Caça aos gazeteiros
FSP - Editorial
Em algumas histórias em quadrinhos, e nos filmes americanos antigos, não era incomum a figura do "caçador de gazeteiros".
Escondido atrás de moitas e arbustos, um clássico senhor de chapéu preto e olhar atento estava pronto a interromper as travessuras de Bolinha, Huguinho ou seja lá que nome tivessem, reconduzindo-os aos bancos da escola para sessões extras de caligrafia ou tabuada.
Os tempos mudaram, o lugar é outro, e a escola já não é lá essas coisas, mas a ideia volta a ser aplicada. A saber, no Itaim Paulista, periferia extrema da cidade de São Paulo.
Uma força-tarefa, da qual participam policiais militares e guardas metropolitanos, tem sido mobilizada para varejar as áreas verdes da região, em busca de cabuladores.
A última operação desse tipo superou as expectativas de seus realizadores. Depois de fechados os portões do parque, foram abordadas cerca de cem pessoas, entre crianças e cidadãos de ar suspeito.
Um menor de idade e um adulto portavam drogas; foram levados à delegacia. Filas indianas separaram meninos e meninas, posteriormente inquiridos um a um quanto a seus horários escolares.
Cabuladores confessos teriam, então, de ser encaminhados aos respectivos estabelecimentos de ensino. À falta de transporte suficiente, todavia, decidiu-se, por alguma razão, que só as meninas receberiam tal tratamento.
Reconheça-se que a iniciativa atende a desejo de moradores do local, representados no Conselho Comunitário de Segurança da subprefeitura. Parece, no mínimo, inadequado, entretanto, que forças policiais sejam mobilizadas nessa empreitada socioeducativa.
Em qualquer escola que se preze, o aluno que não comparece a um número determinado de aulas está sujeito a perder o ano. Em qualquer escola que se preze, não são frouxos os critérios de avaliação nem tão frequentes os casos de absenteísmo dos professores, como ocorre no Brasil.
Reside nisto, e não no problema dos gazeteiros do Itaim Paulista, o verdadeiro caso de polícia na educação pública do país.
Mais uma vez, as forças da segurança desviam-se de suas funções, como se não tivessem outras, e mais graves, questões a resolver. Falta alguém ter a ideia de introduzir a caça aos gazeteiros na USP -e, aí sim, estaria completa a lição edificante.
Do Blog:
Onde estão os pais dessas crianças?
É muito difícil criar um filho? Por que o concebeu? E com certeza vai parir mais dessas crianças sem pais. Controle de natalidade já!
Ps.: o destaque é meu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário