A bitola da arrogância
Tiago Venson - MSM
Quando surge um ou outro pequeno site conservador, este imediatamente é alvo das atenções não só daqueles que abominam o conservadorismo, mas daqueles que se consideram especialistas e superiores a ele.
A hegemonia da esquerda nos meios de comunicação, entre outros efeitos nefandos, provoca um fenômeno peculiar: quando surge um ou outro pequeno site conservador, este imediatamente é alvo das atenções não só daqueles que abominam o conservadorismo, mas daqueles que se consideram especialistas e superiores a ele. Encontrando nesse meio uma brecha para submeter suas opiniões ao crivo de um público mais sério e honesto do que os esquerdistas – notórios por seus ideais ilógicos e meramente propagandísticos – aterrissam nesse solo com a avidez do ditado “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”.
Os campos de comentários do Mídia Sem Máscara têm sido constantemente inundados com postagens prepotentes que acusam cristãos e apontam as “contradições” da Bíblia. Não obstante as providências dos administradores, os comentaristas exibem uma insistência absolutamente obsessiva em posar como denunciadores da ignorância dos crentes.
Essas acusações estão presentes em qualquer site neoateu, disponíveis às pencas, e, embora os comentaristas se sintam portadores da boa-nova, são apenas repetidores de uma vergonhosa confusão: a de fazer análise lógico-formal rasa de verdades teológicas cujas implicações e premissas requerem conhecimento adequado de temas concernentes a áreas como metafísica, filosofia da ciência, axiologia, historia da igreja, hermenêutica, arqueologia bíblica, entre outros, para que não só sua validade epistemológica fique mais evidente, como também sua harmonia com o relato de milhões de pessoas que, hoje e ao longo da história, tiveram suas vidas transformadas por crerem, com fé simples, nas verdades das Sagradas Escrituras.
As Escrituras Sagradas não têm compromisso de manter uma coerência analítica meramente exterior, porque não se trata de um livro apenas histórico, nem de simplesmente um tratado de doutrina. Trata-se de um conjunto de livros que, lidos com a devida disposição de espírito, levam a uma abertura formidável ao transcendente. Há ali também os mistérios, inacessíveis ao conhecimento humano imediato, mas, nem por isso, contrários à razão e à lógica.
Veja-se, a título de uma analogia reduzida, que nos diálogos platônicos, quando o contendor de Sócrates, esmagado em sua soberba pelos argumentos do filósofo, finalmente dava-se por vencido e pedia explicação sobre a verdade que estava sendo debatida, o ateniense não expunha um conceito, mas um mito. Observe-se que ele recorria a esse expediente para explicar uma só ideia – justiça, temperança, verdade. Certamente, extrair do mito o conteúdo que permeia aquele conto e que, em um só momento afasta todas as objeções que demonstravam as falsidades dos conceitos anteriores, exige muito mais esforço cognitivo do que a simples leitura de uma fórmula. O debatedor poderia, ao invés de se empenhar em compreender, acusar Sócrates de ser ingênuo, de acreditar naqueles mitos, naquela história cheia de contradições. Mas os povos de então não eram tão desonestos.
Se uma das mentes mais poderosas que já andaram sobre a face da terra não se aventurava a expor analiticamente um só conceito, é uma boçalidade fazer uma leitura analítica e conceitual – e diga-se, superficial – de um livro que descreve a própria atuação do transcendente no imanente. Os que fazem mera análise de texto e comparação de descrições históricas estão se expondo a um vexame semelhante ao de um tipógrafo que, abrindo um livro de matemática, se pusesse a criticá-lo afirmando: a fórmula desta página está obviamente errada, pois estas linhas foram impressas em fonte “courier new”, e aquelas em “arial”. Incapaz de decifrar a profundidade dos cálculos, é natural que se limite em suas críticas ao seu alcance cognitivo.
Não se pode exigir de qualquer pessoa mais do que suas capacidades permitam. Porém, é dever de qualquer cristão, ao observar uma pessoa fazer um orgulhoso e patético espetáculo de sua própria estupidez, esclarecer o erro e dar fim ao escarcéu.
Tiago Venson é advogado e marceneiro.
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