Como espoliar os ricos
Jeffrey Tucker - IMB
É cada vez maior o número pessoas que diz que a solução para o fim definitivo da pobreza está na tributação pesada dos mais ricos. O fato de haver vários indivíduos com milhões, algumas vezes bilhões, em suas contas bancárias é algo que enlouquece muita gente, especialmente políticos. Populistas imaginam que estes ricos não fazem absolutamente nada na vida a não ser amontoar dinheiro, contá-lo gostosamente e gargalhar sadicamente ao pensarem nas vantagens que possuem sobre o resto da humanidade.
Sendo assim, munidos de tais imagens mentais, os ativistas da redistribuição de renda propõem vários esquemas para separar, à força, os ricos de seu dinheiro, sempre utilizando o poder da violência governamental. Trata-se de uma abordagem brutal que envolve um pesado uso da coerção estatal contra pessoas. Se você acredita na paz, como vários ativistas de esquerda alegam, então tal postura não pode ser defendida. Violência produz apenas mais violência, e nunca é uma solução.
O outro problema com a tributação — e este, por si só, deveria bastar para fazer com que a esquerda abandonasse em definitivo a defesa deste método — é que o dinheiro confiscado é transferido para o próprio estado — a mesma instituição que suprime a liberdade de expressão, joga as pessoas na cadeia pelo uso de drogas e intimida vários tipos de associação voluntária e consensual entre dois indivíduos. Não é algo muito esperto tomar dinheiro daqueles que usam sapatos lustrados e transferir para aqueles que usam botas militares.
Certamente tem de haver uma maneira melhor, mais inteligente e mais pacífica de se retirar dinheiro das mãos dos ricos e transferi-lo para as mãos da classe média e dos pobres. E eu tenho a solução perfeita.
Ela me veio recentemente, quando eu estava caminhando por uma rua da cidade e vi um Rolls-Royce Phantom, estacionado onde qualquer carro normal estacionaria. Carros absurdamente ostentosos e pomposos podem ser incríveis em termos de luxo e desempenho, mas custam mais de US$320.000.
Inacreditável! Por que alguém iria querer comprar isso? O proprietário deste carro poderia ter gasto uma minúscula fração deste valor em um carro bem mais simples (como o meu), suficiente para levá-lo do ponto A ao ponto B; mas, em vez disso, e por razões que ninguém pode realmente explicar, esta pessoa decidiu se desfazer de uma quantia equivalente a vários anos da renda de um trabalhador médio — tudo por um carro.
O ponto a ser enfatizado aqui é que esta pessoa abriu mão de seu dinheiro. E onde este dinheiro foi parar? Ele foi para as pessoas que venderam o carro, para as pessoas que construíram o carro, para as que transportaram o carro e para as que forneceram equipamentos para o carro. Mas não pára por aí. O dinheiro foi também para os trabalhadores da indústria de borracha que fizeram os pneus e para os trabalhadores nas siderúrgicas que fizeram o material da luxuosa carroceria.
Ou seja, o dinheiro foi do rico para todo o resto, e ninguém teve de ameaçá-lo de morte, de cadeia ou de espancamento para que isso acontecesse. Aqueles que receberam o dinheiro não tiveram de fazer lobby por ele, não tiveram de tributar e nem coagir ninguém. O cara rico abriu mão do dinheiro voluntariamente! Logo, parece que estamos chegando a alguma conclusão aqui.
Os ricos são um grupo interessante. Eles gostam de se destacar por meio de atos e posses que o resto de nós considera como apenas absurdas ostentações. Se não houver coisas com as quais os ricos possam gastar seu dinheiro esbanjadoramente, eles irão apenas entesourar este dinheiro, enviá-lo a um paraíso fiscal ou depositá-lo em obscuros fundos mútuos de outros países.
Thorstein Veblen entendeu tudo às avessas. As pessoas que se ressentem da riqueza das elites não deveriam de modo algum condenar seu consumo excessivo. Elas deveriam, ao contrário, encorajar cada vez mais seu consumismo. A solução é ter uma sociedade que apresente uma vasta proliferação de luxos excepcionalmente caros nos quais os ricos possam gastar seu dinheiro. Este é o caminho para a expropriação voluntária e para uma eficaz redistribuição de renda — deles para o resto de nós, do 1% para os 99%.
Considere, por exemplo, uma passagem de primeira classe de um avião. Para alguns vôos, o preço desta passagem é de quebrar a banca. Para compras de última hora em alguns vôos internacionais, uma passagem desta pode custar até US$15.000. E o que este passageiro ganha em troca? Ele será servido por uma comissária de bordo que acha que ele é o máximo, terá vários drinques à sua disposição e um espaço extra para as pernas. Mas chegará ao mesmo destino dos passageiros que estão na classe econômica. Em troca desse pouco, este passageiro rico transferiu milhares de dólares de sua conta bancária para as contas bancárias dos pilotos, dos comissários de bordo, dos operadores de bagagens, dos funcionários que comandam a burocracia da empresa aérea, dos mecânicos da empresa aérea, dos responsáveis pelo abastecimento nos aeroportos, e de todos os demais envolvidos na operação do voo. Outro detalhe adicional, do qual poucos parecem se dar conta, é que são justamente os altos valores pagos pelos passageiros da primeira classe e da classe executiva que permitem preços mais baratos para a passagem da classe econômica.
O mesmo raciocínio se aplica a hotéis de luxo. Para mim, um hotel é apenas um local para se dormir quando se está em outra cidade. Porém, há toda uma classe de hotéis de luxo voltados para fornecer a seus hóspedes momentos inesquecíveis pelo período de tempo em que ficarem ali. Há hotéis com spas, saunas, piscinas, salas de ginástica, vários tipos de restaurante, bares em todos os cantos, bibliotecas, campos de golfe, espaços para caminhadas, salões de dança e mais luxos do que você seria capaz de usar durante todo o ano. Estes hotéis chegam a cobrar milhares de dólares por apenas uma noite.
Eu não entendo muito bem a lógica de se fornecer tudo isso, mas vários indivíduos pertencentes ao 1% dos mais ricos mantêm estes lugares sempre cheios. E isso é ótimo! O dinheiro deles sai de seus bolsos diretamente para as mãos de recepcionistas, garçons, limpadores de piscina, porteiros, arrumadeiras, cozinheiros, limpadores de chão, pedreiros, operários que fazem reparos em instalações, e todos os outros tipos de profissões puramente manuais que você for capaz de imaginar.
Precisamos de muito mais de tudo isso. Veja o campeonato mundial de iatismo. Trata-se de algo absurdamente caro apenas para participar. Os iates podem custar mais de US$5 milhões. Apenas a manutenção eleva este valor alguns milhões a mais. Tal coisa seria absolutamente impensável para a esmagadora maioria dos mortais. No entanto, os ricos fazem tudo isso, e voluntariamente transferem sua riqueza diretamente para os menos abonados de todas as posições sociais e profissionais. Principalmente se você considerar toda a atenção dada pela mídia e toda a badalação que ocorre nas redondezas, há centenas de milhares de pessoas que se beneficiam desta extravagância dos ricos.
O que é especialmente louvável neste comportamento dos ricos é que, todos os produtos que eles inicialmente adquirem antes do resto da humanidade, um dia se tornam amplamente disponíveis para todo o mundo, desde que, é claro, a economia de mercado esteja funcionando livremente. Na década de 1980, um celular era o supra-sumo do luxo. Hoje, celulares estão disponíveis para todos os pobres do mundo. O mesmo é válido para computadores. Eu carrego em meu bolso mais memória RAM e HD do que havia disponível, em conjunto, para os mais ricos e poderosos do mundo duas décadas atrás.
Os ricos são aquilo que chamamos de 'adotantes primários'. Eles são os primeiros a adotar toda e qualquer tecnologia que surge. Com o tempo, aquilo que era luxo se torna algo corriqueiro para o resto de nós. Produtos que antes estavam disponíveis apenas em lojas exclusivas e chiques, daquelas que você tem de marcar hora para poder entrar, acabam nas prateleiras de shoppings populares alguns anos depois. Os ricos desbravam as novidades, fazendo todo o serviço antes de nós. Desta forma, eles são os benfeitores da sociedade.
Se quisermos espoliar os ricos de seu dinheiro, temos apenas de criar cada vez mais oportunidades para que eles possam esbanjar milhões, até bilhões, em objetos e serviços que você e eu jamais sonharíamos adquirir. Precisamos de mais luxo, de mais fausto, de mais magnificência, de mais consumo conspícuo dos ricos, de mais bens e serviços tentadores, exagerados e exorbitantes que incitem os ricos a abrir mão do seu dinheiro.
Porém, é claro que, se quisermos tudo isso, teremos também de ter produtores capazes de fabricar estas coisas e vendê-las para os ricos. Isto significa uma sociedade trabalhadora, poupadora, acumuladora de capital e investidora. E isto, por sua vez, significa que não se deve punir o investimento e a acumulação de capital, nem tampouco criar impostos punitivos sobre as receitas geradas por aqueles investimentos voltados para os ricos. Impostos sobre a renda têm de ser zerados, assim como sobre bens de luxo. Quaisquer medidas que desestimulem a produção e a venda de bens de luxo têm de ser repelidas caso realmente se queira esvaziar os bolsos dos milionários.
Igualmente, é também preciso acabar com esta crescente ideia de que os ricos devem dar todo o seu dinheiro para amplas e dispersas instituições de caridade. A quem isto realmente beneficia? É difícil saber, mas certamente há organizações sem fins lucrativos que não fazem aquilo que alegam estar fazendo. Um caminho muito melhor seria estimular os ricos a enriquecerem o máximo possível e, depois, saírem gastando desmesuradamente por coisas que, no final, irão beneficiar a todos nós.
Os ricos não levarão seu dinheiro para a cova. O mercado é a melhor, mais eficiente e mais pacífica maneira de fazer com que toda a riqueza seja distribuída para o resto do mundo.
Jeffrey Tucker
é o presidente da Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org. É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo
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