Apenas 42% dos adolescentes de países europeus falam um segundo idioma
R. M de Rituerto e J. A. Aunión - El Pais
Às vezes é preciso fazer perguntas óbvias, mesmo que as respostas sejam óbvias. Você acredita que falar idiomas é muito útil? Sim, respondem 88% dos europeus em uma pesquisa Eurobarômetro. E para seus filhos, será útil no futuro? 98% de assentimento. Mas do dito ao fato há um grande percurso. Menos da metade (42%) dos adolescentes de 14 países europeus tem competência suficiente em uma língua estrangeira, porcentagem que volta a se reduzir à metade (25%) entre os capazes de se expressar em um segundo idioma.
E os espanhóis, como sempre, estão entre os que têm mais dificuldades: só 27% dos alunos do último ano do segundo grau se expressam com independência em inglês (e são apenas 24% se ficarmos na compreensão oral). Estão, sem dúvida, muito longe dos 82% de suecos.
Há uma década, o Conselho Europeu realizado em Barcelona em março de 2002 concordou em ensinar às crianças do continente pelo menos duas línguas estrangeiras desde uma idade precoce. A primeira análise sobre os progressos, divulgada nesta semana, revela que resta muito caminho a andar. Os números reais podem ser diferentes porque, por razões não explicadas, só participaram do estudo 14 dos 28 países (a Croácia entrará para a UE dentro de um ano, mas está entre os consultados), embora tenham sido cotejados 54 mil estudantes.
Os alunos espanhóis não são os piores no jogo multilinguístico - onde menos se fala outra língua é na Hungria (65% de monoglotas), Itália (62%), Reino Unido e Portugal (61%) e Irlanda (60%) -, mas estão, sem dúvida, no último vagão.
"A Espanha precisa melhorar seus resultados em inglês, sobretudo na compreensão oral", diz o relatório. Dos três âmbitos que o estudo mediu, o oral é o pior: quase um terço dos alunos de 14 anos tem o nível de competência mais baixo (somente adiante da França); em compreensão de leitura é 18% e em escrita, 14%. No número combinado das três categorias oferecidas pela Comissão Europeia, apenas um em cada quatro estudantes espanhóis (27%) consegue se expressar em inglês com comodidade.
Por que os espanhóis se saem tão mal em idiomas? O estudo europeu dá algumas chaves que, embora apontem em grande medida para fatores externos à escola, não a eximem de sua parte de responsabilidade nos dados negativos publicados nesta semana. O fato de o espanhol ser uma língua de enorme potência internacional e, sobretudo, o pouco inglês falado pelos pais dos alunos representam uma grande desvantagem para o aprendizado do idioma, afirmam as professoras da Universidade do País Basco Sara de la Rica e Ainara González, em um dos trabalhos encomendados pelo Ministério da Educação espanhol para analisar o relatório. As acadêmicas comparam os resultados da Espanha com o melhor classificado no ranking: a Suécia.
Assim, contra esses condicionantes externos (o domínio da língua por parte dos pais e a potência internacional do espanhol), pouco parece adiantar que os alunos espanhóis comecem a estudar inglês antes (aos 3 anos, contra 6 ou 7 na Suécia), que tenham mais horas de aulas (cerca de 50 minutos a mais por semana) e que façam quase o dobro de exercícios (3,11 horas semanais, contra 1,8 no país escandinavo).
Outra grande variável que costuma explicar as diferenças é o contexto socioeconômico e cultural. Três comunidades espanholas aumentaram a amostragem de alunos no exame para ter dados próprios: Navarra, uma das regiões mais ricas, que está praticamente na média europeia, e Canárias e Andaluzia, mais pobres, aparecem muito abaixo dessa média.
No entanto, a escola também tem muito a melhorar. E não só porque "os recursos humanos, materiais e financeiros" condicionam as diferenças, segundo o relatório elaborado pelo ministério. Mas, sobretudo, porque o fato de as aulas extraescolares de inglês representarem uma grande vantagem para quem as assiste pode significar que "algo poderia estar falhando na metodologia das aulas espanholas, talvez com um enfoque ainda tradicional", segundo De la Rica e González.
"A escola deve contribuir para articular os contextos de aprendizado também no contexto familiar e comunitário", explica o professor Plácido Bazo, da Universidade de La Laguna. E dá um exemplo: "Se estou ensinando a meus alunos na aula de inglês a diferença entre comida saudável e não saudável, posso lhes dar listas de vocabulário para que aprendam, que é o que se costuma fazer, e assim vamos... Mas também posso lhes pedir que quando cheguem em casa abram sua geladeira e façam com seus pais a lista de comida saudável e não saudável que contém; se o pai sabe inglês o ajuda, se não passa um momento divertido. E no dia seguinte na aula comentamos as geladeiras de todos os outros", afirma.
Mas nem tudo é método, pois o outro grande problema indicado persistentemente é a falta de competência linguística dos próprios professores. Se compararmos os professores de inglês e de francês (desse idioma foram examinados os alunos espanhóis como segunda língua estrangeira), um em cada cinco docentes da língua a falavam desde pequenos, contra menos de um em cada dez dos professores de inglês. Um maior domínio em geral do idioma que ensinam é uma das explicações que os especialistas dão para os resultados da Espanha em francês: 28% o manipulam com desembaraço, levando em conta que é uma matéria optativa que se estuda muito menos horas que o inglês e que dentre 13 países somente a Bélgica e os Países Baixos superam a Espanha nesse outro ranking.
Deve-se levar em conta, em todo caso, que o francês foi durante muitos anos a língua estrangeira ensinada nas escolas espanholas. Além disso, é crucial a autoescolha dos alunos: o francês é uma matéria optativa em que costumam se matricular jovens de famílias de maior nível socioeconômico e cultural e com melhores notas.
Mas também há um fator que indica a importância dos recursos nestes tempos de cortes orçamentários que estão reduzindo significativamente (e o farão ainda mais) o número de professores, e com isso a possibilidade de ter classes com menos alunos. "Setenta e nove por cento das escolas da amostragem de francês têm classes com menos de 25 alunos, contra 56% dos centros da mostra de inglês", dizem em um dos trabalhos feitos para o ministério as professoras Brindusa Anghel e Maia Guell. E acrescentam: "O tamanho da classe afeta algumas destrezas (como a compreensão oral), embora não afete outras (como a compreensão escrita)". Lembremos que dentro dos maus resultados gerais em inglês o buraco mais profundo está na compreensão oral.
E essa compreensão oral é a base de tudo o mais, segundo os especialistas da Universidade de Santiago de Compostela José Manuel Vez, Esther Martínez e Alfonso Lorenzo. "Quem não compreende ou compreende pouco, não fala ou fala muito pouco. A crença expandida de que os idiomas são aprendidos na escola ou em centros especializados graças a uma boa disciplina de estudo não tem uma correspondência empírica suficiente", dizem em seu trabalho. Assim, concentram suas sugestões em aumentar o contato das crianças e adolescentes com o inglês através dos meios de comunicação, sobretudo a televisão. "Que nas residências o canal de áudio da TDT seja recebido por padrão na versão original, e não como hoje, que ativa em modo dublagem os filmes e seriados estrangeiros (em uma altíssima porcentagem em língua inglesa)."
O inglês é a primeira língua estrangeira mais estudada e falada pelos europeus (a número 1 em 19 dos 25 países em que não é oficial: todos menos Irlanda e Reino Unido), e em inglês respondeu às perguntas a comissária europeia de Educação, a cipriota Androulla Vassiliou. "Sejamos realistas: na UE se escolhe o inglês, que está se transformando na língua franca. O que não quer dizer que não se deva promover outras línguas."
De fato, esse primeiro estudo sobre a competência linguística foi realizado levando em conta o ensino como língua estrangeira de apenas cinco idiomas (alemão, espanhol, francês, inglês e italiano) e levando em consideração as duas mais ensinadas em cada país (inglês e francês para a Espanha). Depois do imbatível inglês, o francês é estudado como primeira língua só no Reino Unido. Na Bélgica também o é como primeira alternativa nas regiões do país que falam holandês e alemão, embora tenha caráter co-oficial.
A paisagem linguística se enriquece no âmbito das segundas línguas estrangeiras mais demandadas, entre as quais o alemão leva o prêmio em sua qualidade de língua mais falada na Europa (16% de língua materna) e a influência que a Alemanha exerce sobre o centro e o leste da Europa. O espanhol é a segunda língua estrangeira mais estudada na França e na Suécia (que têm somadas cerca de 70 milhões de habitantes), enquanto o francês o é na Espanha, Grécia e Portugal (cerca de 66 milhões). O italiano só é a segunda língua em Malta.
A pesquisa sobre competência linguística revela que à utilidade manifesta do inglês como língua franca europeia se soma sua facilidade de aprendizado, o que faz que a metade dos que a estudam hoje termine por alcançar um nível aceitável de expressão. No extremo oposto está o espanhol: só 8% dos estudantes chegam a concluir o curso com um controle que lhe permita manejar com autonomia a língua de Cervantes.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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