terça-feira, 30 de setembro de 2014

Protestos em Hong Kong representam desafio ao governo chinês
Edward Wong e Chris Buckley - NYT
Tyrone Siu/Reuters
Ativista atinge recorte com rosto do chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying Ativista atinge recorte com rosto do chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying
O Partido Comunista da China tem ampla experiência em extinguir agitação. Por anos, ele usou uma mistura hábil de censura, prisões, força armada e, cada vez mais, dinheiro para reprimir ou abrandar os pedidos por mudanças políticas. Mas ao enfrentar as imensas manifestações de rua em Hong Kong, que exigem mais democracia no território, a caixa de ferramentas do presidente da China, Xi Jinping, parece notavelmente vazia.
Hong Kong é um enclave próspero e maduro que cresceu relativamente imune aos agrados de prosperidade mútua, que ajudaram a mantê-lo estável por 16 anos de governo chinês. E como uma ex-colônia britânica com suas próprias leis e tradições de liberdade, uma repressão severa aos protestos em grande parte pacíficos quase certamente sairiam pela culatra aqui, especialmente diante da atenção internacional.
"No continente, enquanto você puder controlar as ruas com soldados suficientes e armas, você pode matar um protesto, porque todos os demais lugares já são controlados: a imprensa, a Internet, as escolas, cada bairro e cada comunidade", disse Xiao Shu, um escritor do continente que é um acadêmico visitante da Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan. "Em Hong Kong, as ruas não são o único campo de batalha, como no continente."
Ao mesmo tempo, Hong Kong já está sob soberania de Pequim há tempo suficiente a ponto de até mesmo concessões modestas poderem sinalizar facilmente ao outro lado da fronteira que protestos em massa dão resultados --algo que as autoridades em Pequim parecem determinadas a impedir, dizem analistas do continente.
Portanto, o futuro de Hong Kong pode depender muito de Xi contar com influência, habilidade e visão para encontrar uma solução que mantenha o território estável, sem provocar pedidos semelhantes por mudança mais perto de casa.
"Isto já é muito maior do que qualquer coisa que as autoridades em Pequim ou Hong Kong esperavam", disse Larry Diamond, um membro sênior da Instituição Hoover da Universidade de Stanford, que estuda o desenvolvimento democrático. "Eles não têm uma estratégia para desarmá-los pacificamente, porque isso exigiria negociações, e não acho que o presidente Xi Jinping permitirá isso. Agora, se ele ceder, ele parecerá fraco, algo que ele claramente detesta."
O retrospecto de Xi até o momento --oposição inflexível a liberalização política e protestos públicos tem sido a marca de seu governo-- sugere um político que abomina fazer concessões. Ele se apresenta como um homem forte não visto na China desde os tempos de Deng Xiaoping e Mao Tsé-tung, e poucas pessoas do partido e analistas políticos, se é que há alguma, esperam que ele considere seriamente as exigências por eleições democráticas plenas em Hong Kong.
Na verdade, seu estilo de homem forte pode ter ajudado a criar a crise. Na China continental, o uso da Polícia Armada do Povo --uma força paramilitar uniformizada de verde que é especializada em controle de multidões-- é virtualmente certa para esmagar um protesto, e autoridades por todo o país, da região autônoma do Tibete até a província de Guangdong, vizinha de Hong Kong, fazem uso desse plano com frequência. Mas na segunda-feira, os líderes pró-Pequim de Hong Kong pareceram reconhecer seu erro de recorrer rapidamente à força ao retirarem a polícia.
Xi tem outro motivo para não ceder às exigências dos manifestantes, disse Deng Yuwen, um ex-editor do "Study Times", um jornal do partido: quaisquer concessões significativas poderiam inspirar manifestações no continente a respeito de outras causas.
Os ativistas e estudantes de Hong Kong "não entendem que o governo central não lidará com as questões de Hong Kong puramente nos termos de Hong Kong", ele disse. "Ele vê Hong Kong em termos da China como um todo. Ele teme que a reação em Hong Kong seja reproduzida no continente. Eu não acho que o (movimento) Ocupe o Central entende isso."
Mas ainda restam opções de concessões caso Xi opte por elas. Uma é substituir Leung Chun-ying, o atual chefe do Executivo, uma figura odiada pelos defensores da democracia. O pedido por sua queda é quase universal entre os manifestantes. Em uma rua na segunda-feira, os manifestantes decoraram um ônibus para lembrar um caixão para Leung. Em outro lugar, as pessoas xingavam um cartaz com a imagem dele.
Uma medida dessas poderia bastar para reduzir a força dos manifestantes, apesar de ser improvável que isso atenda suas exigências. Em caso de queda de Leung, Pequim quase certamente colocaria no poder alguém igualmente servil ao partido. Outra opção seria permitir ao público votar em todos ou na maioria dos 1.200 membros do comitê de nomeação, que então selecionaria um punhado de candidatos a chefe do Executivo para uma eleição geral.
"Eu acho que essa seria uma solução que a maioria dos moradores de Hong Kong aceitaria, e que cumpre a Lei Básica", disse Xiao, referindo-se à estrutura constitucional de Hong Kong. Também pode haver formas de Pequim parecer mudar o comitê sem realmente abrir mão do controle, mas até mesmo a aparência de concessão poderia ser mais do que Xi pode tolerar.
Desde o início de seu mandato, ele falou às autoridades do partido sobre a necessidade de aprender com as lições da ex-União Soviética, que ruiu por vários motivos, incluindo o que as autoridades chinesas acreditam ser um controle frouxo das diferentes regiões étnicas distantes de Moscou e dos Estados-satélite do Leste Europeu.
"No final, ninguém foi homem de verdade, ninguém se apresentou para resistir", Xi disse sobre a dissolução do Partido Comunista soviético, segundo documentos do partido.
Reportagem de Edward Wong, em Pequim, e Chris Buckley em Hong Kong. Michael Forsythe em New Haven, Connecticut (EUA), contribuiu com reportagem adicional. Mia Li, em Pequim, contribuiu com pesquisa. 
Tradutor: George El Khouri Andolfato

Nenhum comentário: