terça-feira, 24 de abril de 2012

FREAKONOMICS: ABUNDANCE

Padrão de vida da humanidade será impulsionado por quatro forças, apontam autores de "Abundance"
Stephen J. Dubner - Freakonomics
"Abundance: The Future Is Better Than You Think", de Peter Diamandis e Steven Kotler
"Abundance: The Future Is Better Than You Think", de Peter Diamandis e Steven Kotler
Nós solicitamos recentemente aos leitores, em nosso blog "Freakonomics", perguntas para Peter Diamandis, fundador e presidente executivo da X Prize Foundation, e para o jornalista Steven Kotler. Eles são coautores do novo livro "Abundance: The Future Is Better Than You Think". Abaixo estão algumas das respostas deles. Entre os assuntos fascinantes, os autores discutem as quatro forças que melhorarão enormemente o padrão de vida da humanidade nas próximas décadas. Obrigado a todos por participarem.
P.: Como vocês chegaram à arte da capa do livro? Ela é muito chamativa –apesar de não estar obviamente relacionada ao tema.
R.: Na verdade, a capa está diretamente relacionada à mensagem do livro. O livro é "envolto" em uma folha de alumínio e "Abundance" começa com a história do alumínio. De forma resumida, durante o início dos anos 1800, o alumínio era considerado o metal mais valioso do mundo. Esse é o motivo para a ponta do Monumento a Washington ser feita de alumínio, e o motivo para Napoleão 3º ter dado um banquete ao rei do Sião, onde os convidados de honra receberam utensílios feitos de alumínio, enquanto todos os demais tinham que se contentar com ouro.
Depois do oxigênio e do silício, o alumínio é o terceiro elemento mais abundante na crosta terrestre, correspondendo a 8,3% do peso do mundo. Mas o alumínio está firmemente ligado a um material argiloso chamado bauxita. Apesar de a bauxita ser 52% alumínio, a separação do minério de metal puro era uma tarefa complexa e difícil. Mas a criação, em 1886, de uma nova tecnologia conhecida como eletrólise –descoberta de modo independente e quase simultaneamente naquele ano por Charles Martin Hall, um químico americano, e Paul Heroult, um francês– mudou tudo. O processo Hall-Heroult, como atualmente é conhecido, usa a eletricidade para liberar o alumínio da bauxita. De repente, todo mundo no planeta passou a ter acesso a quantidades abundantes de metal barato, leve e maleável. Hoje, o alumínio é barato e ubíquo.
O sentido é este: sob o prisma da tecnologia, poucos recursos são realmente escassos; eles são apenas incessíveis. Mas a ameaça de escassez ainda domina nosso mundo. A quantidade de energia solar que atinge nossa atmosfera foi estabelecida em 174 petawatts, com uma margem de erro de 3,5% para mais ou para menos. Do total desse fluxo solar, aproximadamente metade atinge a superfície da Terra. Como a humanidade consome atualmente cerca de 16 terawatts por ano (segundo números de 2008), há aproximadamente 5 mil vezes mais energia solar atingindo a superfície do planeta do que usamos a cada ano. Novamente, não é uma questão de escassez –é uma questão de acessibilidade.
Veja outro exemplo: a água. A Terra é um planeta de água: oceanos cobrem 70% do globo. Mas 97.3% de toda a água deste planeta é água salgada. E se, da mesma forma que a eletrólise foi desenvolvida para facilitar a transformação da bauxita em alumínio, uma nova tecnologia fosse criada capaz de dessalinizar apenas uma minúscula fração de nossos oceanos?
P.: Se vivemos em uma época de abundância, por que temos desemprego? E por que ainda estamos usando dinheiro?
R.: O argumento que apresentamos no livro é que por causa de quatro forças emergentes, a humanidade agora conta com a capacidade de melhorar significativamente os padrões de vida em todo o mundo ao longo das duas ou três próximas décadas. Quando falamos em "abundância", nós não falamos em fornecer a todos uma vida de luxo –nós falamos em atender e ultrapassar as necessidades básicas de cada homem, mulher e criança no planeta.
P.: E quais são essas quatro forças?
R.: Tecnologias Exponenciais: ao longo das últimas duas décadas, pesquisadores concluíram que a tecnologia de informação está avançando segundo uma curva de crescimento exponencial. Esse é o motivo para o celular em seu bolso ser tão poderoso quanto um supercomputador de meados dos anos 70, mas mesmo assim você o comprou por uma fração minúscula do custo. Além da tecnologia de informação, as forças exponenciais também atuam em outras áreas, incluindo sistemas de computação e rede, inteligência artificial, robótica, biotecnologia, bioinformática, nanotecnologia, interfaces homem-máquina e muito mais. Essas tecnologias em breve permitirão à maioria da humanidade experimentar o que apenas os ricos têm acesso no momento. Em "Abundance", nós examinamos como as tecnologias exponenciais estão sendo usadas (e podem ser usadas) para fornecer para 7 bilhões de pessoas água limpa, alimentos nutritivos, moradias a preço acessível, educação personalizada, atendimento médico de alto nível, energia não poluente ubíqua.
Inovadores 'Face Você Mesmo': os inovadores "faça você mesmo" são indivíduos e pequenos grupos empoderados pelas tecnologias exponenciais e movidos pelo desejo de lidar com os maiores desafios da humanidade. Como exploramos no livro, esses grupos agora contam com capacidade para lidar com problemas que antes eram de domínio exclusivo de governos, grandes corporações e organizações não governamentais. Como resultado, nós estamos na dianteira de uma revolução "faça você mesmo" como nunca antes vista no mundo.
Tecnofilantropos: hoje existem mais de 1.400 bilionários e 93 mil de indivíduos com "patrimônio líquido ultra-alto" no mundo. Muitos deles são empreendedores jovens, socialmente conscientes, que ganharam dinheiro com tecnologia e agora estão interessados em usá-lo para erradicar alguns dos maiores problemas do mundo. Bill Gates da Microsoft está combatendo a malária, Jeff Skoll e Pierre Omidyar do eBay estão fazendo uma cruzada contra as pandemias e promovendo a disseminação da democracia –e há muitos, muitos mais. Nós chamamos esses indivíduos de "tecnofilantropos".
Bilhão em Ascensão: essas são as pessoas mais pobres do planeta, o chamado "bilhão de baixo". Nós rebatizamos esse grupo de "bilhão em ascensão", porque, graças à disseminação exponencial das tecnologias de comunicação e informação (como o telefone inteligente), essas pessoas estão ingressando online pela primeira vez. As vozes delas, que nunca foram ouvidas antes, estão repentinamente se juntando à conversa global. Com auxílio da tecnologia, o bilhão em ascensão está começando a sair da pobreza. Essas pessoas já estão a caminho de se tornarem consumidores poderosos, e muitas empresas estão correndo para desenvolver produtos de custo ultrabaixo para atender as necessidades delas. Esse esforço promoverá uma queda nos preços de bens e serviços básicos que aumentarão a riqueza geral do planeta.
* Stephen J. Dubner é coautor, com Steven D. Levitt, de "Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo Que Nos Afeta" e "Superfreakonomics: O Lado Oculto do Dia a Dia". Para mais a respeito de Freakonomics, visite o site Freakonomics.com.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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