Governo Obama amplia recurso a assassinatos dirigidos no Iêmen, mas mantém sigilo sobre operações
Sylvain Cypel - Le Monde
A Casa Branca deu sinal verde a um uso mais extensivo de assassinatos dirigidos no Iêmen de pessoas suspeitas ou de pertencerem à Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), ou de "conspirarem contra a segurança" dos Estados Unidos, confirmaram vários membros da administração Obama, anonimamente, na última quinta-feira (26).
No mesmo dia, três supostos membros da organização fundada por Osama Bin Laden foram mortos por um tiro de míssil na cidade iemenita de Mudyiah. Depois da explosão, os habitantes, de acordo com a agência Reuters, declararam ter visto dois aviões não-tripulados se afastando. Na terça-feira (24), Mohammed Said al-Umda, suspeito pelos serviços americanos de ser um coordenador operacional da AQPA – o que especialistas contestaram nos Estados Unidos – foi morto por um foguete atirado de um avião não-tripulado na província do Marib (centro).
O reconhecimento dessa escalada na guerra secreta conduzida no Iêmen contra os insurgentes jihadistas vem confirmar aquilo que os números já mostravam: houve dez operações desse tipo durante os quatro primeiros meses do ano, ou seja, mais do que em 2011 inteiro. Os estrategistas do governo justificam o aumento desses ataques com a ascensão constatada das forças da AQPA no Iêmen do Sul, e pelo temor de que elas estejam criando ali um santuário".
John Brennan, assessor em contraterrorismo de Barack Obama, considerou recentemente que a Al-Qaeda havia conseguido reunir ali mais de mil homens. Os termos "Iêmen do Sul" são enganosos: as províncias envolvidas podem até incluir aquelas situadas em torno de Aden, mas elas sobem até o nordeste, na imensa região desértica de Hadramaut.
Ao contrário do que tem acontecido dos dois lados da fronteira afegã-paquistanesa, onde o exército americano tem o controle do uso dos tiros de foguete a partir de aviões não-tripulados, no Iêmen, a CIA, que abriu em 2011 uma base secreta na Península Arábica, também conseguiu realizá-los ali, ao lado de comandos militares especiais do Joint Special Operations Command (JSOC). Foi a CIA que teria pressionado a Casa Branca para acelerar o uso desse método. Inicialmente reticente, esta acabou cedendo.
Principal mudança, que "amplia a manobra" de intervenção, para usar os termos de um oficial: até agora, as forças americanas, depois de terem obtido a autorização no mais alto escalão, realizavam "personality strikes", ataques contra membros identificados da Al-Qaeda. Exemplo: o "extermínio", no dia 30 de setembro de 2011, do imame radical americano-iemenita Anwar al-Awlaki, considerado em Washington como uma figura eminente. Agora, elas também são autorizadas a realizar aquilo que a CIA chama de "signature strikes", ou ataques por indícios. Pessoas cujos nomes a CIA pode nem mesmo conhecer, mas cujo comportamento indica a adesão à AQPA, ou então cuja atitude parece ameaçadora aos interesses americanos.
A agência de inteligência garante dispor hoje de meios humanos e tecnológicos capazes de identificar esse tipo de "alvo" com pouquíssimos riscos de erro. Seus detratores condenam essa certeza: em um país onde todo mundo está armado, como julgar, por exemplo, o objetivo de um "transporte de armas", caso já invocado para justificar um "ataque dirigido" por indícios?
Para Andrea Prasow, que acompanha esse caso para a associação Human Rights Watch (HRW), "o mais frustrante é que a administração Obama mantém uma total falta de transparência. Ela nunca definiu o quadro jurídico dessas operações: quais são legais para ela, e quais são proibidas? A cada pedido de informação, a CIA alega segredo. A opinião pública americana tem direito de saber o que está sendo feito em seu nome. A legitimidade de um assassinato dirigido deve ser demonstrável e o impacto sobre as populações civis, conhecido", ela diz.
Entre as críticas políticas que surgiram nos Estados Unidos e que deverão ser reforçadas após essa virada, a primeira acredita que se a AQPA proliferou em dois anos no Iêmen, não foi a despeito dos ataques dirigidos usados pelos americanos, mas em grande parte por causa da raiva que eles despertam entre as populações tribais.
Esses assassinatos, muitas vezes conduzidos em zonas onde ninguém tem acesso, causariam bem mais vítimas do que a CIA quer admitir.
Além disso, há parlamentares que acreditam que essa guerra tácita não pode ser conduzida sem o aval do Congresso, a quem a Casa Branca nunca pediu uma votação. Os aviões não-tripulados, uma tecnologia "que estende a última barreira antes da guerra" evitando qualquer risco de perda humana no campo que a utiliza, constituiriam assim um risco para a democracia", considerou recentemente Peter Singer, diretor da iniciativa de defesa para o século 21 na instituição Brookings de Washington.
Dessa preocupação nasce o maior temor: que, ao se abrir insidiosamente um novo front, Obama acabe arrastando seu país para dentro de um novo conflito.
Tradutor: Lana Lim
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