terça-feira, 27 de setembro de 2011

AUGUSTO NUNES

Miriam Belchior, que não sabe o que diz, virou ministra por não dizer o que sabe

Roseane Garcia estava casada com Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, quando ocupantes de um Vectra prata fuzilaram o prefeito de Campinas, que voltava para casa na direção de um Palio. Desde aquela noite de 10 de setembro de 2001, Roseane luta para saber por que ficou viúva. No começo deste mês, voltou a Brasília para reapresentar ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a mesma reivindicação que Lula e Tarso Genro ignoraram: ela pede que o caso seja investigado pela Polícia Federal.

“Tenho um trunfo”, tentou animar-se. “Desta vez vim com o inquérito reaberto. O juiz e três desembargadores admitiram que a investigação foi mal feita”. Ao contrário dos Altos Companheiros, que se esforçam para sepultar a execução do prefeito de Campinas na vala comum dos homicídios sem mandantes, a viúva de Toninho do PT entende que houve motivação política.

Em 18 de janeiro de 2002, quatro meses depois do assassinato em campinas, a Pajero que levava de volta a Santo André o prefeito Celso Daniel foi interceptada numa rua de São Paulo por sequestradores que, estranhamente, arrancaram o homem no banco de passageiros e deixaram incólume o parceiro Sérgio Gomes da Silva, vulgo Sombra. Dois dias depois, o corpo do sequestrado apareceu numa estrada de terra em Juquitiba, com numerosas perfurações a bala e marcas de tortura.

Separada de Celso Daniel depois de 10 anos de casamento, Miriam Belchior seguia convivendo com o prefeito assassinado como secretária municipal. Também convivia diariamente com o comando do esquema de arrecadação ilegal de dinheiro que envolvia figurões da prefeitura, empresários da cidade e dirigentes do PT. Mas decidiu antes do começo do velório que ficara viúva por culpa de bandidos comuns. Foi o que recitou nos depoimentos à polícia, orientada por advogados do partido e pelo companheiro Gilberto Carvalho.

Em retribuição aos serviços prestados ao PT depois do fuzilamento do ex-marido, ganhou do presidente Lula um empregão na Casa Civil ─ e, há quase nove meses, foi presenteada pela presidente Dilma Rousseff com o Ministério do Planejamento. Nesta segunda-feira, a desastrosa performance na primeira entrevista coletiva concedida em muitos anos provou que a chefe de governo encontrou a Dilma da Dilma: chama-se Miriam Belchior.

Um dos entrevistadores perguntou pelo orçamento da Copa do Mundo. “Eu desconheço qual é o valor que vai custar a Copa do Mundo no Brasil”, desconversou em dilmês rústico. “Não há nenhum estudo que diga isso”. Em linguagem inteligível: o Ministério do Planejamento não sabe quais são os planos para a festa no País do Futebol e ignora o tamanho da gastança que, como todas, será bancada pelos pagadores de impostos..

Outro jornalista lembrou a lentidão paquidérmica das obras que, como recita o governo desde 2007, deixarão as cidades incluídas no roteiro da Copa com cara de Primeiríssimo Mundo. O palavrório de Miriam conseguiu assombrar gente que já não se espanta com nada: “As obras de mobilidade urbana são legado, mas não são fundamentais”, ensinou. Fundamentais, portanto, são a reforma do Maracanã e o estádio do Corinthians.

Convidada a explicar o que devem fazer os torcedores para escapar dos congestionamentos a tempo de chegar às arquibancadas antes do apito inicial, a entrevistada rebateu de bate-pronto: “Posso decretar um feriado em São Paulo e garantir que não tenha trânsito”, exemplificou. Caso a ideia seja efetivada, o direito à gazeta coletiva terá de ser estendido a todas as sedes. Como os nativos não desperdiçam uma chance de feriadão, cada jogo provocará uma semana de folga. Tudo somado, milhões de brasileiros ficarão sem trabalhar durante um mês.

A entrevista transformou em certeza uma velha suspeita: Miriam Belchior, que não sabe o que diz, virou ministra por não dizer o que sabe.

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