A reação do mercado aos protecionistas
Magno Karl - OL
Há duas semanas, a revista Veja noticiou que o Ministério do Desenvolvimento estaria estudando a possibilidade do Brasil adotar barreiras que dificultassem a importação de vinhos internacionais. Os produtores utilizam números que mostram a queda no consumo dos nacionais ocorrida desde 2005. No mesmo período, os vinhos importados quase dobraram a sua participação no mercado brasileiro.
Se o pleito das vinícolas for bem sucedido, o imposto de importação sobre vinhos importados poderá dobrar, e apenas os provenientes de Argentina e Uruguai estariam a salvo do reajuste.
Nessa semana, começaram a aparecer as primeiras reações à proposta.
Artur Xexéo registrou em O Globo as primeiras reações de importadores e donos de restaurantes ao Ministério do Desenvolvimento. Segundo o colunista, o ministério “adiantou que há ‘indícios suficientes’ de que o crescimento da importação da bebida [o vinho] vem causando grave prejuízo à indústria nacional”. Os donos de restaurantes ameaçam retirar os vinhos nacionais de suas cartas. Um deles, Felipe Bronze, lembrou que “sem concorrência, ninguém melhora”. E ele tem razão.
O economista Carlos Alberto Sardenberg traça um paralelo pertinente entre os vinhos e os carros nacionais, dois produtos que por muito tempo se beneficiaram de um mercado fechado às importações. As décadas sem competição não fizeram com que a qualidade dos carros [e dos vinhos] fabricados no Brasil melhorasse. Ela apenas isolou os produtores brasileiros da competição internacional e deixou o mercado nacional para trás em inovações.
Essa opinião é compartilhada por enólogos ouvidos pela Folha de São Paulo. Eles afirmam que foi a abertura do mercado iniciada na década de 90 a principal responsável pelo aperfeiçoamento do vinho produzido no Brasil. Quando o governo passou a permitir que os consumidores brasileiros comprassem vinhos importados, de melhor qualidade, os produtores nacionais se viram obrigados a profissionalizar a sua produção. Hoje, eles preferem contar com a ajuda do governo para bloquear a concorrência, ao invés de aperfeiçoarem seus produtos.
Com a reação, a vinícula Salton deixou de ser signatária do pedido de proteção. Em comunicado, a vinícola afirmou que “se preocupa muito com seus clientes e consumidores e que busca constantemente o melhoramento de seus processos e produtos” e que as medidas protecionistas poderiam “restringir o livre arbítrio de seus consumidores”.
Que continue a pressão da sociedade civil. Até que todos os signatários da salvaguarda percebam que estão marcando um gol contra os seus negócios e seus consumidores.
Sobre o Autor
Magno Karl, cientista social pela UFRJ, é tradutor e gerente de operações de Ordem Livre.
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