terça-feira, 29 de novembro de 2011

RECESSÃO MUNDIAL - VERDADEIRO ABRAÇO DE AFOGADO

Recessão às portas de Europa e EUA
Moody’s adverte para rebaixamento da UE e Fitch revisa perspectiva americana para negativa
Vinícius Neder/Martha Beck/Eliane Oliveira com agência internacionais
O Globo
PARIS, WASHINGTON, RIO e BRASÍLIA - A recuperação econômica global está perdendo fôlego, deixando a zona do euro presa a uma leve recessão e os Estados Unidos com risco de seguir esse caminho, afirmou, nesta segunda-feira, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) ao reduzir suas projeções para a economia global. O organismo prevê que esta cresça 3,8% este ano e 3,4% em 2012 — contra projeções anteriores de 4,2% e 4,6%, respectivamente. Ainda assim, as bolsas de valores fecharam em alta de até 5%, devido à expectativa de que os ministros de Finanças da zona do euro, que se reúnem hoje, cheguem a um acordo sobre a implementação do fundo de resgate do bloco.
Fazendo eco à OCDE, a agência de classificação de risco Moody’s afirmou que todos os ratings soberanos da zona do euro — e, possivelmente, os da União Europeia (UE) — estão em risco se não forem tomadas medidas de curto prazo para lidar com a crise da dívida. A Moody’s disse que essa análise deve ser completada no primeiro trimestre de 2012.
E, no início da noite desta segunda-feira, a Fitch informou ter revisado a perspectiva dos EUA de estável para negativa, o que implica um possível rebaixamento. A agência atribuiu sua decisão ao fracasso do Supercomitê em reduzir o déficit do país. Pela Fitch, a nota americana ainda é "AAA".
A revisão da Fitch eleva a pressão sobre Barack Obama, que nesta segunda se reuniu com os presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Obama teme o contágio da crise europeia.
— Eu disse a eles que os Estados Unidos estão prontos para ajudá-los a resolver essa questão. Isso é de enorme importância para nossa economia — disse Obama à imprensa depois do encontro, na Casa Branca.
Ele não especificou que tipo de ajuda os EUA poderiam dar, já que o país enfrenta problemas com seu déficit orçamentário. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que o Fundo Monetário Internacional (FMI) já tem recursos suficientes para ajudar a Europa, sugerindo que os EUA não entrariam com dinheiro.
Durão Barroso garantiu que a Europa está tomando medidas para resolver a crise. Mas ressaltou que as economias de EUA e União Europeia (UE) são interdependentes:
— Enfrentamos o desafio comum de controlar o endividamento ao mesmo tempo em que retomamos o crescimento e criamos empregos. Não é uma tarefa fácil em qualquer lado do Atlântico — afirmou.
Bolsas sobem 5,5% em Paris e 2% em SP
Segundo a OCDE, a zona do euro já entrou em recessão e praticamente não crescerá em 2012, tendo expansão de apenas 0,2%. Os EUA cresceriam 1,7% este ano e 2% em 2012. Já a expansão da Alemanha, a maior economia da Europa, despencaria de 3% para 0,6% no ano que vem.
O relatório da OCDE ressalta que haverá algum impulso graças aos emergentes, mas, mesmo assim, a queda no comércio global vai afetar a China. O crescimento da economia chinesa deve desacelerar de 9,3% este ano para 8,5% em 2012. As projeções para o Brasil são de expansão de 3,4% este ano e 3,2% em 2012, abaixo da economia global.
A OCDE advertiu que um "evento negativo" na zona do euro (como a desintegração da moeda única) poderá provocar uma contração global. O economista-chefe da organização, Pier Carlo Padoan, disse que o cenário pode melhorar "se forem tomadas medidas decisivas rapidamente", como o aumento da capacidade do fundo de resgate da região e uma atuação maior do Banco Central Europeu (BCE).
Na Europa, as bolsas tiveram forte alta. Houve rumores, segundo o jornal francês "Le Monde", de que a Alemanha daria sinal verde para o BCE atuar mais nos mercados. Londres fechou em alta de 2,87%. Frankfurt avançou 4,6%, e Paris, 5,46%. Na Ásia, Toquio subiu 2% e Seul, 2,19%.
Em Wall Street, pesaram ainda os bons resultados de vendas da Black Friday, que abre a temporada de compras natalinas, que puxaram os papéis do varejo. O Dow Jones subiu 2,59%, enquanto S&P e Nasdaq avançaram 2,92% e 3,52%, respectivamente.
Já a Bolsa de Valores de São Paulo teve, nesta segunda-feira, o melhor pregão desde 11 de novembro, com o Ibovespa, seu índice de referência, subindo 2,05%, aos 56.017 pontos. O dólar comercial passou por forte ajuste, recuando 1,75%, a R$ 1,853, após a alta de 5,78% na semana passada.
Mas analistas ressaltam que esse alívio pode não ser sustentável, já que faltam medidas concretas.
— Não mudou nada. Foi apenas um respiro — diz Rodrigo Falcão, operador da corretora Icap Brasil.
A alta das cotações internacionais das matérias-primas beneficiou as ações desse setor. Petrobras PN (preferencial, sem direito a voto) subiu 2,33%, a R$ 21,50, e Vale PNA ganhou 1,28%, a R$ 39,50. Os setores de consumo e financeiro avaçaram. Os papéis ON (ordinários, com voto) da fabricante de bens de consumo Hypermarcas subiram 5,97%, e Itaú Unibanco PN teve alta de 2,81%.
FMI pedirá ao Brasil ajuda para a UE
Em meio à turbulência na Europa, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, desembarca nesta quinta-feira no Brasil para pedir que o país ajude a UE. Assim como os demais integrantes do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil se dispôs a liberar recursos aos países em dificuldade. Mas essa ajuda terá um preço.
O governo brasileiro deixou claro na última reunião do G-20 (grupo das 20 principais economias do mundo), em novembro, que não aceitará repassar recursos diretamente à UE para compra de títulos da dívida de Grécia, Espanha, Itália e Irlanda. Segundo os técnicos da equipe econômica, o Brasil só aceitará ajudar a Europa por meio do FMI, de preferência com recursos que já estão depositados na instituição.
Em troca, o que se quer é uma nova discussão sobre uma maior participação dos emergentes no FMI. Essa mensagem deve ser reforçada nos encontros que as autoridades terão com Lagarde:
— Vamos querer saber os próximos passos nas reformas de governança do FMI — disse ao GLOBO um alto funcionário do governo.
Lagarde será recebida por Dilma Rousseff e ainda terá encontros com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Além dos demais Brics, ela irá a México, Chile e Peru.
— Saímos de Cannes com a ideia de que era preciso esperar movimentos dos europeus quanto aos mecanismos para evitar o contágio, e eles ainda estão discutindo como tornar efetivas as medidas que decidiram no fim de outubro — disse Mantega.

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