Ministro das Cidades afirma que denúncias são ‘fogo amigo’
Negromonte diz que pasta é cobiçada. Ele chorou ao agradecer o apoio de políticos baianos
Biaggio Talento - A Tarde
Chico de Góis - O Globo
SALVADOR – A cerimônia de adesão de 55 prefeituras baianas ao programa Minha Casa, Minha Vida 2, realizada na manhã de desta sexta-feira na capital baiana, se transformou num ato público de desagravo e solidariedade ao ministro das Cidades, Mário Negromonte, cuja pasta está sendo alvo de denúncias de irregularidades. O ministro chegou a chorar ao agradecer o apoio de políticos baianos, durante seu discurso na sede da União das Prefeituras da Bahia (UPB). Logo depois, em entrevista, disse que não fica “de joelhos” por cargos, assegurando que pediria demissão caso venha a sentir algum tipo de desconforto por parte da presidente Dilma Rousseff em relação a ele.
Reportagem divulgada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" informa que o Ministério das Cidades fraudou um parecer para respaldar um acordo político que mudou o projeto de mobilidade na cidade. Ao invés de uma linha rápida de ônibus (BRT), a alteração permitiu, contra parecer técnico, a contratação para instalação de um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). Com isso, a obra passou a custar R$ 1,2 bilhão, R$ 700 milhões a mais que a original.
Negromonte afirmou que determinou a abertura de sindicância para apurar eventuais irregularidades em função da mudança do parecer técnico.
- Dei conhecimento a CGU (Controladoria Geral da União) e ao Ministério Público. Disponibilizei toda a documentação original - observou, ponderando que, por enquanto, não vai exonerar ninguém.
- A sindicância vai apontar se houve falha e erro do funcionário público. Não vou passar a mão na cabeça de ninguém. Eu não tinha conhecimento, não dei aval nem a doutor Cássio (Vianna, chefe de gabinete do Ministério das Cidades), que é um técnico competente, sério, honrado - declarou.
Negromonte admitiu que parte das denúncias contra ele são “fogo amigo” do próprio partido ou de partidos da base aliada com interesse no ministério.
- Só digo uma coisa: não estou preocupado em ficar ou sair, mas em exercer um bom trabalho - declarou, explicando que a pasta das Cidades é uma pasta cobiçada por conta do volume de verbas de programas importantes que administra:
- O Minha Casa Minha Vida é R$ 170 bilhões, o de saneamento básico, R$ 50 bilhões e lá a gente contraria muitos interesses. Lá não temos compromissos com erros, aqui acolá tem meia dúzia da bancada de insatisfeitos.
Segundo o ministro, existe discriminação em relação à presidente Dilma, por ser a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo do poder no Brasil, e preconceito com relação a ele, que é nordestino. Procurando demonstrar desapego ao cargo, garantiu que dá valor mesmo ao mandato de deputado federal para o qual foi eleito:
- São 170 mil pessoas aqui atrás de mim, que me dão forças para nesse momento a gente poder suplantar.
Na solenidade, Negromonte recebeu o apoio do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo (PDT), e do presidente da União das Prefeituras da Bahia e prefeito de Camaçari, Luiz Caetano (PT) .
O governador Jaques Wagner defendeu veementemente o aliado e lamentou o que chamou de ataques e acusações sem provas. Em um momento, chegou a brincar com o fato de que especulações sobre reforma ministerial sempre incluem os baianos Negromonte e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) como ministros que certamente deixarão suas respectivas pastas.
- O pessoal fica com ciúme da Bahia. Diz que a gente fez muito ministro baiano e toda hora fica dizendo que um baiano vai cair. Mas, se Deus quiser, a energia baiana vai segurar todos vocês para continuarem a trabalhando pelo Brasil e pela Bahia - disse Jaques Wagner.
O petista disse ter conversado com Dilma e ela teria assegurado “estar tudo bem” em relação a Negromonte. O próprio ministro contou ter recebido um telefonema tranquilizador do ministro Gilberto Carvalho, após a divulgação das denúncias de que um documento foi fraudado com o aval do ministro.
- Ele me disse: “olha, fica tranquilo que a presidente da República conhece todo o tramite” - relatou, assegurando não haver desvio de recursos, nem corrupção no caso.
O governador disse não reconhecer “nenhuma instituição, um código de ética, presumivelmente melhor do que a dos políticos”. E exortou mudanças para separar o joio do trigo:
- Se a política não está bem, vamos melhorar a política, melhorar os partidos políticos, mudar a lei, fazer coisas que melhorem a política. Agora não adianta ficar jogando pedra na política porque a sociedade sem política é ditadura. Não me parece que ninguém concorde com a ditadura.
Michel Temer nega interferência em suposta fraude nas Cidades
A assessoria do vice-presidente Michel Temer, que chegou na quinta-feira ao Brasil depois de uma viagem oficial ao Líbano, divulgou nota na qual nega sua interferência no processo que resultou na mudança de projeto de mobilidade em Cuiabá, uma das cidades-sedes da Copa de 2014. De acordo com a denúncia, para viabilizar seu projeto, o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), procurou Temer, Negromonte e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. E conseguiu a alteração.
Na nota, Temer informa que não recebeu "qualquer pedido do governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, para interferir em processo de mobilidade urbana do Ministério das Cidades para a Copa do Mundo de 2014, ou em relação à aprovação do Ministério do Planejamento dessas mudanças". Ainda segundo a nota, no dia 9 de agosto, quando Temer recebeu o governador em audiência, o assunto tratado foi a questão de créditos da Lei Kandir em razão de exportação de produtos agrícolas no estado. "Não trataram de outros assuntos", diz a nota.
O Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) instaurou investigação na quinta-feira para apurar suposta fraude na nota técnica do ministério comandado por Mário Negromonte. Segundo o MPF-DF, o objetivo é apurar possível prática de improbidade administrativa por gestores da pasta.
Oposição quer que TCU investigue fraudes
O PPS protocolou também na quinta-feira na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara um pedido para que o Tribunal de Contas da União (TCU) apure a denúncia.
- Somente nesse caso já vemos indícios de irregularidades que envolvem R$ 1,2 bilhão. Queremos uma apuração rigorosa para que não se repita o que aconteceu nos jogos Pan-Americanos, quando o próprio TCU apontou um festival de superfaturamentos e desvios de dinheiro público - afirmou o líder do PPS, deputado federal Rubens Bueno (PR).
O pedido do PPS precisa ser aprovado pela comissão da Câmara para que o TCU inicie a apuração do caso.
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