segunda-feira, 30 de abril de 2012

MIGRAÇÃO ALEMÃ É MAU SINAL

Alemães que partiram para o Ocidente começam a voltar para o Oriente
Maximilian Popp - Der Spiegel
Desde a reunificação, as pessoas vêm abandonando a Alemanha Oriental em busca de empregos e de uma vida melhor no Ocidente. Mas muitas agora estão voltando para casa. A saudade de casa é uma das razões para o retorno, mas melhorias no mercado de trabalho e na qualidade de vida também são atrativos.
À primeira vista, parece um passo atrás. Sebastian Müller, em 2010, era engenheiro da fabricante de carros alemã Audi, tinha um apartamento em Munique e um salário anual de US$ 56.000 euros (em torno de R$ 140.000). Ele se mudou de volta para Leste, para a região de Oberlausitz, onde agora trabalha para um fornecedor de autopeças. Ele ganha menos, está longe dos jogos de futebol profissionais e, em vez de frequentar o Teatro do Estado da Baviera em Munique, ele agora precisa se virar com apresentações de bonecos.
Mas Müller, 30, foi para o Leste por vontade própria. Ele fez as malas e mudou-se de volta para o lugar do qual fugiu quando era estudante.
Müller encontrou seu atual emprego na cidade de Grosspostwitz por meio de um anúncio online divulgado pela Câmara de Indústria e Comércio da Saxônia. "Estou mais satisfeito do que jamais estive na Alemanha Ocidental", diz ele.
"O lugar errado para mim"
Por um longo tempo, a migração na Alemanha tinha praticamente uma direção: do antigo Leste comunista para o mais próspero Oeste. Os Estados da antiga Alemanha Oriental, chamados de "novos Estados alemães" desde a reunificação, perderam mais de 2 milhões de pessoas para os Estados antigos desde 1990. A tendência, porém, está começando a se reverter, ao menos em algumas regiões. Os alemães orientais estão voltando para casa.
No ano passado, pela primeira vez desde 1997, mais pessoas se mudaram para a Saxônia do que as que saíram do Estado. Berlim e Brandenburgo também estão tendo migração líquida positiva. E apesar de a Turíngia ainda estar perdendo mais moradores do que recebe, relata que mais pessoas se mudaram para o Estado em 2011 do que em qualquer momento dos últimos 15 anos.
Não são apenas os estudantes fugindo das altas tarifas universitárias ou aposentados do Ocidente investindo suas poupanças em imóveis da Alemanha Oriental. O maior grupo de migrantes hoje são pessoas voltando para o Leste. De acordo com cálculos do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW Berlin), elas perfazem metade dos migrantes que vão do Oeste para o Leste. "Notamos uma forte tendência ao retorno", diz Alexander Kubis do Instituto de Pesquisa em Emprego de Nuremberg (IAB).
Os motivos variam. No caso de Sebastian Müller, foi saudade de casa. Durante todos os seus estudos, sua meta era fazer carreira no Oeste, e ele se inscreveu para fazer estágios na Baviera enquanto ainda estudava na Universidade de Ciências Aplicadas de Zwickau. Após se graduar, no outono de 2007, ele encontrou o emprego de seus sonhos na Audi de Ingolstadt, perto de Munique.
Contudo, logo compreendeu que o Oeste não era o que ele imaginava. Sua namorada tinha ido com ele, e também encontrou um emprego em Munique, mas o aluguel do apartamento na capital da Baviera comia quase metade de todo o salário dele. Ele teve dificuldades em fazer amigos na nova cidade e também se sentiu perdido na multidão no trabalho. Quando Müller ia para casa para os eventos de família, se surpreendia em ver o quanto tinha mudado. Havia novas construções e novos empregos. "Subitamente, tive a sensação que Munique era o lugar errado para mim", diz ele.
"Pequeno milagre econômico" do Leste
Müller provavelmente não teria se sentido assim se não fosse pelo progresso econômico do Leste. A Saxônia e a Turíngia viram as maiores quedas no índice de desemprego entre os 16 Estados alemães no ano passado, e o desemprego também caiu nos Estados de Mecklenburgo Pomerânia Ocidental, Berlim e Brandenburgo. É claro que essas estatísticas são sempre relativas, pois o desemprego no Leste é mais que o dobro do Oeste. Mas na Saxônia, a densidade de emprego já está mais alta do que nos Estados ocidentais de Baixa Saxônia e Renânia Palatinado.
Há poucos anos, os novos Estados mantinham agências para promover a emigração, temendo que pessoas demais só levariam a um maior índice de desemprego. Na época, os Estados Orientais achavam que poderiam encolher para ter maior saúde econômica. Hoje, há demanda por especialistas, e as empresas estão cortejando os candidatos. "Atualmente, ninguém é forçado a deixar nosso Estado em busca de uma vaga de trainee", diz o governador de Brandenburgo, Matthias Platzeck.
Segundo a Iniciativa da Nova Economia de Mercado Social, que acompanha as mudanças dos principais dados econômicos entre 2006 e 2010, todos os novos Estados estão nos primeiros lugares. As crises estruturais -tais como a recente falência da empresa solar Q-Cells- foram golpes para algumas cidades e regiões. Mas Ulrich Blum, professor de economia da Universidade de Halle, ainda espera desdobramentos positivos e estima que, até 2020, a força econômica da Alemanha Oriental atinja 90% do nível ocidental. O ministro de defesa alemão, Thomas de Maizière, cujo distrito eleitoral está em Meissen, na Saxônia, já está falando sobre o "pequeno milagre econômico" do Leste.
Melhorias em casa
Ainda assim, a recuperação econômica e as melhorias no mercado de trabalho por si só não podem explicar a tendência das pessoas mudarem de volta para o Leste. Joachim Ragnitz, diretor da filial de Dresden do instituto de economia Ifo, acredita que a desilusão com o Oeste é pelo menos tão importante quanto o renascimento do Leste. Apesar da renda média no Oeste ainda ser 25% mais alta do que no Leste, a diferença diminui quando se fatora os alugueis e o custo de vida. Quando os alemães orientais voltam para casa, isso também se deve às esperanças despedaçadas.
E mais, algumas das cidades para as quais os emigrados estão retornando estão começando a se comparar com o Oeste. Em termos de desenvolvimento econômico, as cidades da Alemanha Oriental como Jena e Dresden já superaram algumas cidades altamente endividadas do Oeste, tais como Bremen e Duisburg. E o fato que tantos centros históricos no Leste terem sido restaurados fez com que vários prefeitos do Estado da Renânia do Norte-Vestfália iniciassem novo debate sobre o Pacto de Solidariedade, pelo qual o Oeste enviou dezenas de bilhões em transferências para o Leste desde a reunificação para ajudar a reforçar a economia e a infraestrutura.
Kubis, o economista do IAB, calculou que dois terços dos que saíram dos Estados orientais estão pensando em voltar. Muitos sempre quiseram voltar, acrescenta Anke Matuschewski, professora de geografia econômica na Universidade de Bayreuth, que entrevistou pessoas que voltaram da Saxônia e de Mecklenburgo Pomerânia Ocidental, em um projeto de pesquisa. Mas ela conclui que eles só pensam seriamente voltar para o Leste quando as condições econômicas melhoram.
Desbancando estereótipos
Matuschewski tentou detectar padrões na migração do Oeste para o Leste. De acordo com suas pesquisas, os que voltam, em geral, são homens de 30 a 35 anos. Eles agora moram em cidades como Jena ou Leipzig, que estão se beneficiando com a entrada de pessoas, enquanto a população rural continua a encolher. O migrante típico já completou seus estudos e treinamento e iniciou sua carreira, trabalhando como especialista em uma empresa de pequeno ou médio porte ou fazendo pesquisa universitária.
Outros estudos também desbancam os estereótipos que as pessoas que voltam para o Leste são primariamente as que fracassaram no Oeste. De fato, um número acima da média de graduados está disposto a voltar para o Leste.
Entre eles, está Jens Thiele, que é da Saxônia e trabalhou para a farmacêutica Pfizer na cidade de Freiburg por oito anos antes de se mudar para Dresden, no verão passado. Com 34 anos, o engenheiro de produção diz que estava ansioso por novos desafios e que o Leste lhe parecia mais dinâmico do que o Oeste. Thiele conseguiu um emprego na GlaxoSmithKline, competidora da Pfizer.
Governadores da Alemanha Oriental, tais como Stanislaw Tillich, da Saxônia, veem a tendência de reversão como resultado de suas políticas bem sucedidas. "Nos últimos anos, criamos estruturas modernas e sustentáveis", disse Tillich, acrescentando que a Saxônia atrai pessoas de toda a Alemanha.
"As pessoas no Leste estão se orientando para o futuro", diz o especialista em software Dirk Weckerlei, 31, que se mudou de volta para a Turíngia em 2009 para estar mais próximo à família, após passar dois anos na cidade de Osnabrück, no Noroeste.
Outra característica dos que retornam é que querem profissões compatíveis com sua vida pessoal e estão dispostos a aceitar salários menores em troca. Também há muitas jovens famílias. Elas valorizam a ampla gama de oportunidades para as crianças no Leste, onde também é mais fácil de encontrar vaga nas creches.
"Precisamos de vocês em casa"
Aqueles que voltam também são valiosos para as empresas orientais. Eles aliviam a falta de especialistas, conhecem a região e a mentalidade das pessoas e também reuniram experiência de trabalho nos Estados ocidentais. Johannes Miunske, proprietário da fornecedora de autopeças que contratou Müller, o ex-engenheiro da Audi, especificou em seu anúncio na Internet que estava procurando engenheiros que fossem originalmente da Alemanha Oriental. "Somos uma empresa de médio porte na Saxônia, e não podemos atingir as expectativas de salário dos ocidentais", diz ele, que sabe que aqueles que voltam têm laços com a região e não vão partir em busca de um novo emprego após poucos anos.
Os políticos também reconheceram o potencial dos filhos e filhas perdidos do Leste. Todos os novos Estados mantêm agências de apoio aos que retornam, algumas das quais têm nomes como "saxões voltam para casa". Nos próximos anos, essas iniciativas serão críticas para a sobrevivência dos novos Estados, diz Hans-Liudger Dienel, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Universidade Técnica de Berlim. É a única forma que tem para segurar os seus trabalhadores na competição nacional por especialistas.
Alguns dos esforços de recrutamento são admitidamente um pouco estranhos. Por exemplo, a cidade de Magdeburg enviou "caixas de casa" de pão crocante para 1.000 pessoas na Alemanha que deixaram a região. No ano passado, Sven Morlock, ministro da economia da Saxônia, distribuiu bolo para os passantes em um posto na estrada.
O governador da Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff, recentemente embarcou em uma viagem pela Alemanha Ocidental. No meio de abril, ele recebeu um grupo em um restaurante em Stuttgart, onde ele distribuiu panfletos, chaveiros e canecas para uma dúzia de ex-moradores de seu Estado. Haseloff discursou sobre os empregos que estão sendo criados em seu Estado. "Precisamos de vocês em casa", disse ele. "Não esquecemos de vocês".
Haseloff considerou a noite um sucesso. Ele planeja viajar para a Renânia do Norte-Vesfália em seguida.
Tradutor: Deborah Weinberg

Um comentário:

anon, xxi disse...

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