sábado, 1 de junho de 2013

Leilão da austeridade: Paris limpa adega de vinhos do palácio
Stefan Simons - Der Spiegel
Pela primeira vez, garrafas de vinhos valiosos do palácio presidencial em Paris serão leiloadas nesta semana. Em um esforço para levantar dinheiro, o governo atado pela austeridade planeja comprar vinhos mais modestos com a receita do leilão, com o superávit destinado aos cofres públicos.
Sob o Palácio do Eliseu, ao lado de um bunker com o codinome "Júpiter", se encontra a melhor adega de vinhos da França. As garrafas ficam em caixas e em prateleiras na penumbra. A sala com ar condicionado guarda mais de 15 mil garrafas, das melhores regiões produtoras de vinho do país –significativamente mais do que as adegas do Ministério das Relações Exteriores, do Parlamento ou do Senado.
Entre os tesouros estão vinhos Grand Cru como Pétrus, Lafite e Mouton, além de champanhes finos.
Uma pequena parte do estoque precioso, aproximadamente 1.200 garrafas, será leiloada em 30 e 31 de maio. Não se trata de uma renúncia completa do luxo pelo presidente socialista francês, François Hollande. "Ao fazer isso, não estou tentando enfatizar que sou um 'presidente normal'", ele disse repetidamente à sua equipe.
O motivo por trás do leilão é que não há número suficiente de garrafas de muitos vinhos para serem servidos em banquetes. Ele disse que a receita do leilão seria destinada à compra de vinhos mais modestos, com o "superávit destinado ao orçamento".

'Embaixadores da cultura francesa'

Entre os vinhos que serão leiloados estão Riesling e Gewürztraminer da região da Alsácia; Chablis, Corton e Meursault da Borgonha; vinho do Vale do Loire; vinho de Bordeaux e do Vale do Ródano. Os valores estimados variam entre 30 euros e 2.500 euros por garrafa.
Um comunicado de imprensa poético da casa de leilão Kapandji Morhange declarou que a venda reflete o "espectro de nossa perícia enológica". Os vinhos, disse a casa de leilão, são "embaixadores tanto da cultura quanto da tradição francesa".
Os vinhos contam com curadoria especial no Eliseu, por serem considerados riqueza e herança do país. Desde 1879, quando o palácio se tornou oficialmente a residência do presidente da república, as melhores garrafas de vinho passaram a ser armazenadas aqui visando serem desfrutadas em jantares de Estado. Os soldados alemães que hastearam a bandeira nazista sobre o prédio após a ocupação, em 14 de junho de 1940, desrespeitaram essa tradição quando saquearam as reservas de vinho para a celebração da vitória.
O palácio recebeu uma nova adega de vinhos em 1947, e após cada colheita, as melhores variedades são adicionadas. Algumas das inclinações vitícolas de antigos chefes de Estados são surpreendentes.
-O general Charles de Gaulle gostava de beber vinho, mas especialmente o Drappier Champagne, pelo qual ele pagava voluntariamente do próprio bolso.
-François Mitterrand gostava especialmente do Haut-Marbuzet, da região de Médoc.
-Seu sucessor, Jacques Chirac, preferia beber a cerveja mexicana Corona em seus aposentos privados. Sua esposa, Bernadette, a anfitriã do palácio, reformou a adega de vinhos e assumiu a compra regular de vinhos de prestígio, como Mouton-Rothschild ou Margaux, levando a um aumento de 20% no orçamento.
-Sob o não bebedor Nicolas Sarkozy (que dizem que preferia escutar outros falando sobre vinhos), as compras de vinhos foram reduzidas devido à crise econômica. Mas com uma verba anual de 250 mil euros, a sommelier do Palácio do Eliseu, Virginie Routis, ainda contava com um amplo orçamento.

Certo prestígio

Routis, que manteve seu cargo quando Hollande assumiu, agora está supervisionando a venda. Os vinhos escolhidos para o leilão foram levados há três meses para um cofre na adega de vinhos Chemin des Vignes, em Issy-les-Moulineaux, um subúrbio de Paris. Garrafas como um Château Suduiraut, de 1967, ou um Château d'Yquem Premier Cru, de 1855, estão prontos para ser avaliados.
"Esses produtos excelentes fazem as pessoas sonharem", disse Yves Legrand, proprietário do cofre. E ele não fala apenas da qualidade dos bens. Quase tão importante quanto o próprio vinho é o proprietário anterior.
"O fato dessas garrafas virem do Eliseu lhes dá muito prestígio", disse um funcionário. E para garantir que esse prestígio esteja visível na mesa em casa, as garrafas serão rotuladas com adesivos em azul, branco e vermelho –as cores da República.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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