sexta-feira, 1 de junho de 2012

A copa do dinheiro público
Magno Karl - OL
Em setembro do ano passado, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou não saber quanto a realização da Copa do Mundo custaria aos cofres públicos. A diferença entre os custos dos orçamentos e das obras executadas começava a crescer. Agora, a pouco mais de dois anos do início do mundial, alguns dados começam a aparecer.
Uma matéria do portal UOL, publicada no último domingo, informa que a previsão atual dos custos das reformas e construções dos estádios da Copa é de 6,9 bilhões de reais — R$992 milhões superior à previsão inicial do Ministério do Esporte. E 97% desse dinheiro será coberto com recursos públicos.
Dos R$ 6,904 bilhões da previsão oficial de custo dos estádios da Copa, R$ 6,712 bilhões sairão dos cofres públicos, valor correspondente a 97,2% do total. Apenas o estádio do Beira-Rio (RS) e o da Arena da Baixada (PR) estão recebendo dinheiro privado em sua construção.
Em São Paulo, o estádio que está sendo feito pelo Corinthians e pela empreiteira Odebrecht na zona leste da cidade será parcialmente pago pelos seus donos. São R$ 400 milhões que terão que ser reembolsados ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Mas, até que a Copa termine, só o dinheiro público banca a obra.
Em dezembro de 2007, o então ministro do Esporte, Orlando Silva, em discurso no Rio de Janeiro, previu: “Os estádios para a Copa do Mundo serão construídos com dinheiro privado. Não haverá um centavo de dinheiro público para os estádios”. Nada mais longe da verdade.
Em 2007, ao assinar garantias governamentais requisitadas pela FIFA aos países candidatos a sediar um mundial, o então presidente Lula afirmou que, ao contrário do que aconteceu no Pan do Rio de Janeiro, a iniciativa privada desempenharia um papel fundamental na Copa do Mundo. Segundo o presidente, a iniciativa privada teria que “construir os palcos para os eventos”.
Ricardo Teixeira quase repete esses termos em entrevista à revista Veja, publicada em novembro de 2007. O presidente da CBF também compara a organização da Copa à organização do Pan, e afirma que obras como a reforma do Maracanã e o do Mineirão seriam realizadas através de Parcerias Público-Privadas (PPP).
Hoje, os termos dessa parceria começam a ficar claros. O governo e CBF, que chegaram a se referir ao evento como a “Copa da iniciativa privada” empurraram mais de 95% dos custos para o contribuinte — cujas prioridades, claro, ninguém se preocupou em perguntar. São quase R$ 7 bilhões, investidos na construção e reforma de 12 estádios de futebol, um esporte que movimenta recursos cujo volume a maioria dos pagadores de impostos brasileiros sequer conseguiria imaginar.
O estado usa a força para expropriar uma parcela considerável dos rendimentos da população para a construção de “bens públicos”: nesse caso, serão estádios modernos de futebol. O longo braço do governo se estica mais uma vez para financiar os “palcos” da Copa do Mundo.
Em um país onde mais da metade dos domicílios não possui coleta de esgoto, os governos nos dão, mais uma vez, uma lição sobre alocação eficiente e racional de recursos…
Sobre o Autor
Magno Karl, cientista social pela UFRJ, é tradutor e gerente de operações do Ordem Livre.

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