sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Aumento de imigrantes está fora das prioridades da Europa 
Le Monde
Há tempos que a Europa é uma terra de imensas levas de imigração, e isso nunca foi tão verdadeiro quanto hoje. Chega a ser uma de suas características em relação aos outros continentes: a União Europeia é o espaço que mais recebe imigrantes no mundo.
A pressão da imigração ilegal tem atingidos níveis sem precedentes, e tudo contribui para isso: a guerra que há quase três anos vem devastando o "quintal" da Europa no Oriente Médio tem afugentado dezenas de milhares de iraquianos, sírios e libaneses. 
Recorde de chegadas irregulares
A isso se soma o caos total que está transformando a Líbia em um campo de batalha, sem contar os desapontados com as tantas outras "primaveras árabes". A curto prazo, nada parece indicar uma trégua em um fluxo que ainda será engrossado pela falência da Ucrânia e das várias chagas da África.
O "Financial Times" citou recentemente alguns números que falam por si. No final de agosto, a Itália registrava um recorde absoluto: 100 mil imigrantes ilegais em um ano. O recorde anterior havia sido em 2011, com 60 mil chegadas irregulares. Nos sete primeiros meses de 2014, o número de ilegais que chegaram até a Grécia atravessando o mar Egeu aumentou 150% em relação a 2013.
Um sinal dos tempos: depois de ter fechado Sangatte em 2002, a cidade de Calais reabrirá um centro para os que querem migrar para o Reino Unido. Esse centro deverá acolher uma nova população de imigrantes: mulheres e crianças que estão fugindo da guerra.
Poderia se pensar que a Europa, terra preferida pelos imigrantes, não tem outra escolha além de tratar a questão energicamente. Mas não é o que acontece. A questão não faz parte das prioridades da União Europeia, que só dispõe de algumas competências incongruentes para questões de asilo e combate à imigração clandestina. Depois das repetidas tragédias de Lampedusa, a Itália continua pedindo em vão por uma ação mais decisiva da UE. 
Falta de solidariedade financeira
A UE dedica menos de 1% de seu orçamento para essa questão central em sua existência que é a imigração. O resultado é desastroso. Ali onde somente uma política decididamente integrada e "federal" (que horror!) teria condições de responder ao fenômeno, na maior parte do tempo prevalecem o cada-um-por-si e as regras às vezes inadequadas dos acordos de Schengen (que regem a livre circulação dentro da UE).
Italianos, espanhóis e gregos são os principais afetados por residirem à beira de um Mediterrâneo percorrido pelas flotilhas de barcos que encaminham os imigrantes ilegais, arriscando suas vidas. Mas a Europa mal os ajuda, não tendo o poder de impor uma solidariedade financeira nesse domínio. Dois terços dos imigrantes irregulares alcançarão a Alemanha, a Suécia, o Reino Unido, a França ou a Itália, independentemente da conjuntura.
Não existe uma solução miraculosa. É preciso dizer a verdade: conter a imigração ilegal não está ao alcance de ninguém. Benéfica ou não, não podemos escapar dela. Ela requer uma política prioritária da União Europeia, sendo seu dever e de seu interesse.

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