sexta-feira, 30 de março de 2012

A UnB e a revolução campesina
Felipe Melo - MSM
A Universidade de Brasília é um dos baluartes da deliberada instrumentalização do ensino superior em prol da ampliação e do aprofundamento das ideologias de fundo marxista no Brasil. Na atualidade, é difícil encontrar uma instituição federal de ensino superior que assuma tal protagonismo como o faz a UnB – algo que, salvas as devidas proporções, pode-se comparar com a USP e a Unicamp nos anos 1960 e 1970. Uma das atividades que compõe esse protagonismo foi divulgada recentemente: a abertura de mais um vestibular para Licenciatura em Educação do Campo.
Mas, afinal, do que se trata Educação do Campo?
Entre os dias 2 e 6 de agosto de 2004, foi realizada na cidade de Luziânia/GO a II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo. O documento gerado ao término dessa conferência, a Declaração Final Por Uma Política Pública de Educação do Campo, define algumas coisas interessantes (grifos meus):
Reafirmamos a luta social por um campo visto como espaço de vida e por políticas públicas específicas para sua população.
Em julho de 1998, nesse mesmo lugar, foi realizada a I Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, promovida pelo MST, UNICEF, pela UNESCO, CNBB e UnB. Foi uma ação que teve papel significativo no processo de rearticulação da questão da educação da população do campo para a agenda da sociedade e dos governos, e inaugurou uma nova referência para o debate e a mobilização popular: a Educação do Campo que é contraponto tanto ao silêncio do Estado como também às propostas da chamada educação rural ou educação para o meio rural no Brasil. Um projeto que se enraíza na trajetória da Educação Popular e nas lutas sociais da classe trabalhadora do campo.
Mais adiante, diz o documento (grifos meus):
O QUE DEFENDEMOS
Lutamos por um projeto de sociedade que seja justo, democrático e igualitário; que contemple um projeto de desenvolvimento sustentável do campo, que se contraponha ao latifúndio e ao agronegócio e que garanta:
• a realização de uma ampla e massiva reforma agrária;
• a demarcação, homologação e desintrusão [sic] das terras indígenas;
• o reconhecimento e a titulação coletiva de terras quilombolas;
• a regularização dos territórios remanescentes de quilombos;
• a demarcação e regularização das terras de ribeirinhos e pescadores;
• o fortalecimento e expansão da agricultura familiar/camponesa;
• as relações/condições de trabalho, que respeitem os direitos trabalhistas e previdenciários das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais;
• a erradicação do trabalho escravo e da exploração do trabalho infantil;
• o estímulo à construção de novas relações sociais e humanas, e o combate de todas as formas de discriminação e desigualdade fundadas no gênero, geração, raça e etnia;
• a articulação campo-cidade, o local-global.
Lutamos por um projeto de desenvolvimento do campo onde a educação desempenhe um papel estratégico no processo de sua construção e implementação.
Bonito, não é? Estou certo de que Paulo Freire, onde quer que esteja (por mais quente e barulhento que seja), deve ter ficado sinceramente tocado com essas palavras. É nesse espírito que a Universidade de Brasília tem promovido vestibulares para Licenciatura em Educação do Campo.
Mas, como nem tudo são flores, não é qualquer pessoa que pode participar desse vestibular. Como uma iniciativa legítima que faz parte de “um projeto de sociedade que seja justo, democrático e igualitário”, assim reza o edital de abertura do vestibular:
3 DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
3.1 O processo seletivo será destinado a pessoas que tenham concluído o ensino médio, ou estejam em fase final de conclusão, e não tenham formação em nível superior e que estejam enquadradas em pelo menos uma das seguintes situações:
a) professores em exercício nas escolas do campo da rede pública na região do Distrito Federal, entorno (DF) e Goiás (GO); ou
b) outros profissionais da educação com atuação na rede pública da região do Distrito Federal, entorno (DF) e Goiás (GO); ou
c) professores e outros profissionais da educação que atuem nos centros de alternância ou em experiências educacionais alternativas de Educação do Campo, ou
d) professores e outros profissionais da educação com atuação em programas governamentais que visem à ampliação do acesso à educação básica da população do campo, ou
e) jovens e adultos de comunidades do campo que tenham o ensino médio concluído ou em fase de conclusão e ainda não tenham formação em nível superior.
3.1.1 São consideradas escolas do campo aquelas que têm sua sede em espaço geográfico classificado pelo IBGE como rural e, mais amplamente, aquelas escolas que, mesmo tendo sua sede em áreas consideradas urbanas, atendem à população de municípios cuja reprodução social e cultural está majoritariamente vinculada ao trabalho no campo (Decreto nº 7.352, artigo 1º, § 1º, Inciso II, de 4 de novembro de 2010).
O que isso quer dizer? Bom, quer dizer que, caso você corrobore das idéias propostas e tenha vontade de atuar em alguma “experiência educacional alternativa”, mas teve o azar de nascer na cidade e ter uma vida tipicamente urbana, você não pode fazer esse vestibular. Algo bem “justo, democrático e igualitário”, não?
Mas o melhor ainda está por vir. Ao analisarmos melhor o edital de abertura do vestibular, encontramos os objetos de avaliação desse vestibular. Abaixo, alguns exemplos para vossa apreciação.
Geo1
Conhecimentos de geografia exigidos na prova.
His1
Conhecimentos de história exigidos na prova.
His02
Conhecimentos de história exigidos na prova.
His03
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Se antes, por prudência ou ingenuidade, poderia pairar qualquer tipo de dúvida sobre o apoio entusiástico que a Universidade de Brasília dá a organizações de "movimentos sociais" – ainda que, a rigor, grupos que promovem a invasão de propriedades, a depredação de patrimônio público e privado, bem como atos de violência (espancamentos, assassinatos e que tais) possam ser mais bem qualificados como organizações criminosas –, não resta mais dúvida alguma. A falta de pudor na declaração desses vínculos não pode deixar de escandalizar aqueles que ainda acreditam que o objetivo da universidade é educar de maneira verdadeiramente livre, não aparelhar e instrumentalizar o ensino em prol de bandeiras políticas profundamente anti-humanas.
Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UNB.

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