segunda-feira, 28 de novembro de 2011

FRANÇA X ALEMANHA - FSP

Política monetária opõe Alemanha e França
Maiores potências da Europa disputam cabo de guerra sobre papel do Banco Central Europeu na crise econômica
Posição alemã contra intervenção agressiva do BCE prevalece, mas especialistas advertem para futuros problemas
CAROLINA VILA-NOVA
O Banco Central Europeu está no meio de um cabo de guerra entre as duas principais potências da Europa, Alemanha e França, sobre que armas adotar para impedir o avanço da crise para mais países da zona do euro.
O termo-chave é "credor de último recurso". No jargão econômico, significa que o banco central injeta alta soma numa instituição quando ninguém mais está disposto ou tem condições de fazê-lo.
Na prática, a ideia é que o BCE compre sem restrições títulos da dívida dos países endividados da zona do euro, além de ampliar o programa de empréstimos e refinanciamentos bancários. Teria, então, um papel semelhante ao do Fed, o BC americano.
Economistas veem o BCE como única instituição europeia com poder de fogo para emitir um sinal de confiança aos mercados diante do enorme volume da dívida pública conjunta da zona do euro: em torno de 10 trilhões.
O mecanismo europeu de estabilidade (EFSF, na sigla em inglês), com seus 440 bilhões, não está à altura do desafio. Mas a Alemanha é contra qualquer intervenção mais agressiva do BCE.
"Os alemães não gostam da ideia de encorajar os demais a incorrer em deficit orçamentário e depois pedir que os outros paguem a conta. Acham que é má ideia dar dinheiro de graça para quem não fez o dever de casa por décadas", explica Charles Wyplosz, especialista em política monetária e professor de economia internacional do Graduate Institute (Suíça).
O governo da chanceler (premiê) Angela Merkel alega ainda que tamanha injeção de moeda pode causar surto inflacionário na região. É algo de que os alemães têm pavor, em razão do momento pré-Segunda Guerra.
Já a França do presidente Nicolas Sarkozy vê uma situação de emergência que pode levar a um colapso e que "não é hora de ensinar as pessoas a nadar, mas de jogar um bote salva-vidas", diz Wyplosz.
LEITURA ERRADA
Até agora, Berlim tem vencido o cabo de guerra. Em cúpula na última quinta, a dupla "Merkozy" e o premiê italiano, Mario Monti, propuseram a criação de uma união fiscal -algo que levaria anos para sair do papel- e rejeitaram pressões sobre o BCE. O mercado reagiu mal.
Para alguns especialistas, não são só teimosia e política interna que fazem a chanceler alemã irredutível.
"Nem sempre a crise foi provocada por irresponsabilidade fiscal. Na Grécia sim, mas na Espanha não. Por isso, austeridade fiscal apenas não vai funcionar", pensa a economista Silke Tober, do Instituto de Política Macroeconômica de Düsseldorf.
"Compreensivelmente, os alemães se recusam a pagar pelos gregos. Mas não entendem que não há solução que custe pouco e que o colapso do euro seria um desastre ainda maior", diz Wyplosz.
O BCE está dividido internamente e por isso age de maneira limitada. Seu programa de compra coberta de títulos da dívida, que já totalizou 194,5 bilhões desde maio de 2010, tem a oposição frontal dos alemães e acontece em pequenos volumes por vez.
Ao assumir o BCE, em novembro, Mario Draghi rejeitou o papel de "credor de último recurso". Ele quer que os governos criem mecanismos em que parte da dívida de cada um é "coletivizada" e garantida pelos demais, como os eurobônus -aos quais Merkel também se opõe.
Apesar disso, Tober arrisca uma possível solução até o fim do ano: um compromisso que envolva eurobônus e intervenção do BCE. "Toda vez que se chega à beira do abismo, Merkel dá meia-volta e faz o mínimo necessário para evitar um desastre."

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