Cresce o consumo de drogas entre os jovens franceses
Laetitia Clavreul - Le Monde
Entre os especialistas em drogas, a informação vinha circulando há vários dias: são ruins os números que revelam o nível de vício dos jovens franceses. De fato, segundo a pesquisa European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs (Espad) que estava prevista para ser publicada no final da manhã do dia 31 de maio, o consumo de tabaco e de álcool, mas também de maconha, entre jovens franceses escolarizados de 16 anos subiu nitidamente entre 2007 e 2011.
A posição da França no ranking tem piorado em relação aos outros países europeus, que, ao contrário dela, muitas vezes têm avançado. Uma bomba, uma vez que o plano de 2008-2011 da Missão Interministerial de Combate às Drogas e à Toxicomania (Mildt) estabelecia como meta o recuo no consumo de drogas ilícitas e no uso excessivo de álcool.
A pesquisa realizada pelo Conselho Sueco de Informação sobre o Álcool e Outras Drogas compara os dados de 28 países. Segundo números provisórios não oficiais obtidos pelo “Le Monde”, a mudança no que diz respeito à maconha é especialmente problemática: o número de pessoas que experimentam aumentou 25%, e o de jovens que consumiram o produto pelo menos uma vez passou de 31% para 39% em quatro anos. O aumento chega a ser de 60% no caso do consumo de no mínimo uma vez por mês (de 15% para 24%). Portanto, no que diz respeito à maconha, a França volta a ter o primeiro lugar no ranking e seus níveis de consumo do início dos anos 2000.
Quanto ao álcool, ela voltou a ficar entre os dez primeiros países: 67% dos jovens de 16 anos consumiram álcool no mês, contra 64% em 2007. Além disso, 41% declararam ter se embriagado pelo menos uma vez no ano. Claro, é menos que os 48% constatados entre os britânicos. Mas, em quatro anos, o Reino Unido fez progressos, passando do primeiro para o quarto lugar, sendo que a França agora chega entre os 15 primeiros.
A situação para o tabaco também piorou. Entre os jovens franceses de 16 anos, 38% fumaram pelo menos um cigarro no mês em 2011, contra 30% em 2007. A França agora chega em 6º lugar, juntando-se aos países onde os jovens são fortes consumidores de tabaco, entre eles a República Tcheca, a Letônia e a Croácia.
Jovens poliusuários
Teria Étienne Apaire, presidente da Mildt até poucos dias atrás, cantado vitória cedo demais? Esse magistrado nomeado em 2007 afirmava, em janeiro, no boletim informativo da instância, que a meta de diminuir “o número de novos consumidores” havia “sido atingida”. Um mérito reiterado em maio, em seu editorial de despedida.
Ele se baseava em uma pesquisa realizada junto a jovens franceses, a Escapad. Publicada em fevereiro, ela mostrava uma queda no número de pessoas que experimentam o álcool e o tabaco, e uma estabilização na popularização da maconha. Acima de tudo, ela enfatizava uma queda no uso de maconha no ano e ao longo do mês, que confirmava uma tendência constatada desde 2003.
Mas em abril, sem grande estardalhaço, o Observatório Francês das Drogas e dos Toxicômanos (OFDT) publicou uma terceira pesquisa, intitulada “Health Behaviour in school-aged children”, realizada junto a jovens de 11, 13 e 15 anos. Esse estudo na verdade descrevia uma estabilização no consumo, mas de qualquer forma não parecia estar em queda. Os números europeus da Espad publicados na quinta-feira que descrevem até uma alta no consumo devem ser considerados com cautela --eles deverão ser confirmados ao longo do tempo. Mas eles relançam o debate em torno da política francesa de combate à dependência, que foi marcada pela repressão no antigo governo.
“Sei que podemos ser acusados de parcialidade, pois não concordávamos com a política conduzida, mas a pesquisa da Espad mostra bem que ela não funciona”, observa Jean-Pierre Couteron, presidente da Fédération Addiction, uma federação de profissionais do setor. Ele acredita que a Mildt passou a falsa ideia de que a França, graças à ênfase colocada na repressão aos usuários de maconha, estava conseguindo resistir. Resultado: segundo ele, na verdade ela “ignorou aquilo que constitui o maior problema”, o “ambiente propício ao vício” no qual entram os adolescentes em uma sociedade que favorece as sensações fortes e o hiperconsumo (videogames, consumo pesado de álcool etc).
“O problema é que a meta foi evitar a qualquer preço o primeiro uso, sendo que experimentar maconha é um sinal de identificação entre os jovens, sem continuidade posterior. No entanto, é primordial detectar precocemente os usos regulares”, comenta Jean-Michel Costes, diretor da OFDT de 1995 a 2011. Ele critica “uma política que não deu em nada no caso da maconha e que permitiu o aumento do uso de drogas legais”. Os especialistas criticam esse foco dado à maconha, sendo que o tabaco é uma porta de entrada para essa substância e que os jovens são poliusuários.
Tradutor: Lana Lim
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