Cristina Kirchner limita a importação de livros
Nova lei determina inspeção da quantidade de chumbo na tinta de impressão
Medida argentina impede a entrega em casa de compras feitas em sites estrangeiros, como o Amazon
SYLVIA COLOMBO - FSP
Nos anos 40, seguidores de Juan Domingo Perón (1895-1974) repetiam a frase: "alpargatas, sim, livros, não", resumindo que o regime preferia ouvir os trabalhadores (que usavam esse calçado) e não os intelectuais e estudantes, que começavam a criticá-lo.
A frase está sendo lembrada agora por conta de uma nova lei protecionista do governo peronista de Cristina Kirchner, que impõe mais travas à importação de livros.
Em outubro, a Secretaria de Comércio Interior, comandada pelo kirchnerista Guillermo Moreno, determinou que importadores deveriam realizar exportações no mesmo valor das compras.
Em fevereiro, os livros foram incluídos no novo sistema de pedidos de autorização antecipada do mesmo órgão, o que começou a causar demoras na liberação.
Agora, o governo determina que toda obra que chega deve passar por inspeção para avaliar a quantidade de chumbo na tinta usada na impressão. A justificativa é que se trata de medida sanitária.
Fica estabelecido que, no caso de compra pela Amazon ou algum outro site estrangeiro, será necessário ir pessoalmente ao aeroporto, pagar a taxa e esperar a liberação. Não será mais possível receber os livros em casa.
A recepção da medida foi negativa. Várias editoras, como a Oxford e a Santillana, reclamaram. Livreiros e clientes já acusam a falta de livros técnicos, didáticos e infantis nas prateleiras.
INTELECTUAIS
Os intelectuais do grupo Plataforma 2012, do qual fazem parte Beatriz Sarlo, soltou nota de repúdio. Dizem que a medida "afeta o desenvolvimento da ciência e da cultura argentinas. Não só atentam contra o livre direito à informação como significam um triste e perigoso avanço sobre a liberdade das crenças, opiniões e pensamento".
Nas redes sociais, o assunto foi "trending topic" por dois dias, com o "hashtag": "#liberenloslibros".
As pequenas editoras também reclamaram. "Se essa medida fosse acompanhada de outras para apoiar a produção local, como subsídios para traduções e para impressão em gráficas locais, entenderíamos. Mas é apenas uma proibição", disse à Folha Damián Tabarovsky, editor da Mar Dulce, de poesia.
Ele acrescenta que, ao contrário de estimular, a medida pode inibir seus pares. "O custo da impressão está aumentando porque as gráficas estão lotadas para atender as grandes editoras. Nós vamos pagar o preço", conclui.
A indústria de livros na Argentina corresponde a 1% do PIB. As importações em 2011 somaram US$ 131 milhões, e as exportações, US$ 49 milhões. Entre os países que mais exportam para a Argentina estão Colômbia, China, Uruguai e Espanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário