pommereau. Dos quinze pacientes que ele atende hoje, dois têm 12 anos de idade.
Tradução: Lana Lim
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