O desafio do transporte urbano
O Estado de S.Paulo
A solução do problema do transporte nas
metrópoles brasileiras - que nunca recebeu a devida atenção dos
governantes e que as grandes manifestações de junho do ano passado
recolocaram de forma ruidosa na ordem do dia - só será possível
dobrando-se os investimentos no setor. Segundo conclusões preliminares
de estudo que está sendo feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), citado pelo jornal O Globo, para isso serão
necessários R$ 229 bilhões de investimentos públicos.
Isso
significa investir 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), durante 12
anos, em linhas de metrô, trens de subúrbio e corredores de ônibus.
Dados do Ministério dos Transportes indicam que o País destina em média,
desde 1989, 0,2% do PIB para os vários tipos de transporte urbano. Ou
seja, o estudo propõe um aumento de 100% do investimento atual. Essa é
uma decisão difícil, não só pelo tamanho do esforço proposto, como
também porque dele devem participar os três níveis de poder - União,
Estados e municípios - que hoje investem nesse setor.
Os
obstáculos a serem superados para chegar a esse tipo de colaboração não
são pequenos, como mostra a experiência. Em São Paulo, por exemplo, os
investimentos para a ampliação do Metrô e a modernização da Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) têm sido feitos, principalmente,
pelo governo estadual, nas últimas décadas, com alguma ajuda da União e
muito pouca das prefeituras das cidades beneficiadas por esse sistema, a
começar pela da capital. A continuar assim, a expansão do sistema será
sempre em ritmo mais lento do que o necessário.
Tudo isso é
apenas uma das dificuldades para a solução do problema. Não basta ter
dinheiro. É preciso que ele seja aplicado nos projetos certos. É o caso
da rede metroferroviária, cuja necessidade é indiscutível. É ela a base
do sistema de transporte de massa, pela rapidez e pela pontualidade,
como mostram os exemplos das grandes cidades dos países desenvolvidos.
Mas, pelas suas próprias características, sua implantação é lenta, mesmo
quando os recursos são abundantes - o que não é o caso do Brasil, que,
ainda por cima, tem um atraso histórico nesse terreno.
No
curto prazo, o único meio de transporte coletivo que pode ser ampliado e
melhorado é o ônibus. E aqui as escolhas não têm sido boas. Embora isso
seja mais do que sabido, e há muito tempo, as prefeituras das grandes
cidades brasileiras nem de longe fazem o que deveriam para oferecer um
serviço decente à população, porque não conseguem - ou não querem -
enfrentar o poder das empresas que o controlam. Mais uma vez o exemplo
de São Paulo, a maior cidade do País, é ilustrativo.
A
atual administração municipal está tentando melhorar esse serviço,
principalmente por meio de corredores e faixas exclusivas para ônibus.
Os primeiros, uma medida acertada, não vão para a frente porque o
Tribunal de Contas do Município (TCM) suspendeu a licitação, de R$ 4,7
bilhões, para a construção de 150 km, alegando, entre outras razões,
projeto executivo incompleto e falta de comprovação de recursos
orçamentários. Ou seja, a Prefeitura não tratou esse projeto com o rigor
que ele exige.
Para piorar, continua a fazer alarde com as
faixas exclusivas, muito mais baratas, mas de necessidade duvidosa,
implantadas às pressas - já são mais de 350 km - e sem base em estudos
sérios. Essa diferença de tratamento de corredores e faixas é
lamentável, mas infelizmente não é a única indicação da ligeireza com
que a atual administração trata a questão.
Tão ou mais
importante ainda é a falta de empenho de Fernando Haddad - que nesse
ponto segue o mau exemplo de seus antecessores - na reorganização das
linhas de ônibus, de acordo com os interesses da população, que não
agrada às empresas concessionárias, contentes com a situação atual, mas é
de fundamental importância para a melhoria do serviço. As poucas
mudanças feitas não tocam no essencial.
A situação das outras grandes cidades não difere muito da de São Paulo, o que mostra o tamanho e a gravidade do problema.
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