Persiste a falta de clareza e precisão dos candidatos
Com propostas genéricas e imprecisas, candidatos passam a impressão que tentam esconder a própria fragilidade de seus projetos
O Globo
A
primeira vítima numa campanha eleitoral é a verdade. A sentença, como
toda frase feita, é arbitrária. Mas serve para resumir o teor de ataques
petistas a Marina Silva (PSB), a maior ameaça, até agora, ao projeto de
reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Diante do escasso
efeito, porém, a agressiva estratégia seria revista. Também porque
surgiram sinais na última pesquisa Ibope-Rede Globo de que as distorções
maniqueistas de filmetes produzidos para “desconstruir” Marina estariam
prejudicando a própria Dilma. Um tiro pela culatra.
A
candidata-presidente, então, tenderia a ser mais propositiva. Se assim
for, ganharão os eleitores. Dilma já tem feito a defesa de políticas e
programas isolados, enquanto dá balanços positivos de atos do governo.
Ao tratar, por exemplo, do Supersimples — desburocratiza a vida do
pequeno empreendedor e estabelece uma carga tributária leve sobre ele —,
a candidata se compromete a criar uma “rampa” tributária, a fim de o
pequeno empresário não ser punido punido se crescer. É boa iniciativa.
Mas
o que se quer saber mesmo são questões macroeconômicas, da própria
filosofia de condução do país por Dilma: insistirá no intervencionismo? O
Banco Central continuará uma espécie de sucursal do Planalto? Vai
combater como preciso a inflação, ou a elevada taxa de 6,5% anuais foi
mesmo convertida em centro da meta? A contabilidade criativa persistirá
tornando cada vez menos transparente as contas públicas? É ingênuo
esperar que haja respostas diretas. Mas PT e candidata podem ter certeza
que a omissão em torno desses e outros assuntos cruciais soará como
confirmação de que o segundo mandato será um videoteipe do primeiro,
apesar do fracasso da política econômica, expresso na elevada inflação,
no baixo crescimento — que já começa a afetar o emprego —, nos
investimentos anêmicos, nos desequilíbrios externos e na hemorragia
fiscal.
Marina Silva e Aécio Neves (PSDB) também precisam expor
com clareza, e aos detalhes, qual o programa de seu eventual governo.
Marina divulgou uma primeira versão de propostas e promete uma nova,
mais detalhada.
Pode aproveitar para explicar de onde virão os R$
150 bilhões que, se estima, custarão, em quatro anos, propostas que
faz, sem incluir um amplo programa de mobilidade urbana para cidades com
mais de 200 mil habitantes. Deveria, ainda, esclarecer a cariocas e
fluminenses se irá mesmo tirar royalties do Rio, reduzir investimentos
no pré-sal e interromper as obras de Angra3.
Aécio deve divulgar
seu programa semana que vem. Mas anuncia-se que será genérico — um erro.
Paira a sensação de que a falta de objetividade e clareza em propostas
esconde a sua própria fragilidade. Tem sido assim em eleições. Mas hoje a
situação do país exige uma dose bem maior de franqueza e honestidade.
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