sábado, 27 de setembro de 2014

Cidade italiana dá passagem só de ida para quem quiser procurar emprego fora
Philippe Ridet - Le Monde
Valter Piscedda não desiste. Não será ele, o prefeito (de centro-esquerda) de Elmas, comuna de 7.000 habitantes próxima de Cagliari, na Sardenha, que dirá que "já tentou tudo que era possível contra o desemprego".
Enquanto em Roma o Senado se prepara para debater a reforma do mercado de trabalho, na sexta-feira (19) ele conseguiu com que seu conselho municipal aprovasse o financiamento de um projeto, "Adesso parto" ("Agora vou embora"), para ajudar os cidadãos que gostariam de tentar encontrar em outro lugar um emprego que tenham perdido ou que não tenham encontrado na Sardenha."Em meu gabinete", ele explica pelo telefone, "eu vinha recebendo cada vez mais gente que me dizia: 'Não tenho mais esperanças aqui. Vou para outro país trabalhar de pizzaiolo ou de pedreiro, mas não tenho nem mesmo como pagar uma passagem de avião.' O que eu podia fazer? Como prefeito, não tenho a possibilidade de criar empregos. Mas posso ajudar aqueles que mostrem uma vontade verdadeira de ir embora. Não há vergonha em querer imigrar."

Incentivar a imigração

A comuna, que, para sua alegria fiscal, não tem dívidas e abriga em seu território o aeroporto de Cagliari, alocou 12 mil euros de seus recursos para que uma dezena de pessoas pudesse deixar a cidade. Os candidatos devem atender a dois critérios: ter menos de 50 anos e residir em Elmas há pelo menos três anos.
Não há necessidade de apresentar um contrato de trabalho ou de aluguel: "Nós confiamos", explica o prefeito. Ele, por sua vez, se compromete a lhes oferecer uma passagem só de ida para qualquer capital da Europa ("Para Austrália e Estados Unidos é meio caro", parece lamentar o prefeito), os primeiros custos de instalação e cursos de inglês para facilitar a integração.
"É um incentivo para a imigração, um abandono da política, um desperdício de verba pública", criticam os opositores dessa iniciativa. "É só uma ferramenta a mais para combater o desemprego", se defende Valter Piscedda, que não quer parecer unicamente como aquele que teria encorajado e planejado a imigração dos sardos.

"Devolvendo o dinheiro dos impostos"

Em uma ilha onde o índice de desemprego chega a 19% (contra 12,3% no restante da Itália) e um de cada dois jovens não recebe salário, ele ainda implementou uma política mais clássica de ajuda às empresas que empreguem jovens sem formação para lhes ensinar uma profissão.
Mais uma vez, é a prefeitura que paga os salários desses aprendizes: 500 euros mensais durante seis meses. "No começo, esse projeto deveria contemplar 30 pessoas, mas 120 se candidataram. Decidi ajudar todas elas", ele diz. Resultado: Elmas gastou 400 mil euros nessa operação, que deve continuar.
"Só estou devolvendo o dinheiro dos impostos locais aos cidadãos", se defende o prefeito, cujo currículo que consta no website da prefeitura ressalta que ele sempre cuidou da formação dos jovens dentro de sua paróquia ou da Associação Cristã dos Trabalhadores Italianos. "Se essa iniciativa der frutos, estou disposto a financiar mais uma leva."

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