Unesco aprova a Palestina como novo Estado-membro
Organização é a primeira da ONU a reconhecer plenamente os palestinos
Em resposta, EUA vão congelar um repasse de R$ 102 milhões à agência; Israel promete rever sua contribuição
MARCELO NINIO - FSP
Sob a ameaça de ficar sem a contribuição financeira dos Estados Unidos, a Unesco (Organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura) aprovou ontem por grande maioria a entrada da Palestina como membro pleno.
Em resposta, o governo americano anunciou o congelamento de um repasse de R$ 102 milhões à Unesco previsto para novembro.
Uma lei de 1994 do Congresso dos EUA proíbe o financiamento de agências da ONU que aceitem a Palestina como membro pleno.
A iniciativa na Unesco é mais um passo da campanha palestina para obter o reconhecimento da ONU.
Em setembro, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, entrou com um pedido para que o Estado palestino seja aceito como membro da organização, onde também encontrou forte resistência dos EUA.
Apesar da oposição americana, a votação na Unesco teve larga maioria em favor do pedido palestino.
Dos 173 membros que votaram, 107 foram a favor, entre eles Brasil, Rússia e China. Quatorze disseram não, incluindo EUA, Alemanha e Holanda. A aprovação foi recebida com aplausos na sede da Unesco, em Paris.
PATRIMÔNIO MUNDIAL
"Esta votação apaga uma pequena parte da injustiça causada ao povo palestino", festejou o chanceler da ANP, Riad Malki. Uma das primeiras iniciativas palestinas deve ser a candidatura da Igreja da Natividade, em Belém, a Patrimônio Mundial.
Segundo a embaixadora do Brasil na Unesco, Maria Laura da Rocha, o voto favorável foi um gesto coerente com a "posição tradicional" do Itamaraty, de reconhecimento do Estado palestino.
"Nosso voto é na direção de facilitar o diálogo que possa levar à paz", disse à Folha, de Paris. Segundo ela, a contribuição do Brasil equivale a 1,6% do orçamento anual da Unesco.
Para os EUA, o efeito é o oposto. Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado, chamou de "lamentável e prematura" a votação.
"Ela mina nossa meta conjunta de uma paz abrangente, justa e duradoura no Oriente Médio", criticou Nuland, confirmando a suspensão do repasse de verbas. A contribuição americana representa 22% do orçamento.
Israel também condenou a votação e anunciou que irá rever sua colaboração com a Unesco, para a qual contribui com 3% do orçamento, além de estudar possíveis sanções à Autoridade Palestina.
Extremistas lançam mísseis contra Israel
Apesar das tentativas do Egito de mediar um cessar-fogo, extremistas palestinos voltaram a lançar mísseis ontem contra Israel.
Ao menos sete foguetes atingiram Israel, sem deixar vítimas. No final de semana, um israelense havia sido morto.
A aviação de Israel respondeu atacando alvos do grupo Jihad Islâmica, que assumiu a autoria. Segundo fontes palestinas, 12 pessoas já morreram nos ataques aéreos a Gaza.
O chanceler israelense, Avigdor Liberman, defendeu uma ampliação da ofensiva a fim de derrubar o Hamas, grupo islâmico que controla Gaza.
Israel anuncia ampliação de assentamentos em resposta à decisão da Unesco sobre palestinos
O Globo
JERUSALÉM - O governo israelense anunciou nesta terça-feira que vai acelerar a construção em assentamentos na Cisjordânia, numa primeira retaliação à admissão plena dos palestinos como membros da Unesco, uma agência de ONU.
Segundo o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, serão contruídas 2 mil casas nos assentamentos de Gush Etzion, na Cisjordânia, e Maaleh Adumim, nos arredores de Jerusalém Oriental. Fontes do governo disseram ao jornal "Haaretz" que a decisão é apenas a primeira resposta à decisão da Unesco.
"Todas as áreas mencionadas estão entre as que ficariam sob controle israelense em caso de qualquer acordo de paz futuro", afirma Netanyahu em comunicado.
A decisão da Unesco, anunciada na segunda-feira, irritou israelenses e também Washington, que cortou a contribuição financeira à agência. Mesmo assim, os palestinos já disseram que buscarão reconhecimento em outras áreas da ONU.
Para o representante palestino em Genebra, Ibrahim Khraishi, se juntar à Unesco vai "abrir as portas" para que o mesmo ocorra em outras 16 agências dentro de semanas.
- Agora estamos estudando quando vamos buscar reconhecimento pleno em outras agências da ONU - disse Khraishi. - É nossa meta fazer parte de organizações internacionais e agências da ONU.
Ele disse que o voto da Unesco abre um precedente que permite a busca de um reconhecimento mais amplo.
- Estamos trabalhando nisso, um por um - disse. - Porque agora temos um precedente, nós somos membros plenos de uma das maiores e mais importantes agências da ONU, a Unesco. Então isso vai abrir as portas para nós em nossos esforços de integração a outras agências da ONU.
Em Jerusalém, Yigal Palmor, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, disse que a estratégia palestina não apenas enfraquece a necessidade por conversas de paz, como também pode causar graves danos ao trabalho das Nações Unidas. Ele disse que ao se juntar a agências da ONU, os palestinos tentariam sequestrar esses comitês e iriam pressionar os órgãos para que fossem adotadas agendas contra Israel.
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