Obama considera oferta de petróleo suficiente para cortar dependência do Irã
Annie Lowrey - NYT
Após uma análise cuidadosa dos preços do petróleo e meses de negociações, o presidente Barack Obama determinou nesta sexta-feira (30) que há petróleo suficiente nos mercados mundiais para permitir aos países reduzir significativamente suas importações do Irã, abrindo o caminho para Washington impor novas sanções severas, que visam cortar a receita do petróleo do Irã e pressionar Teerã a abandonar suas ambições nucleares.
O anúncio pela Casa Branca ocorre após meses de conversas indiretas para preparar o mercado global de energia para cortar o Irã - mas sem provocar aumento nos preços do gás, que beneficiaria o Irã e colocaria em risco as economias dos Estados Unidos e da Europa.
Desde que as sanções se tornaram lei, em dezembro, as autoridades do governo têm encorajado os exportadores de petróleo com capacidade ociosa, particularmente a Arábia Saudita, a aumentarem sua produção. Elas discutiram com o Reino Unido e com a França sobre a liberação de suas reservas de petróleo em caso de uma perturbação no fornecimento.
E realizaram uma campanha diplomática de alto nível para tentar persuadir outros países, como a China, Japão e Coreia do Sul, a comprarem menos petróleo e exigir descontos do Irã, em cumprimento às sanções.
A meta é privar o governo iraniano da receita do petróleo que poderia financiar o programa nuclear do país. As sanções pendentes já provocaram uma queda nas exportações de petróleo e uma forte desvalorização da moeda do país, o rial, frente ao dólar e ao euro.
Funcionários do governo descreveram os sauditas como receptivos e dispostos, ao menos desde que as conversações começaram no final do ano passado, a minar os iranianos.
Um alto funcionário, que se encontrou com a liderança saudita, disse: “Não houve resistência. Eles estão mais preocupados com um Irã nuclear do que os israelenses”.
Ainda assim, disse o funcionário, o governo queria se certificar de que os sauditas realmente cumpririam sua palavra. Os sauditas receberam um desfile de visitantes, incluindo alguns do Departamento de Energia, para certificar de que eles dispõem de capacidade técnica para produzir significativamente mais petróleo.
Mas algumas autoridades americanas permanecem céticas. Esse é um motivo para Obama ter deixado aberta a opção de rever esta decisão em intervalos de poucos meses. “Nós não sabemos o que os sauditas podem fazer até testarmos, e estamos prestes a fazê-lo”, disse o alto funcionário.
A demanda mundial por petróleo foi outro elemento crítico da equação que levou à decisão da Casa Branca a respeito das sanções. Agora, as projeções de demanda estão mais baixas do que o esperado, por causa da combinação de preços altos do petróleo, crise financeira da Europa e uma desaceleração modesta no crescimento da China.
Como disse um funcionário: “Ninguém deseja uma desaceleração, mas a demanda pode ser o fator mais importante”.
Todavia, as sanções representam um sério desafio para os Estados Unidos. As preocupações com um confronto com o Irã e a perda de seu petróleo - o Irã foi o terceiro maior exportador de óleo cru em 2010 - já elevaram os preços do petróleo em cerca de 20% neste ano.
Um galão de gasolina custa atualmente US$ 3,92 em média (aproximadamente R$ 1,90, o litro), em comparação a US$ 3,20 em dezembro (aproximadamente R$ 1,54). A alta dos preços pesou na confiança econômica e reduziu os orçamentos domésticos, uma preocupação para um governo Obama em busca da reeleição.
Na tarde de sexta-feira (30), os preços do petróleo nos mercados de commodities fecharam a US$ 103,02 o barril, uma alta de US$ 0,24 no dia.
Além disso, as novas sanções - que forçariam os países a escolher entre realizarem negócios com os Estados Unidos ou comprarem petróleo do Irã - ameaçariam desgastar as relações diplomáticas com países aliados que compram parte de seu petróleo de Teerã, como a Coreia do Sul.
Mas em uma teleconferência com repórteres, altos funcionários do governo disseram estar confiantes de que podem implantar as sanções sem prejudicarem a economia global.
O Irã atualmente exporta cerca de 2,2 milhões de barris de petróleo por dia, segundo a empresa de análise econômica IHS Global Insight, e outros produtores de petróleo buscarão compensar essa capacidade, à medida que mais países passarem a comprar menos petróleo do Irã. Vários países estão produzindo mais petróleo, incluindo os Estados Unidos, o que deve ajudar a compensar a diferença.
Mais notadamente, a Arábia Saudita, a maior produtora de petróleo do mundo, prometeu produzir mais petróleo para reduzir os preços.
“Não há motivo racional para os preços do petróleo continuarem tão altos”, escreveu o ministro do petróleo saudita, Ali Naimi, em um artigo de opinião no “The Financial Times” nesta semana. “Eu espero, ao falar sobre o assunto, que nossas intenções - e capacidades - fiquem claras”, ele disse. “Nós queremos ver um crescimento europeu mais forte e entendemos que preços razoáveis do petróleo são chave para isso.”
Ao certificar que há oferta suficiente disponível, o governo também está tentando ganhar mais poder sobre o Irã antes da retomada das negociações, esperada para 14 de abril.
A sugestão de que a Arábia Saudita está preparada para compensar qualquer perda da produção iraniana visa tirar do Irã a capacidade de ameaçar uma grande interrupção no fornecimento mundial de petróleo, caso não ceda às exigências do Ocidente e da ONU de suspender sua produção de urânio.
Mas os funcionários do governo reconhecem que não há como saber como os mercados de petróleo reagirão às ameaças iranianas, mesmo com a mais recente certificação por parte do presidente de que há petróleo suficiente para compensar a perda. “Nós não sabemos quanta vantagem de negociação nós obtivemos”, disse um alto funcionário do governo que esteve envolvido no desenvolvimento da política.
Em um comunicado, Jay Carney, o secretário de imprensa da Casa Branca, disse que o governo reconhece que o mercado de petróleo está cada vez mais justo, com a produção superando a demanda apenas por pouco.
“Todavia, atualmente parece haver oferta suficiente de petróleo não iraniano para permitir aos países estrangeiros” reduzir as importações, ele disse.
As autoridades americanas também discutiram uma liberação coordenada de petróleo das reservas estratégicas nacionais com as autoridades francesas e britânicas.
Alguns especialistas em energia questionam se a Arábia Saudita realmente conta com capacidade ociosa suficiente para compensar a perda do petróleo do Irã. Mas a determinação dos Estados Unidos e da Europa em combater os altos preços pode ser suficiente para acalmar os mercados.
A Casa Branca “pode ter um impacto material muito limitado no tamanho da oferta”, disse David J. Rothkopf, presidente da Garten Rothkopf, uma consultoria em Washington. “Mas pode ter um impacto muito maior nas percepções. Neste caso, não são os produtores, mas os traders de energia que estão movendo os preços do mercado - e é aí onda a Casa Branca deseja exercer um papel.”
Além disso, a Casa Branca conta com capacidade, de acordo com a lei, para suspender as novas sanções caso ameacem a segurança nacional, ou caso os preços do gás subam demais, aumentando assim o fluxo de dinheiro para o governo do Irã.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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