domingo, 29 de abril de 2012

VOMITARAM NO TREM...

Possível proibição de bebida impedirá festas nos trens de Berlim
Andreas Wassermann - Der Spiegel
O transporte público em Berlim e outras cidades alemãs costuma ser o local de festas espontâneas durante o final de semana, mas nem todos os passageiros querem viajar ao lado de bêbados com cerveja na mão. Agora, muitas cidades querem impor proibições ao álcool nos transportes públicos – mas seus esforços estão sendo bloqueados pela Deutsche Bahn e outras fornecedoras de serviços que não querem arcar com o custo disso.
É lotado e barulhento – e não falta bebida. Nas noites de final de semana, o bonde M10 de Berlim se transforma num bonde de festa.
Cerveja, vinho e vodka giram pelo bonde enquanto os passageiros se beijam, fumam, cantam e dançam. O lugar cheira a Red Bull e vômito. A linha leva e traz passageiros de clubes populares, como o Berhain e Watergate, que ficam no extremo leste da linha no bairro de Friedrichshain-Kreuzberg em Berlim.
Até recentemente, quase não havia queixas sobre esta discoteca sobre trilhos. Mas agora há uma resistência cada vez maior a essas festas em transportes públicos. Por exemplo, a União Policial Alemã (DpolG) reclamou recentemente que "cantar e gritar" transformam o trajeto numa "viagem de horror" para os outros passageiros. Agora, as companhias de transporte e especialistas acadêmicos discutem a necessidade crescente de segurança para os passageiros.
As associações de transporte e o DStGB, uma associação de cidades e municípios alemães, pedem para que os legisladores façam alguma coisa. Eles querem que a bebida seja proibida em todos os sistemas de transporte de massa, como foi durante alguns meses em Hamburgo e Munique, a segunda e terceira maiores cidades alemãs.
"A qualidade da experiência no sistema de transporte público local foi muito prejudicada", escreveu Hans-Werner Franz, chefe do VBB, a autoridade de transporte público para Berlim e Brandemburgo, numa carta ao ministro de Interior alemão Hans-Peter Friedrich. Franz está pedindo uma "base legal para uma proibição nacional sobre a venda e consumo de álcool nas dependências e veículos do sistema público de transportes."
Uma proibição como esta reduziria as festas espontâneas no sistema de metrô de Berlim bem como as viagens de trem encharcadas de cerveja para os jogos de futebol – embora nem todos os frequentadores de festas e torcedores de futebol concordem que isso necessariamente levará a uma melhoria na "qualidade da experiência" do transporte público.
Mas isso não diz respeito apenas à bebedeira inofensiva. Os proponentes da proibição esperam também reduzir casos de brigas nas plataformas dos trens. O álcool continua desempenhando um papel importante nas brigas que acontecem nos trens, algumas das quais terminam em morte.
Preocupações da companhia
A proibição proposta não é apenas controversa entre os passageiros. Os fornecedores de transporte também estão preocupados em relação à sua implementação. As frentes nessa batalha foram delimitadas com firmeza, assim como aconteceu no debate de anos pela proibição do fumo.
A parte que seria mais afetada é a Deutsche Bahn (DB), companhia ferroviária estatal que também é a líder do mercado de tráfego ferroviário no país. Para implementar a proibição sobre o álcool no sistema ferroviário de Hamburgo, a companhia teve que contratar mais 50 funcionários de segurança e gastar cerca de 1,5 milhão de euros por ano. Se a companhia fosse obrigada a fazer o mesmo em toda a Alemanha, cálculos internos colocam os custos anuais em mais de 100 milhões de euros.
Pior ainda para a companhia é a ideia de como a proibição se estenderia para todos os trens e estações do país. Se isso acontecesse, colocaria um fim àquela taça de vinho branco no vagão restaurante, os bares das estações não poderiam mais servir cerveja e os quiosques teriam que reduzir sua oferta de bebidas.
Dadas as circunstâncias, executivos da Deutsche Bahn estão buscando uma forma de driblar uma possível proibição. Como operadoras do sistema ferroviário livre de álcool de Hamburgo e Munique, elas devem pelo menos apoiar oficialmente as regulações restritivas. Mas, atrás de portas fechadas, estão buscando argumentos contra quaisquer esforços que possam aumentar seus custos.
Passando a responsabilidade
Ainda assim, a maioria dos usuários provavelmente gostaria que o álcool fosse proibido. Numa pesquisa feita por telefone em Hamburgo em janeiro, mais de 80% dos passageiros recebeu bem a nova política da autoridade de transporte de Hamburgo. Um terço deles disse que já perceberam melhorias, e 8% disseram que agora pretendem usar o transporte público local com mais frequência.
Entretanto, defensores da proibição até agora encontraram pouco apoio em outros lugares. O ministro de Interior de Berlim Frank Henkel, membro da União Democrática Cristã (CDU), de centro-direita, viu seus esforços para lançar uma iniciativa semelhante em Berlim naufragarem depois de enfrentar resistência entre seus colegas democratas (o CDU e o SPD governam juntos a cidade-estado numa "grande coalizão"). Da mesma forma, Friedrich, ministro de interior da Alemanha, deu uma resposta morna à carta de VBB, escrevendo apenas que "não estão planejadas" regulações nacionais.
O ministro de Transporte da Alemanha Peter Ramsauer e seus colegas em nível estadual também se mostraram relutantes em relação ao assunto. É verdade que eles já reconheceram que uma proibição pode ter efeitos positivos sobre "a sensação de segurança dos passageiros". Entretanto, eles evitam o assunto alegando que uma proibição nacional "não seria prática". Além disso, eles observam que especialistas ainda precisam avaliar o resultado das proibições em Hamburgo e Munique.
Enquanto isso, a Deutsche Bahn prefere outra solução. Em vez de fazer com que os legisladores imponham uma proibição sobre o álcool, os executivos da filial de Berlim da companhia prefeririam que os legisladores declarassem que importunar outros passageiros é uma contravenção penal. Isso faria com que a fiscalização fosse responsabilidade da polícia federal – e, portanto, não envolveria nenhum custo adicional para a companhia.
Tradutor: Eloise De Vylder

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