Operação Haddad
Exemplo de Dilma vira argumento entre lulistas para apostar, em 2012, na candidatura do ministro da Educação à Prefeitura de SP
BERNARDO MELLO FRANCO - FSP
Ela também tinha perfil técnico, quase nenhuma ligação com as bases do PT e, ao ser escolhida por Lula, jamais havia disputado uma eleição.
O exemplo da presidente Dilma Rousseff, alçada ao Planalto no ano passado, virou mote dos defensores da candidatura do ministro Fernando Haddad (Educação) à Prefeitura de São Paulo.
O grupo usa a vitória de 2010 para endossar a nova aposta do ex-presidente, cujo afilhado ainda engatinha entre 1% e 2% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
Aliados da senadora Marta Suplicy, que alcança 31%, rechaçam a comparação e dizem que a receita lulista não teria o mesmo sucesso na cidade, onde o PT perde em todas as eleições desde 2004.
"A opinião do Lula conta muito, e o militante pensa nisso. Mas o militante também olha as pesquisas", disse anteontem o ex-ministro José Dirceu, resumindo o dilema que assola o partido.
A dois meses da data reservada para as prévias (27 de novembro), o ex-presidente tenta repetir com Haddad passos decisivos da operação que levou Dilma à Presidência, a começar por um curso intensivo em política.
O ministro já aprendeu a cortejar líderes locais, passou a elogiar gestões passadas do PT e exibe súbito conhecimento da burocracia partidária. No fim da semana, ele comemorava a possível adesão de mais dois vereadores, o que lhe daria o respaldo de 6 entre os 11 da bancada.
"O importante agora é conquistar apoio no PT. O treinamento para ganhar traquejo na rua virá numa segunda etapa", diz um dos articuladores escalados por Lula na fabricação do candidato.
"É um processo de construção", afirmou Haddad à Folha, na sexta-feira.
"Eu e Dilma fizemos carreira acadêmica, fomos para a administração pública para servir a um projeto político e fomos escolhidos sem ter disputado uma eleição", disse.
"Mas as realidades nacional e local são muito diferentes e exigem posturas diferentes. Em São Paulo, o cenário é muito mais complexo."
DIVISÕES INTERNAS
Lula ungiu Dilma com a máquina da CNB (Construindo um Novo Brasil), corrente que controla 60% do PT nacional. No diretório paulistano, mais fracionado, sua fatia encolhe para 32%. Haddad só terá maioria se atrair dissidentes de outros grupos.
Para isso, os lulistas martelam o argumento de que Marta larga na frente, mas teria menor chance de vitória por causa da rejeição de 30%.
"Não é porque o candidato é novo que ele vai ganhar a eleição", rebate o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara e articulador da senadora no partido.
"O exemplo da Dilma não se aplica a São Paulo. Ela era candidata da situação e foi escolhida para continuar o projeto do Lula. Aqui nós somos oposição e temos que retomar o projeto da Marta."
O retrospecto do partido na cidade é desanimador. A última vitória do PT ao Executivo foi em 2002, quando Lula teve 51% dos votos válidos. Depois disso, os petistas perderam todas as eleições para prefeito, governador e presidente.
Os aliados de Marta dizem que o histórico reduz o peso que se atribui ao ex-presidente. Os de Haddad, que reforça a necessidade de renovar a oferta de candidatos para encerrar o ciclo de derrotas. A "operação Haddad" recicla outros recursos usados com Dilma, como as aparições públicas com Lula, cada vez mais frequentes.
O ministro também dedica mais tempo à busca de aliados. Amanhã, deve adiar a volta a Brasília para ir à posse do peemedebista Paulo Skaf para novo mandato na Fiesp. O ato vai reunir políticos e doadores de campanha.
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