segunda-feira, 28 de novembro de 2011

FAVELA DO ALEMÃO - COMO "PACIFICÁ-LO" E ACABAR COM O NARCOTRÁFICO?

A delicada construção da paz no Alemão


Um ano depois da retomada do complexo pelas forças de segurança , a vida de seus 80 mil moradores transformou-se. Mas o tráfico aposta no retrocesso, e a permanência do Exército ainda é foco de tensão.

O GLOBO
O dia 28 de novembro de 2010 entrou para a história do Rio de Janeiro como uma data de libertação. Em reação a uma escalada do terror no Rio de Janeiro, o estado retomou o controle sobre o território onde o tráfico de drogas se tornara o algoz de uma população de cerca de 80 mil pessoas. A guerra mobilizou toda a polícia do Rio, e mais centenas de homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que entraram na manhã de domingo no Complexo do Alemão e hastearam as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro para demonstrar que dali por diante aquela área voltaria a ter como donos os cidadãos cariocas. Na semana anterior, a cena da fuga de dezenas de bandidos da vizinha Vila Cruzeiro, mostrada ao vivo pela televisão, já indicava que novos ventos sopravam na região. De fato. Um ano depois, o Alemão ganhou teleférico, UPA 24 horas, integrou circuito de festival internacional de cinema e virou – merecidamente - cartão postal do governo estadual. A guerra pela paz, no entanto, está longe de terminar.
O Alemão ainda vive tempos de instabilidade. O tráfico demonstra seu poder de resistência em episódios como o da última quinta-feira, quando houve troca de tiros entre homens do Exército e traficantes, na região conhecida como Pedra do Sapo, e um soldado foi atingido. O patrulhamento pelas ruas do Alemão e pelo Complexo da Penha é sempre feito por grupos compostos entre nove e 12 militares. Na quinta-feira, o grupo estava a pé quando foi atacado pelos bandidos. No dia seguinte, a ronda foi intensificada. Mas os criminosos desaparecem com a mesma rapidez com que voltam para perturbar a vida no Alemão. O momento mais tenso deste primeiro ano de ocupação aconteceu em setembro. Um intenso tiroteio, desencadeado a partir do ataque a um veículo militar, remeteu aos tempos em que a maior facção criminosa do Rio de Janeiro tinha pleno domínio daquele território.
Casos explícitos de violência, como tiros e soldado baleado, são apenas parte dos problemas que persistem no Alemão. Denúncias de abusos dos militares e prisões de moradores por desacato são parte de uma lista que começou ainda durante a ocupação, quando policiais saquearam as casas das favelas. As dificuldades encontradas na convivência entre militares e moradores era esperada. Por mais que o Exército insista em dizer que aprimorou o trato cotidiano com as pessoas na missão de paz no Haiti, os militares não estão preparados para agir como polícia.
Exército - A permanência do Exército, que já foi prorrogada até julho de 2012, acontece porque não existem policiais suficientes para instalar no complexo as Unidades de Polícia Pacificadora. E é definida como desvio de função pelo sociólogo Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro do Conselho Estadual de Defesa de Direitos Humanos. A permanência do Exército foi contestada pelo próprio Ministro da Defesa, Celso Amorim. Durante um evento em outubro, quando assinou a prorrogação da presença de militares no Alemão, ele disse que os militares estão sim preparados para a ocupação. “Talvez não estejam preparados é para ficar permanentemente numa função que não é a sua", ponderou Amorim.
O resultado disso é percebido no dia a dia das favelas. Em setembro, houve um conflito entre moradores e homens do Exército. A versão da instituição foi a de que um morador desrespeitou a tropa. Ele teria recebido uma ordem de prisão por desacato, e isso resultou em agressões dos moradores contra as autoridades. Já quem estava no local disse que o problema começou quando um militar mandou que o som de uma televisão fosse diminuído. Em outubro, com a autorização judicial, o Exército conseguiu mandados para entrar e vasculhar as casas de moradores de todo o Complexo do Alemão - algo muito próximo de um estado de sítio.
Ignácio Cano afirma que o conselho de Direitos Humanos tem recebido denúncias de abusos por parte dos militares na aplicação do desacato. “É uma questão delicada. Os militares aplicam o código da Justiça Militar quando autuam alguém por desacato. Se fosse a polícia, o morador poderia levar o caso para o tribunal de pequenas causas”, explica. O major Leonardo Watson, do setor de comunicação da Força de Pacificação, afirma que os casos de desacato diminuíram vertiginosamente. “De vez em quando alguém se exalta um pouco nas festas. Mas é quase zero”, diz Watson.
Estatísticas - Os registros da 22ª DP, delegacia que recebe 90% das queixas do complexo, confirmam redução gradual dos índices de criminalidade. Em um ano, a quantidade de homicídios dolosos caiu de 50 para 43, os autos de resistência (mortes de suspeitos em confronto com a polícia) caíram de 16 para oito. A estatística mais eloquente, por se refletir diretamente na sensação de segurança da população, é a que registra a redução do roubo a transeunte: o número de ocorrências caiu praticamente à metade, de 1.380 para 768.
O Comando Militar do Leste também tem números para mostrar. Ao longo de um ano, com mobilização de 42.836 patrulhas realizadas a pé e de outras 35.831 feitas com veículos, foram apreendidos oficialmente 30.000 dólares e 75.848,50. As drogas apreendidas chegaram a 10.345 papelotes de cocaína, 1.056 pedras de crack, 34 quilos de maconha, 1.100 trouxinhas de haxixe. Foram presas 171 pessoas, e recolhidos 138 automóveis e 166 motocicletas. Não são números espetaculares. Mas significam, no conjunto, um passo importante para a retomada o Rio de Janeiro pelos cidadãos.
Mais importante que qualquer resultado da polícia é a constatação de que entrar e sair do imenso conjunto de favelas não é mais, há um ano, uma operção de guerra. A reconquista histórica mostrou que o estado, quando quer, é capaz de se sobrepor ao poder do crime e ocupar o território. O momento, agora, é de mostrar que é possível mantê-lo em paz.

O Blog:
Não posso dar a minha opinião sobre esse assunto.  Ela é politicamente incorreta.  Mas o trafico terminria em 15 dias.
É só ter as pessoas certas para fazer o serviço.

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