O Globo
É feliz a coincidência da divulgação do PIB trimestral com uma reunião do Copom de definição da taxa de juros básica (Selic). Isso pelo fato de a economia se encontrar em delicado momento, com riscos, como registrou o jornal inglês “Financial Times”, de ficar prisioneira no pior dos mundos, numa “estagflação”, mistura de baixo crescimento com inflação em alta.
A coincidência permitiu ao Banco Central — a julgar pela decisão unânime de seus diretores, reunidos no Conselho de Política Monetária — sinalizar que isso não acontecerá, se depender dele. A elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, para 8%, foi a melhor alternativa que poderiam escolher, independentemente de um PIB trimestral fraco, divulgado pelo IBGE na mesma quarta-feira.
Outro ruído nas expectativas, e em elevados decibéis, foi causado pela perigosa sinalização (ou má interpretação) de que o governo Dilma é leniente com a inflação, em nome da ilusória suposição “desenvolvimentista” de que preços em alta poderiam ajudar no crescimento. Quando é o contrário.
Certo ou errado, Dilma concluirá o mandato, ano que vem, sem ter mantido a inflação na meta dos 4,5%, até mesmo incluído no currículo o estouro do limite superior do alvo, 6,5%, em alguns meses.
Especulou-se, inclusive, que haveria uma nova meta, informal, acima dos 5%, próxima dos 6%. Se confirmado, seria algo inflamável num país ainda com vários mecanismos de indexação e persistente memória da era da superinflação.
Ao primeiro sinal de que o passado pode voltar, a sociedade aciona sistemas de defesa que levam à mais inflação, no mínimo ao seu enrijecimento. Elevar os juros no dia em que se sabe que a economia, no primeiro trimestre, continuou a gerar um “pibinho” é forte e bem-vinda mensagem do BC. Afinal, por trás do insuficiente 0,6% de expansão de janeiro a março, em relação ao último trimestre de 2012, identificam-se efeitos da própria inflação elevada, na faixa dos 6,5%.
O comportamento do setor de serviços, uma desaceleração de 0,7% para 0,5%, é sugestivo, pois a inflação do segmento roda na faixa dos 8%, bem acima da média de 6,5%. Não é por acaso.
A evolução do consumo das famílias praticamente estagnou (alta de apenas 0,1%), e a relação do resultado com a alta de preços também é óbvia, além de ser uma reafirmação do esgotamento do modelo de crescimento.
Boa notícia é a ampliação, acima do consumo, dos investimentos (4,6%), única alternativa viável de retomada da expansão em bases equilibradas. Mas, para isso, o BC precisará ser coerente com a decisão que tomou quarta-feira.
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