Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine no pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar
GUILHERME FIUZA - O Globo
Dilma sobe nas pesquisas, a bolsa despenca, e lá vêm os gigolôs da bondade denunciar a trama capitalista contra o governo do povo. Mas o que dizer então da bolsa eleitoral? Quanto mais apodrece o escândalo da Petrobras, mais Dilma se recupera nas pesquisas. Será que o eleitor está querendo virar sócio do petrolão?
Só pode ser. O espetáculo da orgia na
maior empresa brasileira chegou ao auge com a delação premiada do
ex-diretor Paulo Roberto Costa. Em ação raríssima entre os oprimidos
profissionais, o réu decidiu abrir o bico. Talvez tenha aprendido com a
maldição de Valério — que demorou a soltar a língua, e de repente a
quadrilha (desculpe, ministro Barroso) já estava em cana. E seu silêncio
não valia mais nada. Diferentemente do operador do mensalão, o
despachante do petrolão não quer mofar. E saiu entregando os comparsas.
Apontou
duas outras diretorias da Petrobras como centrais da tramoia, dando os
nomes dos seus titulares — indicados, que surpresa, pela cúpula do PT.
Isso em plena corrida presidencial. Então a candidata petista está
ferida de morte, concluiria um marciano recém-chegado à Terra. Não,
senhor marciano: após o vazamento da delação, a candidata do PT subiu
nas pesquisas.
Ora, não resta outra conclusão possível: o eleitor
quer entrar na farra do petrolão. Está vendo quantos aliados de Dilma
encheram os bolsos com o duto aberto na Petrobras, e deve estar achando
que alguma hora vai sobrar um qualquer para ele. É compreensível. Se o
esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine quando a
prospecção chegar ao pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar (a
não ser os reacionários que não cultivarem as relações certas).
É
o show da brasilidade. O operador do petrolão é colocado no cargo no
segundo ano do governo Lula, indicado por um amigo do rei já lambuzado
pelo mensalão. No tal cargo — a Diretoria de Abastecimento da Petrobras
—, ele centraliza um esquema bilionário de corrupção, que floresce
viçoso à sombra de três mandatos petistas. A exemplo do mensalão, já se
sabe que o petrolão contemplava a base aliada do governo popular. E
quase 40% dos brasileiros estão dizendo que votarão exatamente na
candidata desse governo lambuzado de petróleo roubado.
Mas os
progressistas continuam sentenciando, triunfais: o Brasil jamais será o
mesmo depois das manifestações de junho de 2013. Nesse Brasil
revolucionário, cheio de cidadãos incendiados de bravura cívica, a CPI
da Petrobras, coitada, agoniza em praça pública. Sobrevive a cada
semana, a duras penas, com mais um par de manchetes da imprensa burguesa
e golpista, que insiste em sabotar o programa do PT (Petrolão para
Todos). Tudo em vão. Com uma opinião pública dessas, talvez os
companheiros possam até desistir do seu plano chavista de controle da
imprensa: o assalto à Petrobras não faz nem cócegas no cenário
eleitoral. Contando, ninguém acredita.
O marciano está tonto.
Pergunta, angustiado, que fim levou o escândalo da Wikipédia. Tinham
dito a ele que dois jornalistas influentes — da teimosa parcela dos que
não se venderam ao governo popular — tiveram seus perfis adulterados com
graves difamações, e que isso fora feito de dentro do Palácio do
Planalto. Agora informam-no que o selvagem da Wikipédia, outra surpresa,
é filiado ao PT. E funcionário do Ministério das Relações
Institucionais de Dilma. O inocente ser de Marte pergunta, já com falta
de ar, o que a presidente da República está fazendo para provar que o
espião não está seguindo diretrizes da cúpula do governo.
A
resposta faz o marciano desmaiar: nada. Dilma Rousseff não precisou
fazer absolutamente nada para provar que o criminoso palaciano não
seguiu ordens superiores. Apesar da folha corrida do PT na arte de
montar dossiês e traficar informações sobre adversários, o Brasil deixou
por isso mesmo. Como também tinha deixado a combinação de perguntas e
respostas na CPI da Petrobras, com participação do mesmo Ministério das
Relações Institucionais. Nem uma passeata, nem uma ruazinha fechada, nem
um cartaz, nem uma queixa no Twitter. Os brasileiros abençoaram a
guerra suja do PT para ficar no poder.
O Brasil está louco para
virar Argentina. Assistiu chupando dedo à tentativa de golpe no IBGE,
com a tentativa de interrupção da pesquisa de emprego. Agora o mesmo
IBGE, de forma inédita, apresenta seus indicadores anuais e desmente os
dados no dia seguinte. Como até o marciano sabe, a companheira Kirchner
adestrou o IBGE de lá, que passou a fazer música para os ouvidos do
governo. O PT segue firme nessa escola, com sua já famosa maquiagem
contábil, que acaba de raspar o Fundo Soberano para ajudar a fechar a
conta da farra.
O eleitor está certo: vamos reeleger Dilma. Assim
chegará o dia em que não apenas a elite vermelha, mas todo brasileiro
terá direito à propina própria. Chega de desigualdade.
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