Bola dividida
MELCHÍADES FILHO - FSP
BRASÍLIA - Seria impreciso afirmar que vai de mal a pior a relação entre o governo federal e os dirigentes de futebol envolvidos na Copa de 2014. A rigor, ela não é boa desde que Dilma Rousseff se elegeu.
Há uma disputa pelo protagonismo no evento, um tanto previsível, dadas as oportunidades oferecidas de negócios -lícitos e escusos.
Mas arrogância e incompetência de ambos os lados desembocaram num quadro de conflagração, por enquanto contido em queixas e ameaças cifradas pela imprensa.
De um lado, os cartolas fustigam o governo pela incapacidade de tocar obras necessárias e prometidas.
Mais da metade dos aeroportos do Mundial terá de se contentar com instalações provisórias e precárias. Dos planos de mobilidade urbana, 90% não saíram do papel.
A Fifa e a CBF reclamam sobretudo de tibieza da presidente. Salvador, por exemplo, uma das cidades-sede, ignorou os "ultimatos" de Dilma até convencê-la a mudar o modelo de transporte da torcida.
Tudo isso está retratado na cândida declaração da ministra do Planejamento, segundo quem os projetos de infraestrutura não seriam mais essenciais, e na bizarra sugestão de decretar feriado em dias de jogos para equacionar o trânsito.
O Planalto, por sua vez, trata com desconfiança a cartolagem.
Alguns dos pleitos são de fato absurdos. Pretenderam até deixar de lado o Código Penal para aplicar sanções mais severas à pirataria.
Pululam indícios de safadeza também. A Folha já revelou esquemas de dirigentes para beneficiar amigos e empresas nos contratos dos estádios -com verba pública.
Por fim, bater em cartola pega bem e permite repartir o ônus de eventual fracasso daqui a três anos.
É curioso que, apesar disso tudo, e da ameaça velada da Fifa de rescindir contrato e tirar a Copa do país, a coisa se encaminhe para um abraço -vitorioso ou de afogados.
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