Itália é forçada a pagar os juros mais altos da história do euro
Desentendimentos entre líderes europeus custam caro ao continente e o acesso da Itália a créditos internacionais chega ao limite
Jamil Chade, correspondente de O Estado de S. Paulo
GENEBRA - Os desentendimentos entre líderes europeus custam caro ao continente: o acesso da Itália a créditos internacionais chegou ao limite, a Bélgica teve sua nota de risco rebaixada e os mercados deixaram claro que não acreditam que a União Europeia tenha uma estratégia para lidar com a crise.
Ao emitir nesta sexta-feira € 2 bilhões com vencimento em dois anos, a Itália foi obrigado a pagar taxa de juros de 7,8%, a mais alta do país desde a criação do euro, no final de 1999. Outros € 8 bilhões foram emitidos, com prazo de seis meses, a uma taxa de 6,5%.
Na prática, o preço cobrado pelo mercado é um sinal claro de que os investidores não confiam na capacidade do governo de Mario Monti de superar a crise. Países como Grécia, Portugal e Irlanda tiveram de ser socorridos com a taxa próxima de 7%.
Na quinta-feira, a minicúpula entre Monti, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy terminou com a constatação que a Alemanha não concordará com a criação de um mecanismo na UE para resgatar governos em dificuldade. Merkel também se recusa a aceitar a ideia de ter o Banco Central Europeu (BCE) atuando para salvar países, projeto apoiado por Itália e França.
Os desencontros entre os líderes serviram apenas para mostrar que as três maiores economias do bloco não sabem que caminho tomar. O BCE voltou a intervir no mercado para permitir que a taxa italiana não aumentasse ainda mais.
A reação dos investidores contaminou outros mercados, como o da Espanha. o país admitiu que vai precisar de ajuda externa. E a volatilidade também chegou ao dólar, fazendo com que a moeda americana disparasse durante o pregão na BMF&Bovespa, passando dos R$ 1,90 e encerrando o dia com leve recuo, a R$ 1,88.
Rebaixamento
Em outro sinal da deterioração dos mercados, a agência Standard & Poor’s reduziu a classificação da Bélgica de AA+ para AA, sob a alegação que cresce a possibilidade que o governo de Bruxelas seja obrigado a usar mais uma vez recursos públicos para salvar seus bancos.
A dívida belga chega a 97% do Produto Interno Bruto (PIB), mas o país tem feito esforços para reduzir seu déficit público. O problema é que seus bancos, expostos à Grécia e a outros países em dificuldades, estão com capacidade de captar recursos cada vez menor. Além disso, as incertezas em relação à formação de um governo - que já duram desde junho de 2010 - contribuem para aprofundar a crise.
Em nota a investidores, o banco Goldman Sachs também destacou o risco da situação do setor financeiro para o bloco. Segundo o banco, a Europa termina 2011 em recessão e, em 2012, crescerá apenas 0,1%. Mas diz que o maior risco é a falta de financiamento para o setor bancário, o que pode provocar situação parecida com a de 2008.
Espanha
Durante meses, o candidato à presidência na Espanha, Mariano Rajoy, insistiu que bastava um governo competente para recolocar o país de volta no caminho do crescimento. Mas, nem bem completada uma semana de sua vitória nas eleições, seus aliados e pessoas próximas a ele já admitem: Madri estuda a possibilidade de pedir uma ajuda internacional para garantir que não entrará em colapso.
A quarta maior economia da zona do euro vem enfrentando duros golpes do mercado e sendo obrigada a pagar taxas de juros por sua dívida bem acima do que é considerado sustentável. Temores em Madri são de que isso na prática fechará as torneiras internacionais de crédito que permitem à Espanha financiar sua dívida. No próximo ano, o país precisará encontrar mais de 110 bilhões para honrar suas dívidas.
Após notícias em agências de que o Partido Popular, de Rajoy, estaria considerando solicitar a ajuda para conseguir se financiar, a assessoria de imprensa do partido acabou confirmando que a possibilidade faz parte dos cenários que o novo governo está montando para o momento que assumir o poder, no fim de dezembro.
Os dias que se seguiram às eleições e à derrota humilhante do partido socialista não foram de tranquilidade para a Espanha. A bolsa acumulou perda de quase 7% na semana e 22% desde janeiro, a taxa de risco bateu recordes, um banco quebrou e governos locais começaram a reduzir salários e fazer demissões.
No dia 7, Rajoy apresentará seu plano de cortes de gastos aos sócios da Alemanha e da França. Mas vai insistir que, sozinho, já não tem como socorrer a economia. Em 2012, a Espanha volta a cair em uma recessão, o que deve ser seguido por uma redução na arrecadação do Estado.
No PP, a esperança é de que não haja necessidade para um resgate da UE e do FMI, nos moldes que Portugal, Irlanda e Grécia já tiveram. Mas não negam que o assunto está sobre a mesa.
Resgate impraticável
Muitos economistas na Espanha alegam que um resgate seria impraticável. Isso porque seriam necessários mais de 700 bilhões, dinheiro que a UE hoje não tem. Uma opção seria encontrar uma alternativa, com o uso mais frequente do Banco Central Europeu intervindo e ajudando a reduzir a taxa de risco da Espanha.
Não é a primeira vez que os aliados de Rajoy apontam para o socorro internacional como uma opção para tirar o país da crise. Na segunda-feira, ao conversar pelo telefone com a chanceler Angela Merkel, Rajoy deixou claro que quer contar com a ajuda financeira da UE e acredita que os países que estão fazendo esforços suficientes de redução do déficit sejam premiados com recursos.
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