Holanda desconfia cada vez mais da União Europeia
Jean Pierre Stroobants - Le Monde
Pode ser que a Holanda escreva, no dia 12 de setembro, um novo capítulo da crise da Europa. Nesse dia, os holandeses elegerão uma nova Câmara para tentar tornar mais governável um país que se tornou um "aluno-problema" da União Europeia. Um reino onde as equipes ministeriais são cada vez mais efêmeras. Mas, na realidade, os eleitores podem, sobretudo, dar seus votos a partidos que fizeram da União Europeia um de seus alvos favoritos.
O líder de extrema direita Geert Wilders, que arquitetou a queda do liberal Mark Rutte, cujo programa de rigor ele não queria aprovar, não perde popularidade. As pesquisas indicam que seu Partido pela Liberdade (PVV) deverá continuar sendo o terceiro maior do país. É possível que ele mantenha as 24 cadeiras de deputados (entre 150) conquistadas em junho de 2010.
Wilders, que defendeu o "não" holandês no referendo sobre o tratado constitucional, em 2005, abandonou – de forma provisória, provavelmente – suas declarações antimuçulmanas e anti-imigrantes. Ele tem feito campanha pela volta da Holanda ao florim e pelo fim da ajuda aos países em dificuldades. Recentemente, ele travou guerra contra o fundo de salvamento da zona do euro e tentou impedir sua ratificação, alegando que assim o país perderia 40 bilhões de euros.
Entretanto, é outro crítico da atual Europa que vem liderando a corrida: o Socialistische Partij (SP) de Emile Roemer, um líder que não esconde sua simpatia por Jean Luc Mélenchon e emerge como um possível primeiro-ministro. Partido populista solidamente enraizado à esquerda, o SP seduz ao apresentar soluções supostamente "pragmáticas" aos problemas da economia, do emprego e da saúde, temas-chave da campanha.
Quanto à União Europeia, o programa do SP lamenta que, "infelizmente, ela tenha sido dominada pelas empresas e por 25 mil lobistas". Roemer critica o "ultraliberalismo" dela e suas ampliações mal controladas. Ele defende uma União "mais social, reformada e emagrecida".
Um estudo recente indicou que 49% do potencial eleitorado do SP queria "menos Europa". A proporção aumenta para 67% entre o eleitorado de Wilders. E, no conjunto dos eleitores, somente 15% das pessoas entrevistas pedem pelo inverso, ou seja, "uma Europa mais forte".
Ansiedade dos pró-europeus
Presos entre dois populismos, os grandes partidos, historicamente pró-europeus, estão ansiosos. Os trabalhistas do PVDA criticam o rigor e defendem medidas para o crescimento sem realmente convencer. As pesquisas de opinião prometem um fracasso para os democratas-cristãos do CDA, que já haviam sofrido uma grande derrota em 2010. O novo líder deles, Sybrand van Haersma Buma, não é compreendido quando ele acusa Rutte de aprovar em Bruxelas decisões que depois ele critica em Haia.
Na verdade, Rutte e seu partido, o VVD – ombro a ombro com o SP - , pretendem evitar o assunto da UE durante a campanha. Eles preferem insistir nas "boas notícias", como as que foram recebidas esta semana: o reino deverá manter sua nota AAA e acaba de sair oficialmente de uma longa fase de recessão.
Tradutor: Lana Lim
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