Souza Aguiar passa madrugada sem oxigênio
Segundo Sindicato dos Médicos, um paciente da UTI teria morrido em decorrência do problema. Direção nega
Maria Elisa Alves - O Globo
RIO - Um problema no sistema de abastecimento de oxigênio do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, teria provocado, segundo o Sindicato dos Médicos, a morte de um paciente internado no Centro de Tratamento Intensivo, e o fechamento da emergência, na última quinta-feira. A pane teria começado por volta da meia-noite e a situação só teria sido normalizada seis horas depois, afirma o presidente da entidade, Jorge Darze.
Paciente morreu depois de sofrer queda de oxigenação
O problema teria afetado pacientes que precisam de respirador, como um paciente de 29 anos que morreu uma hora e vinte minutos depois de ter sofrido diminuição drástica na quantidade de oxigênio que recebia, diz Darze. Ele estava internado desde o dia 16 após sofrer uma queda no trem e teve traumatismo craniano e abdominal. Ele estava sedado e em estado grave, mas, segundo Darze, a queda na oxigenação é que teria provocado a morte:
— Não somos Deus para saber se ele iria sobreviver ou não aos traumatismos, mas com certeza a falta de oxigênio levou ao óbito. Temos fotos que mostram o paciente, momentos antes de morrer, tendo uma redução drástica na saturação de oxigênio. O normal é ela estar em 90% e é possível ver que o rapaz ficou com 26%, depois 17% e daí para baixo, até ter queda acentuada dos batimentos cardíacos — diz Jorge Darze.
Funcionários do hospital contam que a falta de oxigênio começou a ser sentida no setor de emergência, onde todos os respiradores começaram a tocar alarmes. A distribuição foi afetada de forma desigual e a emergência teria sido menos prejudicada do que a UTI adulta e pediátrica. Cilindros portáveis foram levados para o setor das crianças, mas, segundo um funcionário, não havia nenhum esquema para emergências.
— Cada setor tem um cilindro pequeno. Se três pacientes estiverem no respirador, como fazer?
Para piorar a situação, a UTI de adultos estaria com um número menor de médicos do que o aconselhável.
— Para cada seis pacientes, é preciso ter um intensivista. Na UTI, havia onze pacientes. Seriam necessários dois médicos, mas só tinha um — diz.
Sem oxigênio, o centro cirúrgico do hospital teve, segundo Darze, que fechar as portas. Ou seja, durante seis horas, a emergência não pôde receber baleados e vítimas de acidentes de trânsito.
— A equipe avisou o Corpo de Bombeiros que a emergência estava fechada e que era para mandarem pacientes para outros hospitais. Sem oxigênio, como fazer cirurgias se as pessoas precisam ser sedadas? — diz.
O presidente do Sindicato dos Médicos vai, na segunda-feira, entrar com uma notícia-crime no Ministério Público Estadual acusando o diretor do Souza Aguiar de homicídio culposo. Segundo Darze, o único funcionário responsável pela manutenção do sistema de oxigênio da unidade está de licença há duas semanas.
Direção nega morte relacionada ao problema
De acordo com a direção do Hospital Municipal Souza Aguiar, o sistema de alimentação de oxigênio da unidade apresentou queda na pressão, devido a um problema na válvula que controla o equipamento. Em nota, a Secretaria de Saúde diz que " o sistema de emergência, alimentado por cilindros independentes, foi ativado automaticamente, e a empresa responsável pela manutenção foi acionada imediatamente". A direção informou desconhecer qualquer óbito na unidade relacionado ao evento.
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