Biruta de aeroporto
O real passou de uma desvalorização de cerca de 2.30% contra o dólar, em 17 de maio último, para uma desvalorização em torno de 10%. Se a moeda se mantiver nesses níveis por muito tempo ou vier a subir mais, haverá aumento das taxas inflacionárias e diminuição da sensação de bem-estar das pessoas.
Afinal, é sabido que inflação baixa e moeda forte transmitem sensação de riqueza e a prova disso está na multidão de brasileiros invadindo Miami, Nova Iorque e Europa.
O governo reclamava do real apreciado e, de repente, passou a queixar-se da desvalorização que nossa moeda sofreu. Como estava, não bastava para conter a inflação. Como está agora, os preços tendem a se tornar ainda menos controláveis.
Como estava, a ameaça de desindustrialização era iminente: dólar muito baixo, além de prejudicar o setor exportador, leva importados a concorrer vantajosamente com os produtos fabricados no território nacional. E esse é o caminho da chamada "doença holandesa": exportação de fábricas e de empregos.
Como está, empresas aumentam suas dívidas em dólar e a família, que planejara viagem barata ao exterior, vê-se obrigada a reformular o contrato ou a dele desistir.
O aumento (30%) das alíquotas de IPI para automóveis importados carrega no bojo dois grandes inconvenientes: traz de volta o atrasado protecionismo, que já fracassara sob Geisel e Delfim Netto, e arrisca gerar aumento de preços pelas montadoras aqui instaladas, à míngua de concorrência. De quebra, mais perspectiva de inflação.
O ministro Mantega parece biruta de aeroporto. Perde credibilidade no exterior e, no Brasil, ninguém do mercado leva em consideração o que ele fala.
Tanto fez que conseguiu estragar o mercado de câmbio local. As medidas recentes têm cunho meramente arrecadatório, a exemplo do IOF no recolhimento de margem em derivativos, cuja taxa, que era de 0.38%, passou a 6%. Aumentou o IOF nas captações externas de curto prazo, até 720 dias; ora, 720 dias só são curto prazo na cabeça de Guido Mantega.
Finalmente, a recente Medida Provisória 539 taxou em 1% (IOF) as posições vendidas em derivativos, criando, na realidade, uma grande confusão: até hoje não se cobrou nada, ninguém sabe direito como se iria cobrar nem quem faria a cobrança ou quando esta deveria começar. Ignora-se, inclusive, o montante devido até o momento.
Para piorar as coisas, o governo já aventa que poderá não cobrar, rebaixando a alíquota a 0%. Brincadeira de mau gosto.
Os leitores e eu entendemos? Pois consolemo-nos todos, porque Mantega e sua equipe tampouco sabem bem o que fizeram.
Tudo isso em meio à discussão sobre o aumento do limite de endividamento, o rebaixamento da nota soberana e a assustadora crise de emprego dos EUA. Tudo isso em meio à crise europeia, que provavelmente viverá desfecho doloroso.
Tempos duros virão, infelizmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário