sábado, 1 de junho de 2013

Gigante da América Latina, Brasil exibe desenvolvimento irregular
Nicolas Bourcier - Le Monde 
No Brasil, chamam isso de "pibinho", um "pequeno" produto interno bruto (PIB), ou seja, um crescimento ridiculamente pequeno da economia. Apesar de um vigoroso plano de estímulo elaborado pela presidente Dilma Rousseff, a sétima maior potência mundial registrou, entre janeiro e março, um crescimento decepcionante de 0,6%, mesmo nível que no trimestre anterior, segundo números divulgados na quarta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O ministro da Fazenda, o indemissível Guido Mantega, na função há mais de sete anos, anunciou no mesmo dia que "evidentemente" ele iria rever para baixo as previsões de crescimento anual, atualmente em torno de 3,5%.
Outro elemento que preocupa é a inflação, assunto delicado no Brasil, que saiu em muito do quadro estabelecido pelo Banco Central. Em março, o índice de preços subiu 6,6%, número recorde desde novembro de 2011 e que ultrapassa o índice de tolerância estabelecido em 6,5%. No início de abril, o preço do tomate disparou 122%!

Falhas no modelo de desenvolvimento

Resultado: para surpresa dos mercados, o Banco Central anunciou, na noite de quarta-feira, que a taxa de juros interbancária (Selic) passaria para 8%, a fim de apertar um pouco mais sua política monetária. Alguns analistas ressaltam que isso poderia frear ainda mais os investimentos. Assim, o Brasil se torna o único país do G20 a efetuar um aumento desse nível.
São indicadores que, acumulados, vêm contrariar a ação de Rousseff, que, no entanto, determinou uma redução nas tarifas de eletricidade, exonerou de impostos a cesta básica e até mesmo exigiu uma redução no preço do transporte público nas grandes cidades.
De um ponto de vista geral, o gigante da América Latina de fato exibe um quadro desigual, com o aparecimento de falhas cada vez maiores em seu modelo de desenvolvimento. Os raros sinais de alívio registrados neste primeiro trimestre se situam no setor agrícola e pecuário, que tiveram um crescimento de 9,7%. Esse avanço --o maior desde 1998-- representa quase metade do crescimento do país nos últimos meses.
Outra novidade positiva foi a volta dos investimentos, que aumentaram 4,6% em relação ao mesmo período de 2012, após quatro recuos seguidos no ano passado. Porém, esse aumento está aquém das expectativas e previsões dos analistas, que haviam contado com um salto de 6% a 6,5%, o que traz o temor em Brasília de que esse impulso encontre dificuldades em se manter ao longo do ano.
Os sinais preocupantes revelados pelo IBGE dizem respeito essencialmente ao baixíssimo avanço no setor de serviços, que não confirmaram o impulso esperado. Com 0,5% de crescimento, esse setor realizou menos da metade do previsto. Outro ponto negativo foi a atividade industrial, que retraiu 0,3%, apesar dos vários planos de apoio.

"Direção errada"

Os olhares têm se voltado especialmente para o famoso consumo das famílias, agora quase nulo (0,1%) após anos de euforia. É um revés ainda mais difícil de aceitar para o governo de centro-esquerda que, desde a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, baseou o crescimento do país nesse apetite do consumidor, ele mesmo estimulado pelo aumento de salários e do crédito.
De fato, os brasileiros têm reduzido suas compras. O primeiro trimestre revela um gasto doméstico quase inexistente, comparado com os meses anteriores. Os supermercados, restaurantes e pequenos comércios viram sua receita cair em abril e maio, segundo análises do banco Itaú.
"Nada no Brasil atingiu um nível de crise, mas tudo parece estar indo em uma direção errada", explica Tony Volpon, estrategista do banco Nomura e especialista em economias emergentes da América Latina para a Bloomberg. Ele diz ainda: "Existe a percepção de uma deterioração constante da situação". Uma maneira de lembrar que a maior economia da América Latina acaba de registrar, pela quinta vez consecutiva, resultados inferiores aos previstos pelos analistas.
Na quarta-feira, no início da tarde, o índice Bovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, perdeu 2%, ou seja, uma queda acumulada de 10 pontos em um ano. Mas isso não foi o suficiente para abalar a confiança de Guido Mantega. Embora ele se diga disposto a rever suas previsões, o ministro ressaltou que "o Brasil começou o ano de 2013 com um crescimento bem superior e de melhor qualidade que em 2012".
Diante dos microfones, o ministro brasileiro da Fazenda não conseguiu deixar de apontar a fragilidade do clima econômico mundial, lembrando que outros países anunciaram resultados decepcionantes este ano, sobretudo da América Latina e "até mesmo a China", ele se consolou.
Tradutor: UOL

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