No interior da Irlanda, os pubs perdem público e vão fechando um a um
Benoît Vitkine - Le Monde
A sociedade irlandesa tem aceitado cada vez menos ver seus homens passarem todo dia no pub para beber um ou vários pints
Apesar do silêncio que reina no pub deserto, é preciso se debruçar ligeiramente por cima do balcão para conseguir escutar. “O último foi em Tinahely, a uns dez quilômetros daqui. O dono fechou as portas na semana passada...” As palavras de John Byrne escorrem devagar, com o sotaque entrecortado do povo de Coolkenno, vilarejo de lavradores do condado de Wicklow, uma centena de quilômetros ao sul de Dublin, nessa Irlanda que, na quinta-feira (31), se pronunciou em um referendo sobre o pacto orçamentário europeu.
Com o rosto cansado e cabelos grisalhos, o dono do Crab Lane apaga seu cigarro com um gesto lento e continua a contar, sua voz não passando de um fio rouco. “Um mês atrás, foi outro... e mais outro há três meses. No total, cinco ou seis pubs da região fecharam nos dois últimos anos”.
John Byrne baixa um pouco mais a voz. Ele não quer dar nomes, tanto por discrição quanto em respeito a seus colegas de pubs fechados, levados pelas convulsões de uma Irlanda em crise. Como que para se assegurar, ele agarra o pilar de carvalho no centro do Crab Lane: “Esse pilar foi colocado por meus ancestrais 150 anos atrás. Assumi o pub aos 16 anos, quando meu pai morreu. Hoje tenho 56 e não pretendo abandoná-lo”.
Foram cortes em massa, em todo o país: desde 2007, mais de mil estabelecimentos, de um total de 8.000, fecharam. Cerca de 200 por ano, abatidos pela crise econômica, vítimas da desertificação do interior e do fim de uma certa forma de laço social.
Para os pubs irlandeses, as dificuldades começaram em 2003, com as primeiras fiscalizações de embriaguez ao volante, que primeiramente prejudicaram os estabelecimentos localizados na zona rural. Em 2004, o país se tornou o primeiro da Europa a proibir o fumo em locais públicos. Depois, em 2006, os supermercados conseguiram o direito de vender abaixo do custo, e fizeram do álcool um produto chamariz.
“É todo um pedaço da história da Irlanda que estão matando”, lamenta, em Dublin, Padraig Cribben, presidente da Federação Irlandesa dos Taverneiros. “Com o enfraquecimento da Igreja, os pubs em alguns vilarejos são a única instituição ainda de pé”.
Até os anos 1980, o Crab Lane funcionava como mercearia, agência de correios, de emprego para trabalhadores diaristas. “Nós somos a prefeitura”, brinca John Byrne. Cada canto do pub é uma testemunha desse passado distante: os presuntos pendurados em ganchos no teto, ou o espaço onde os fazendeiros armazenavam grãos.
Há também esse livro de contabilidade de páginas desbotadas onde se pode ler que, no dia 2 de junho de 1900, um certo James Griffin Killabeg encomendou, pela soma de 9 libras, quatro caixas de uísque, três dezenas de velas e um caixão: era em uma sala conjugada que o padre celebrava os enterros. A mesma onde, até poucos anos atrás, os sete filhos de Byrne faziam o dever de casa, para fugir do barulho e do cheiro de cerveja que subiam até o apartamento do primeiro andar.
O caçula, Johnny, é um dono de pub irrequieto. Aos 28 anos, ele entrou na profissão em parte porque foi obrigado, em parte para preservar a tradição familiar. Funcionário na construção civil durante o boom imobiliário, ele foi atingido em cheio pela crise e ficou desempregado. Dos seus trinta colegas de classe da época de colégio, somente três permaneceram na Irlanda, ele explica. Agora ele ajuda seu pai no Crab Lane e tenta atrair para lá os jovens locais, sem muito sucesso.
A sala principal, aconchegante com seus sofás de tecido verde e suas paredes em vermelho claro, vai enchendo aos poucos. Os fazendeiros de Coolkenno desceram das colinas, passaram suas camisas de sábado à noite e agora conversam diante de copos que parecem ter de ficar eternamente cheios pela metade. Informam-se sobre o bezerro doente de um, a colheita de milho que se aproxima. Evitam falar de política: o referendo europeu divide opiniões, mesmo entre esses agricultores mimados pela União Europeia. Mais consensual, a final do Eurovision, no dia 29 de maio, atraiu multidões, inclusive mulheres. No tumulto das conversas e dos brindes com “pints”, Byrne parece outra pessoa, controlando tudo, falando com todos. Mas durante a semana, “The Crab” muitas vezes fica sozinho em seu pub vazio.
Em todo o vale, a constatação é a mesma: no Egan’s, cujo filho do dono se casou com uma filha de Byrne; no John F. Kenny – primos... Em toda parte, eles abrem as portas cada vez mais tarde e em toda parte se sobrevive graças aos animais e ao milho. John Byrne aos poucos tem vendido suas vacas para pagar os novos impostos cobrados por Dublin.
Na época do boom econômico dos anos 2000, os moradores da região ampliaram suas casas e as modernizaram. “Para quê vir ao pub quando você tem uma TV de plasma em casa, e a cerveja custa metade do preço no supermercado?”, resume o dono do Crab Lane.
Além disso, os conceitos mudaram: a sociedade irlandesa tem aceitado cada vez menos ver seus homens passarem todo dia no pub para beber um ou vários pints. “Viramos europeus”, resmunga Sam, um cliente fiel que, dizem, consegue beber vinte garrafas de cidra em uma noite e não participou do referendo organizado pelos “palhaços” de Dublin e de Bruxelas.
Tradutor: Lana Lim
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